“Desculpem-me, os espíritos me pediram para interromper a fala por aqui. Ia falar algo indevido ou inoportuno para a platéia aqui presente”. Os freqüentadores mais assíduos de minhas palestras semanais (atualmente no Espaço Emes, domingos, 19 h e 30 min) já me ouviram dizer isto ou algo congênere algumas vezes, no correr dos anos. Vou desdobrando os temas e os bondosos orientadores espirituais abrem e fecham “janelas temáticas” como se operassem um computador, a partir da outra dimensão, no caso: meu próprio psiquismo, que é manietado como um painel de controles, pelos grandes pedagogos e psicólogos desencarnados que me conduzem a fala. Datas, nomes e lugares surgem como se telas caíssem à minha frente, enquanto sinto, por vezes, eletricidades indefiníveis percorrerem minha mente, fazendo-me recordar das aulas que tomei, pessoalmente, na Grécia Antiga, de saudosos mestres perdidos na poeira dos milênios, esforçando-me por traduzir, em termos corriqueiros e em imagens atuais, raciocínios mais complexos e sibilinos…

Vejo alguns olhos no público próximo a mil pessoas vibrarem ao intuírem as grandes presenças de antanho e noto que muitos têm a mesma saudade que eu… de um tempo que já se foi, de amigos que nos esperam, paradoxalmente, num futuro próximo, para o reencontro eterno… Principalmente, vejo muitos saciarem, avidamente, a angustiosa sede de amor, de energia espiritual, que manam nestas ocasiões, por parte dos grandes espíritos ali presentes, e ficamos certos de que os anjos que nos dirigem estão certos: alimentamo-nos, de fato, de amor e de sabedoria…

Às vezes, por algum motivo, há falhas nos filtros mediúnicos, e tenho que pedir desculpas, e explicar o que aconteceu, quando uma pausa maior acontece e me saio com uma frase como a que abre este artigo. Outras vezes, “cochilos mediúnicos” se dão e já me vi dizendo, até no programa de televisão: “Nós, desencarnados, precisamos dizer a vocês…” ou “Nós, mulheres…” (quando estou canalizando diretamente o pensamento de Eugênia). Tudo isto decorrente de falhas na interpretação mediúnica, já que um médium como eu, que ajo como porta-voz e não como mero canal, na condição de tradutor, precisa sempre estar adaptando o discurso à posição de um embaixador e não de um mero transmissor de textos.

Os mentores espirituais têm às vezes propostas estranhas. Ao terminar uma sessão de conversa com a mentora espiritual Eugênia, há poucos minutos, pediu-me ela para relatar aos meus “amigos internautas” – nos dizeres dela – a minha mais antiga memória de contato com o público, o que eu entendi: meu primeiro com uma multidão. Alguns poderiam especular que este seria o dia de minha primeira palestra espírita (há 14 anos) ou de minha primeira apresentação escolar “solo” (há quase 30 anos), mas a lembrança se perde em brumas ainda mais longínquas… (estou falando desta encarnação mesmo)

