Benjamin Teixeira pelo espírito Eugênia.

Rememore tudo de bom que lhe tem acontecido, todos os dias. Às vezes, achamos ocioso pensar no óbvio: a saúde que desfrutamos, os amigos e entes queridos que privam de nossa intimidade e com quem podemos tecer os fios sutis, confortantes e plenificantes da cumplicidade, da confiança e da partilha, os projetos, os sonhos, os ideais, a liberdade e o direito de falar, fazer e sentir sem pedir nem dar satisfações a ninguém. Se não fazemos essa recapitulação episódica, facilmente incorremos na tentação de julgar tudo banal e, acostumados aos tesouros que nos cercam, fixarmos a atenção apenas nas migalhas de realizações e conquistas que nos faltam.

A vida em sociedade democrática, por exemplo, é um paraíso inatingível para muitas culturas de hoje e uma utopia quase risível,há muito pouco tempo atrás, para as mais avançadas nações do planeta. Isso para não falarmos dos benefícios incontestes e paradisíacos da tecnologia, trazendo o milagre ao cotidiano, desde o controle remoto que disponibiliza o mundo pela televisão, à água encanada, que carreia conforto, saciedade e asseio para dentro de casa.

Curta, amigo(a), os aspectos mais singelos de sua existência, do seu caminho evolutivo. As pequenas oportunidades de serviço, de realização, de pacificação do semelhante; as esperanças que pode nutrir e desenvolver, com ações determinadas, com pulso firme e um coração amoroso.

A vida é melhor do que parece. E não se trata essa assertiva de uma expressão de otimismo cor-de-rosa, mas de uma constatação prática e histórica. O inverso é que constitui uma fuga dos fatos. Há muito o que fazer e melhorar – e isso é ótimo: ou estaríamos num universo ocioso, em que tudo já teria sido feito. Mas as conquistas atualmente ostentadas pela civilização humana são por si mesmas suficientemente numerosas e magníficas para que nos sintamos em estado de graça.

Congratule-se, amigo(a), por ser terrícola, por ser um habitante do século XXI, por ser partícipe de uma das eras mais importantes e significativas da História humana, já que agora ou acertamos de vez, ou pomos tudo a perder, com o potencial de auto-destruição tão refinado e extenso que temos em mãos, em diversas áreas, que vão dos ataques ao equilíbrio ecossistemático ao perigo de guerras e acidentes nucleares.

Você ainda pode optar por viver se lamentando, assim como as velhas desocupadas e maledicentes à porta de suas casas, em cidades do interior. Mas você pode, ao reverso, optar por uma vida ativa e intensa, em que dedique sua juventude e velhice a servir a Humanidade. A escolha, realmente, é sua. O pessimismo, visto como chique em certos meios pseudo-cultos do país, não passa de uma brincadeira intelectual patética, a ocultar intenções espúrias, prenhes de preguiça, inveja e irresponsabilidade.

(Texto recebido em 25 de agosto de 2001.)