por Benjamin Teixeira.

Entristecido com múltiplas sobrecargas e problemas relacionados ao trabalho ingente que me foi confiado, vi-me sem condições de ouvir ou contactar mediunicamente Eugênia, a doce mentora espiritual, sem vibração suficiente para alcançar sua elevada freqüência mental. Nestas ocasiões, costumo ouvir os mentores masculinos do projeto, mais lógicos, objetivos, diretos.

– Há algo inacabado, Benjamin – disse-me ele… o anjo bom que surgiu em meu socorro.
– Como assim? O que pretende dizer?

Conhecedor de psicologia avançada, como se fizesse uma sessão de terapia comigo, ele então rabiscou alguma coisa numa folha em branco e me mostrou.

– O que você interpreta disso?

Expus um conjunto de leituras simbólicas dos rabiscos e, por fim, concluí:

– A Luz Divina é a saída e a resposta. É o que diz seu estudo místico… – respondi, pouco crente naquela ordem de tratamento.
– E o que você acha que deve ser feito com essa mensagem?
– Buscar a Luz Divina.
– Você está desconectado.
– Realmente, não consegui fazer minhas preces direito hoje.
– Não vou sair enquanto não fizé-las.
– Tudo bem. Você vai me acompanhar?
– Sim.
– Vou apagar a luz para se concentrar melhor.
– Sem problema.

E, após eu desligar o interruptor, ouvi-o ainda perguntar:

– Quanto tempo vai ficar concentrado?
– Trinta minutos. Está bom p’ra você?
– Sim – foi a resposta lacônica.

Concentrei-me, com dificuldade, por causa de meu estado emocional deplorável, mas consegui fazer minha meditação-oracional, focando a imagem da Luz Divina, Infinita Bondade, com o apoio emocional do bom espírito à minha frente, que podia divisar, volta-e-meia, como um vulto masculino sentado na cadeira em frente à minha cama. No meio do transe oracional, uma estranha sensação de prurido acometeu-me o pulmão esquerdo, como se ele se encharcasse de líquidos. Tentei conter, mas não consegui; e, por algumas vezes, permiti-me acessos de tosse. Era já o trabalho curativo em andamento, fazendo-me expelir energias deletérias, que intoxicavam meu sistema holossomático(*1).

– Terminei – falei ao anjo, após trinta minutos de concentração.
– Como se sente?
– Melhor.
– O que você percebeu?
– Que estou muito só, cansado. Sinto enorme satisfação d’alma em socorrer as pessoas, orientá-las e promover-lhes a felicidade: isto é minha vida, minha alma, não faria outra coisa. Mas ando esgotado. Meu lado humano descompensado…

Foi quando ele se aproximou de mim, tomou minhas mãos nas suas e disse-me:

– Acompanhei toda a sua visualização. Estivemos, na minha versão da experiência psíquica, por meio de uma “imaginação ativa” (*2), juntos, abraçados, no meio de um deserto escaldante, sob trovoadas, depois despencando para um mar de águas revoltas, e nós dois continuávamos abraçados, num pequeno barco, seguros por estarmos um com o outro, e esperei que você conseguisse se reconectar a Deus: era a sua parte a fazer. Então, vi que o problema era haver o perigo e o medo de nos afastarmos um do outro. Foi quando, então, dei-lhe algemas, algemas de ouro, e nos prendemos um ao outro. E… com isso, você sorriu, e a Luz Divina surgiu… Agora, estou aqui, e quero que me ouça bem. Está me ouvindo?
– Sim.
– Feche seus olhos.

Curioso o bom anjo me pedir isso, porque já estávamos no escuro e ele ainda pedia para eu fechar os olhos. Mas a idéia era de eu me concentrar mais ainda em suas palavras.

– Eu o amo, ouviu bem? Eu amo muito você. Estou aqui. Não vou abandoná-lo, por motivo nenhum. Está ouvindo bem o que estou dizendo? Estamos algemados um ao outro, por algemas de ouro, algemas de luz, algemas de amor… uma aliança sagrada que nunca se romperá. Não tenha medo. Nada vai nos apartar um do outro, e, jungidos um ao outro, chegaremos a Deus. Não vou deixar que se afaste de Deus.

A fala do anjo partia do mais fundo de seu coração. Não eram palavras atiradas ao vento, como se costuma falar o batido e superficial “I love you” hollywoodiano. Eram verdades eternas, partindo de sua alma e atingindo em cheio a minha. Verdades de seu espírito nobre e valoroso, que eu conhecia de há muito tempo… de lembranças nebulosas, perdidas na poeira escura dos séculos… e de quem tinha e tenho enorme saudade…

Eu chorava em bagas grossas de lágrimas, reclinando a cabeça sobre seu ombro amigo. E ele também repousava a cabeça sobre o meu ombro, igualmente comovido, também ele vertendo silenciosas lágrimas, deixando entrever a sua contraparte de saudade para comigo. Chorei em paz, por vários segundos, enquanto o ouvia repetir, diversas vezes, em voz abafada, serena, mas firme, que me amava. Fundamente tocado, pude ainda dizer a ele, que me aguardava alguma confidência:

– Sei que me compreende e muito me conforta seu amor, mas você não está aqui, do meu lado. Então… ouvi-lo e senti-lo é padecer no paraíso, querido espírito, gêmeo do meu.
– Sim, somos gêmeos pelo espírito… Não se preocupe – finalizou – Vou tomar conta de você, sempre. Guarde bem minhas palavras, para quando sairmos dessa forma especial de comunicação. Lembre-se sempre delas. Você poderá contar comigo sempre!, sempre!, para o que for, está bem?

Acendi a luz do meu quarto, olhos inchados e vermelhos. Fui para a sala, contemplei o vazio do meu apartamento, e recolhi-me, em seguida, novamente, à solidão do meu quarto. E, de mim para comigo mesmo, pensei: Um dia, poderemos dizer coisas profundas assim aos nossos amigos, irmãos e cônjuges, sem que seja preciso apagar as luzes ou estar ausentes fisicamente. Um dia, quem fala coisas de amor, verdadeiramente, sem fazer “jogos de amor e ciúme”, poderá receber a retribuição, na mesma medida de sinceridade, sem ser punido com a solidão. Um dia… um dia…

Por ora, somos obrigados a viver o paradoxo de padecer no paraíso; tendo consciência de que nunca estamos sós, mas, amiúde, estendendo, em vão, nossos braços no vazio… trabalhando pela felicidade futura das gerações que estão por vir ou pela ventura daqueles que já hoje podem gozar da alegria que lhes ofertamos… mas que ainda não é nossa…

(Texto redigido em 14 de novembro de 2004.)
(*1) Sistema multidimensional de corpos, que, sumariamente, poderíamos considerar em quatro dimensões: físico, perispiritual, mental e espiritual.

(*2) Técnica criada por Carl Gustav Jung que, grosso modo, constitui uma espécie de sonhar acordado, sem interferir na “fantasia”, que se constrói por si mesma, em função de
fluxos espontâneos do inconsciente. Muito perigosa de ser levada a cabo por um experimentador que não domine o assunto, principalmente se desacompanhado de um especialista.

(Notas do Autor)

Pela extensão desta mensagem, figurará como sendo “do dia”, tanto no domingo como na segunda-feira.