Sei que pode soar absurdo, mas sou portador de memórias nítidas anteriores aos meus 2 anos de idade. Lembro-me de flash’s que chegam quase ao meu nascimento. Algum distúrbio no meu cérebro poderá talvez justificar esta estranha aptidão. Em meados de 1972 – estava com um ano e meio de vida – uma das primas de minha mãe completou 15 anos. A “Associação Atlética” era o clube mais chique da Aracaju de 200.000 habitantes de então (hoje, a metrópole sergipana aproxima-se, em sua região metropolitana, dos 1 milhão de residentes, população próxima da inundada New Orleans, nos Estados Unidos). Pois bem, recordo-me do ruído quase ensurdecedor da orquestra, da barulheira confusa de inúmeras conversas paralelas (e eu querendo “devorar” todas com ouvidos atentos e cérebro sequioso de aprendizado), recordo-me de minha enorme erupção de vitalidade, caminhando de mesa em mesa, sorrindo para as pessoas, conversando com elas… e, o mais importante de tudo: os sorrisos francos e fáceis que as pessoas ofertavam-me de volta. Que maravilha! Como todas as pessoas eram maravilhosas, bondosas, gentis! Todas sorriam para mim!… Recordava-me, em fracos vislumbres, então, de um lugar de que tinha saudade, uma cidade luminosa d’onde viera, em que todos, na via pública, sorriam e cumprimentavam todos os passantes, mesmo os desconhecidos, sem distinções. Quanta saudade daquela cidade agora distante… Mas… naquele novo lugar… (Aracaju), as pessoas pareciam tão boas como de onde viera. Certamente eram igualmente boas, assim pensava, ao receber seus sorrisos largos em retribuição aos meus. Mas, apesar de sorrirem para mim, pareciam tensas umas com as outras. Falavam rispidamente, riam de forma nervosa, pareciam agressivas, freqüentemente via crianças mais velhas chorarem, gritarem, espernearem… Havia algo de errado com toda aquela gente… Uma coisa curiosa me chamava atenção: conversar com outras crianças de minha idade, e elas não me respondiam! Por que elas não gostavam de mim??? – pensava de mim para comigo, atônito e aflito, sem me dar conta de que começara a me comunicar um pouco precocemente. “Fale, Zezinho. Benjaminzinho está falando com você!” E o Zezinho (o nome não é este) fazia um longo fio de baba a escorrer do canto da boca, olhando para mim, inexpressivo. Aquela cena repetida me dava uma estranha sensação de vazio. Dirigia-me então às crianças mais velhas, que eram terrivelmente cruéis, e me maltratavam (principalmente os meninos: aprendi, desde aquela época, que meninas eram sempre mais amáveis e que meninos eram detestáveis – risos)

Não vou me alongar hoje nesta viagem pelo meu passado. Mas vou encerrar este melodrama nostálgico narrando uma cena final que foge à minha memória e que me é contada pelos mais velhos, não só familiares, mas também outros, vizinhos, que acompanharam os episódios. Nesta mesma época, entre o primeiro e o segundo aniversário de vida, costumavam fazer alvoroço em torno do etezinho que eu era. Punham-me de costas para a via pública, sentado no muro baixo em frente à casa em que morávamos, e pediam que eu anunciasse o nome dos carros que passavam, pela identificação meramente auditiva. Asseveram que eu não errava uma. Esta é uma prova viva de como o ser humano pode regredir (risos), diferentemente do que afirma o Espiritismo, de que sempre evoluímos – hoje mal consigo identificar um quinto das marcas de veículos em circulação, fazendo uso de quantos sentidos quiser (risos). Em Brasília, pouco antes da ocorrência deste circozinho de segunda categoria, quando meu pai fazia sua primeira pós-graduação, costumava descer da cadeirinha apropriada a bebês, em restaurantes, aos fins de semana, para interagir – digamos assim – com as mesas vizinhas. “Olá, sou Benjamin, aquele é papai. Aquela é mamãe. Papai vai trabalhar de manhã. Mamãe me dá comida. E eu como. E você, o que faz?” Acho que não saí da fixação em comida até hoje (risos). Bem, este era o meu papo, e se seguia a tal cena que tanto me incomodava, de bebês da minha idade babando e adultos extramente sorridentes, exclamando palavras que eu não compreendia para meus pais, estupidamente orgulhosos.

São agora quase pouco mais de 4 horas da madrugada de quinta-feira. E esperava que Eugênia me transmitisse a mensagem do dia ou conduzisse um de seus amigos espirituais para fazê-lo. Para minha surpresa, pede-me ela para passar outro vexame como este, a debulhar meu passado, e rasgar meu pudor em público, para variar (risos)… A esta altura, porém, meu pudor psicológico está totalmente calejado e quase não sinto dor moral (risos novamente), só uma estranha frieza na barriga, por abrir intimidades tão grandes de mim e de minha família. (Eugênia agora também ri de mim! Pode???? Isso é o cúmulo!!! Até a mentora!!! Fácil p’ra ela que ‘tá lá, enquanto eu é quem me exponho por cá! – risos).

Bem, agora falando sério: Eugênia quis, com este relato auto-biográfico, que ela me tem conduzido a fazer, volta e meia, neste site, por propósitos que ela deve conhecer melhor que eu, que ilustrasse a notícia de que hoje estarei sendo “homenageado” com o título de “Comunicador de TV do Ano de 2005”, pelo Jornal “O Capital”, de Aracaju. Imaginem o horror da vergonha em eu ter que dizer isto por aqui, de minha própria “boca” – parecendo medonhamente pernóstico. Deus sabe (risos), como me constrange fazê-lo (acredito que qualquer mortal sentiria o mesmo acanhamento). Mas, obviamente, não posso me esquivar de receber esta ordem de homenagens, em função do prestígio que deve ser transmitido ao trabalho dos bondosos e sábios orientadores espirituais, que é realizado por meu intermédio, na condição de muito imperfeito medianeiro encarnado.

