Via-me andando, um tanto atordoado e apressado, por ruas sombrias, ermas, que lembravam o final da madrugada numa antiga capital da Europa oriental do bloco soviético, à época da Guerra Fria, bem depois de um toque de recolher.

Enquanto caminhava em passos vacilantes, entre lajotas e paralelepípedos que pareciam soltos nas calçadas e na própria via pública, ouvi a feminina, madura, inconfundível voz do Espírito Eugênia-Aspásia, que ribombava, carinhosa e clara, dentro de minha cabeça. O cenário não poderia ser mais significativo para o conjunto de metáforas que ela utilizou ao transmitir sua lição:

– Meu filho, as ideias são como vestimentas da alma. Para ser sincero, você não precisa trajar roupas de banho em pleno inverno, à noite… Ponha um suéter de elegância e diplomacia, vista calças de bom senso e lógica, calce botas de prudência e ponderação, sobre o conteúdo que mais julga importante partilhar, de modo a que o faça no momento mais oportuno, seguro e eficaz à expressão de seu pensamento, e com o melhor aproveitamento do público alvo que colima atingir com seu empenho de professor, sem se expor a riscos desnecessários.

Terminada a fala da Mestra espiritual, vi-me acordado na segurança de meu leito, aos primeiros raios de sol da manhã de uma tórrida e acolhedora capital do Nordeste brasileiro.

Benjamin Teixeira de Aguiar e o Espírito Eugênia-Aspásia.
11 de maio de 2015.