(O mega-astro pop Ricky Martin, que se declarou recentemente homossexual, provavelmente bissexual em termos mais realistas, um símbolo recente, dos mais emblemáticos, da força que a temática tem adquirido na mídia nacional e internacional.)

Delano Mothé e Benjamin de Aguiar, em diálogo com o Espírito Eugênia. (Médium: Benjamin de Aguiar)

(Delano Mothé) – Três personalidades que participarão do novo BBB (Big Brother Brasil) já se destacam na internet: um administrador que foi capa de revista gay, uma produtora bissexual que posa para fotos eróticas e uma cabeleireira transexual. A Senhora teria algo a declarar sobre o frisson que o tema “sexualidade”, sobretudo em suas manifestações menos aceitas socialmente, provoca nas pessoas?

(Espírito Eugênia) – Sim, posso. O querido amigo pode observar que não se trata propriamente tão só da sexualidade em situações menos aceitas, porque poderíamos incluir a própria condição feminina, a bigamia (ou poligamia) e a prostituição, como temas “invisíveis”, de tão discriminados que são. Sem pretender tocar nestes pontos no momento, vale que destaquemos que é a ambiguidade da condição psicossexual humana que está em foco, mais vinculada, culturalmente, à homossexualidade, com suas manifestações correlatas (lamentavelmente, ainda) de homofobia e auto-homofobia – esta última pouco tratada e estudada (também infortunadamente). Um homem que se dispõe a posar para uma revista dirigida ao nicho homossexual masculino, uma bissexual que trabalha de modo equivalente e uma transexual constituem um apanhado apropriadíssimo da completude dos dramas de evolução dos costumes e dos conceitos na atualidade, dentro da temática, porque os gays são considerados, por boa parcela da população, como pervertidos, os bissexuais como devassos e os transexuais quase como pacientes psiquiátricos.

Nem vamos defender os dois primeiros grupos, mas quanto aos transexuais (classe minoritária sobre que pouco ventilamos até a presente data) devemos asseverar que não padecem de um distúrbio mental e sim de um transtorno que pode ser corrigido por cirurgia de mudança de sexo (nos casos em que isso se faz necessário), ou por tratamentos e atitudes menos invasivas ao corpo físico, como o travestismo, simplesmente. Isso não é matéria de observação da Religião, mas sim da Ciência, que, em Nome de Deus, quebra, mais eficazmente, os núcleos de ódio mais incrustados no tecido da cultura. Como dissemos n’outras ocasiões (e principalmente numa primeira oportunidade, há quase um quinquênio, diante de centenas de pessoas, em que pedimos ovações a uma linda transexual até hoje componente de nossas hostes de alunos encarnados), tornamos aqui a ratificar: o tema é emblemático, no combate a toda ordem de preconceitos, pois que, sendo, provavelmente, o mais grave e enraizado tabu na mente coletiva, sentido e visto como patológico, ao ser ele vencido, todos os outros poderão, mais facilmente, também ser superados. De certa maneira, todavia, podemos compreender a questão transexual como inclusa no capítulo mais amplo da homossexualidade – apenas mais aguda em todas as suas implicações, chegando a sofrer repressões, irônica e tragicamente, dentro mesmo de alguns grupelhos gays menos esclarecidos.