Hoje, à hora do almoço – terrível Eugênia querer que fale disto também – na reunião de diretores do Projeto Salto Quântico (sempre às quartas-feiras), passei por outra situação de embaraço, símile a esta que agora sofro ao escrever tudo isto para vocês. Alguém lembrou que minha irmã Marilia me condenou, no Rio de Janeiro, na semana passada, por eu não fazer uso de minha habilidade para desenhar (na adolescência fiz alguns grafites-retratos de pessoas conhecidas, lembrando fotografias das próprias) e me dei conta então que minha timidez é tanta em relação a estes “talentos ocultos” que nenhum deles (todos amigos íntimos de longa data) sequer sabia que tinha esta habilidade, muito menos tinha visto quaisquer destes desenhos. Claro que adiei, mais uma vez, mostrá-los, sob protesto – problema deles (risos – nervosos).

Em resumo, pretende Eugênia que eu revele, mais uma vez, que sou uma alma velha – isto não é motivo de vanglória, mas de vergonha, como o rapaz de 18, em meio a uma turma de garotos de 11, como já disse nesta página da net, d’outra feita – e que, antes da atual reencarnação, aprestei-me adequadamente para a função que desempenho, incluindo um aparelho cerebral apropriado. Minha “turma espiritual” (os de minha “idade”) está em outra… bem à frente… Pouquíssimos estão aqui por baixo. Da minha família espiritual original, somente eu estou reencarnado, retardatário em diversas matérias evolutivas. Todos os demais, encontram-se em planos superiores de consciência, e eu cá por baixo, penando e arrastando, merecidamente, minha demora em crescer, em séculos sucessivos de desvios e desperdícios existenciais. Sinto-me extremamente angustiado com esta situação, amiúde, como se estivesse sempre convivendo com crianças bem mais novas, com um sentimento de culpa lacerante a me carcomer por dentro. Todavia, para minha agradável surpresa – qual branda viração refrescante para um coração em chamas – numa das oportunidades em que dei a entender vagamente este mal-estar freqüente, um querido amigo do grupo saiu-me com esta: “Ainda bem, Benjamin, que você se atrasou tanto. Assim, ficou conosco, para nos ensinar.” Claro que não concordo com isto, tanto é que, por isto mesmo, tanto quanto possível, silencio minha voz, para que os mentores espirituais, eles sim, os grandes mestres, possam ter oportunidade de ser ouvidos, eles que não perderam várias reencarnações repetindo lições elementares, eles, como Eugênia, minha tão querida mãe de remotíssimas encarnações passadas, de fato extremamente sábios, santos e serenos. Mas, de qualquer sorte, a palavra doce e afetuosa do jovem amigo calou-me fundo à alma, como brando consolo, como a dizer da infinita misericórdia divina, que transforma nossos maiores equívocos em motivos de crescimento pessoal e de serviço ao próximo.

Vou ficar por aqui, agradecido pela paciência de me terem lido este “desabafo” compulsório, e pedir, aos prezados amigos e admiradores do Projeto Salto Quântico, o préstimo de suas orações, já que, alma com numerosíssimas imperfeições, pugno por acertar mais e errar menos neste trabalho em que, em tese, não poderia haver erros, já que represento – audácia das audácias, mas de que não tenho escolha me evadir – os emissários da Divindade, os seres luminosos que nos dirigem os destinos da outra dimensão de vida.

Sim! Não poderia deixar de registrar, para os residentes em nossa “city” que desejem comparecer ao evento, em que esta e outras premiações serão conferidas a personalidades de nosso Estado, que acontecerá na Escola Superior de Magistratura, na Praça Fausto Cardoso, hoje, dia 22, às 20 h. Um grande abraço e muita paz e felicidade para todos.

Seu irmão em ideal

Benjamin Teixeira
Aracaju, madrugada de 22 de setembro de 2005.