Benjamin Teixeira
pelo
Espírito Roberto Daniel


Vê, prezado amigo, na caridade, o teu alicerce de vida.

Não te suponhas vítima da infelicidade alheia; considera-te responsável (porque convidado a esse contato) a debelar o infortúnio na existência do próximo, ainda que esse ensejo tenha-se revestido de profundas características de injustiça, ingratidão ou abuso.

O desespero tem muitas formas de se manifestar, e o ataque gratuito bem como o desatino completo da perversidade constituem as suas mais comuns modalidades.

Sim: defende-te, na medida justa. Todavia, após impor limites ao desditoso ofensor, apieda-te e serve-lhe, no sentido de sua cura e refazimento de forças, assim como na recondução dele a seu eixo de equilíbrio.

Caso tal alvitre se te afigure disparatado, visualiza a situação de um médico plantonista, num hospital psiquiátrico. Ainda seja ele uma sumidade, no trato com enfermos mentais, não entabula diálogo com um paciente em surto violento, nem se ofende por ter sido golpeado por ele. Em vez disso, invoca enfermeiros robustos, que o imobilizem e sedem, aguardando momento oportuno, após o sono reparador induzido, dando ocasião a que o doente seja recambiado a relativa normalidade, de modo a entretecer, novamente, uma conversação construtiva, de caráter terapêutico.

Lembra-te dessa analogia, quando te deparares, mais uma vez, com um agressor destemperado. Se, mais ainda, és pai (ou mãe) de família, professor, terapeuta ou sacerdote, essas experiências desagradáveis devem ser interpretadas como parcela indissociável do serviço que te propões realizar. Pensa, assim, nesta recomendação clássica, dos meios religiosos (que varia na nomenclatura, mas que, no fundo semântico, permanece a mesma coisa): “caridade”, “indulgência”, “tolerância”, “amar os inimigos” – não como um ditame absurdo, sacrificial ou suicida, e sim como uma exortação a se adotar uma perspectiva privilegiada para resolver problemas, ao invés de complicá-los; um incentivo a que se descortine o verdadeiro panorama da situação, indicando os focos etiológicos ou fatores legítimos na geração da circunstância infeliz.

Apela, destarte, para a lógica pragmática e resolutiva, relevando melindres ou caprichos feridos, para que não te vejas na condição patética do “cego-louco” “Dom Quixote de la Mancha”, pelejando contra moinhos de vento, quais se fossem temíveis dragões; nem utilizes, como se diz no popular, um canhão de alta potência para eliminares um mosquito.

Inteligência, meu chapa; tão-só uma questão de inteligência.

(Texto recebido em 11 de janeiro de 2010.)


(*) Uma face que pouco costuma aparecer em público, do Espírito Roberto Daniel, eclode, pujante, nesta mensagem: o sábio firme e direto, um tanto formal, mas preservando, inalterável, sua pitada de sarcasmo.

(Nota do Médium)