Os últimos progressos, no campo da superação de preconceitos e da emancipação, dignificação e introdução plena, no conceito e vivência da cidadania, de certos segmentos sociais discriminados, haviam sido alcançados com a causa feminina e, posteriormente, com a questão do racismo. A humanidade, ao menos no Mundo Ocidental, está preparada para o próximo passo. Começamos a falar intensamente sobre a temática, quando lançamos nosso programa de televisão, em 1994, porque a tendência estava em curso, mas de forma bem mais sutil. Entrementes, o início da década seguinte (a de 2000) deu mostras mais evidentes da revolução paradigmática em andamento, e esta década (de 2010) explodirá com as estruturas do convencional perverso nesse âmbito sinistro das tradições injustas, de molde a arrebentar, completamente, os preceitos homofóbicos ainda tão cristalizados em imensos setores das comunidades humanas terrenas. É curioso falar-se sobre a temática desta forma, para a perspectiva de alguns redutos mais instruídos da sociedade, como os acadêmicos e os ricos-cultos, para quem tal matéria é natural e resolvida. Muitos, porém, mudam inteiramente sua postura em relação ao assunto, quando um filho biológico resolve mudar de sexo (risos), amiúde com as mais cínicas argumentações-justificativas de cunho religioso-moralista. Sugeriria a esses felizardos da modernidade, que julgam estar já superada a questão gay e que, por isso, seria dispensável tratá-la com tal atenção, a cogitação de que não podemos perder de foco a heterogeneidade das nações ditas civilizadas e democráticas, com sua pluralidade incomensurável, cheias de redutos homofóbicos – mormente os que dissimulam sua atitude incivilizada e ignorante, com o que chamaríamos de “visão socialmente caridosa”, que, entretanto, é patologizante da homossexualidade, porque considera os gays como merecedores do esforço de misericórdia e perdão por sua pretensa (para estes grupos reacionários, normalmente de religiosos tradicionalistas) “monstruosidade nata”. E, por isso, sem perder de vista a empatia com os segmentos contrários à causa homossexual, precisamos aceitar que o tema seja abordado à exaustão na mídia (que não geraria tanta curiosidade se não constituísse uma ferida psicológica na população), como o são as paradas gays, cada vez maiores e, progressivamente, mais atrativas às massas, como a de São Paulo, a maior do globo, com aproximados 3 milhões de participantes. (Consideramos expectadores como participantes passivos – será que tão passivos assim?… risos. A física quântica nos diz que observar é interagir com o que se observa… e mesmo alterar sua rota e sua “substância”. Especularíamos, todavia, que, neste caso, a alteração acontece nos dois sentidos – risos –, porque o assunto, que era impublicável na maior parte dos ambientes terrestres, acaba sendo encarado com gradativa naturalidade.)

(Benjamin de Aguiar) – Mais algo a dizer sobre isso?

(Espírito Eugênia) – Felizes por podermos trabalhar com questão tão importante como esta: demonstrar, dramaticamente, ao ser humano, que ele é Espírito e não corpo, e que o Espírito tem prevalência sobre a matéria. Quebrar preconceitos foi sempre a ordem de Cima, para todos os grandes estafetas do Plano Sublime. E nós, como simples representantes do Domínio Amigo da Espiritualidade, não poderíamos deixar de nos colocar muito explicitamente a favor de todos esses movimentos (são suspeitos aqueles que se dizem representantes da Divindade e que não defendem minorias justas), mesmo que, como seria natural esperar de uma sociedade cheia de abscessos psíquicos em relação à temática, alguns movimentos pareçam grotescos, imorais ou, no mínimo, deselegantes. Muito maior brutalidade, indecência e desaire foi a perseguição sistemática, durante milênios de patriarcalismo no Ocidente (e Oriente igualmente), a aproximado um décimo da população (percentual de homossexuais, nos contingentes demográficos, conforme as mais conservadoras e tradicionais estatísticas no âmbito) e talvez mais de 50%(!) da humanidade, que se especula sejam de bissexuais! E este tema – o da bissexualidade –, estranhamente, é considerado mais controverso que o homossexual, até mesmo no reduto da militância gay, como se fosse proibido, indecoroso ou imoral ter-se atração sexual pelos dois gêneros, um fenômeno que tende a se expandir na espécie, pela natural perda das polarizações excessivas entre o feminino e o masculino, a caminho da androginia angelical.

Alguém poderia dizer que o assunto de Espiritualidade nada tem a ver com sexo, e isso também denotaria, assim como a curiosidade do vulgo estampada nos índices de audiência da mídia, o quanto esta ferida psicológica e cultural é profunda. O físico e o espiritual se imbricam, indissociavelmente, de modo que não se pode viver (na dimensão material) sem um ou outro – embora propugnemos, justamente por colocarmos as Coisas do Espírito acima das do corpo, a predominância do Ser com suas tendências milenares, que se sobrepõem aos condicionamentos instintuais ou meramente procriativos da matéria.

Aqueloutro ainda diria que a homossexualidade é instintiva, geneticamente condicionada, e não mais vista como resultante de traumas e de vícios na educação – conforme se dizia no passado –, e que, portanto, estaríamos nos contradizendo ao dizer que o Espírito deve ter prevalência sobre o corpo, concluindo, nessa linha de raciocínio bizarra na defesa do indefensável, que tais “instintos gays” deveriam ser detidos ou “disciplinados”. Mas o que acontece é exatamente que o Espírito, por estar tão mais forte, provoca mais nítidas manifestações neurofisiológicas (e mesmo endocrinológicas) no próprio corpo humano, ajustando-o para apresentar, em seus impulsos “instintuais”, uma vívida transcendência do esperável, evolutivamente – em termos da famosa “seleção natural”, no processo de evolução filogenética, já que ser gay não poderia constituir um ganho reprodutivo entre fatias de dados grupos de animais, racionais ou não. E eis que há percentuais nitidamente superiores de homossexuais entre seres humanos, comparativamente ao que se dá entre animais: algo em torno de 10% para aqueles, 1% para estes – inobstante aparecer a homossexualidade em cerca de 1500 espécies animais, como mapeado por célebre pesquisa científica de alguns anos atrás.

A tendência histórica de patologização e marginalização da homofobia e, não da homossexualidade, diga-se o que se quiser dizer, é irreversível. Atualmente, a ciência, a política, o mundo artístico (há bem mais tempo), assim como a mídia, em peso, estão favoráveis à Causa gay (tanto quanto a religião também estará, logo mais). Um movimento que se pode claramente, com frio olhar clínico, detectar: avança, década sobre década, desde o início do século antepassado, quando o Código Napoleônico descriminalizou a homossexualidade, sendo copiado por Códigos Penais do mundo inteiro e depois servindo de base para estudos médicos e psicológicos sobre o assunto, que de igual sorte defenderam, primeiramente de modo tímido, depois ostensivamente, o direito de se ser diferente. Os conservadores, em curtíssimo espaço de tempo, quanto os exegetas de textos sagrados, sentir-se-ão inapelavelmente constrangidos a se ajustarem, sob pena de serem vistos e mesmo taxados como criminosos, qual já ocorre hoje em relação ao racismo ou ao machismo – no Brasil, por exemplo, o crime de racismo é inafiançável, ou seja: “dá cadeia”, inapelavelmente, sem direito a permuta por “pagamento de multas”, quando “transitado em julgado”.

Há muito terreno a palmilhar, mas os progressos são tão escancaradamente óbvios e expressivos, que os reacionários estão assustados, sentindo-se visivelmente impotentes, a ponto de um deles, recentemente, haver cunhado uma surreal expressão: “heterofobia”. Indubitavelmente, percebe-se uma reação hostil a heterossexuais, entre alguns gays, por conta de tanto ódio e repressão contra os que são inclinados sexualmente ao mesmo gênero. Mas seria o mesmo que dizer que homens, brancos, ricos, inteligentes, cultos, belos e heterossexuais são discriminados, e não, tão somente, vistos com suspeita, por causa de uma inveja inconsciente (devido a tanta vantagem que portam, para o prisma das convenções sociais e mesmo para a ótica dos interesses mundanos) que se transforma em uma espécie curiosa de discriminação às avessas. O mesmo acontece com grupos (e não apenas com indivíduos), como podemos perceber a óbvia aversão – generalizada, em nível brando, e, pontualmente, surgindo de modo escandalosamente genocida – contra o povo norte-americano.

(Diálogo travado em 9 de janeiro de 2010.)

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