Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

No final de sua vida física, suplicou e, concomitantemente, profetizou Jesus: “Pai, que todos sejam Um”. As grandes religio-filosofias do Oriente preconizam a necessidade de se viver o sentido místico de unidade com o universo. Pitágoras aludia ao “Grande Um”, que seria maior que as próprias “deidades” do cosmos. A Terra, vista de cima, por cosmonautas e astronautas de diversas nações, apresentou-se pequenina, una, redonda (sem lados).

Isso significaria dizer que devemos abandonar o sentido de identidade, de individualidade e mergulharmos no oceano da consciência cósmica, diluindo o nosso ser? Essa seria uma visão simplista, lamentavelmente partilhada por aqueles que pretendem compreender o que está fora do alcance de seu nível de maturidade psicológica, intelectiva e mesmo moral. Toda realidade do mundo transcendente expressa-se, no plano físico, por meio de paradoxos. E quem vai nos auxiliar a compreender esse complexo enunciado, quem vai nos retirar do impasse e decifrar tal enigma é a Física Quântica, em um de seus modernos conceitos, o do “princípio da complementaridade”, propugnado por Niels Böhr, célebre fundador da “Escola de Compenhague”, considerado um dos maiores gênios científicos do século XX. O princípio da complementaridade propõe que a matéria seria, simultaneamente corpuscular e ondulatória, ou seja: estaria, em seu aspecto corpuscular, circunscrita a um certo pacote mínimo de energia e matéria (um “quantum”, daí o termo: física “quântica”); e, por outro lado, em seu aspecto ondulatório, seria tecida em padrões probabilísticos de localização e expressão energética. Somos, como indivíduos, estendamos agora a metáfora a todos nós, pois que o micro e macro cosmo obedecem aos mesmos paradigmas organizacionais: ao mesmo tempo corpusculares, possuindo personalidade, características próprias, vontade e desejos individuais, e, simultaneamente, somos dotados de características transpessoais (como tão lindamente hoje alude a Psicologia Transpessoal), aspectos coletivos, metanormais, numinosos, que se manifestam para a dimensão física de existência, por meio de nosso ego, apesar de atrapalhados por suas ferramentas mais habituais, os demais aparatos psíquicos que servem o centro de consciência, no nível humano de evolução, como as paixões, as neuroses, e mesmo a história de vida, incluindo traumas e carências. O ego, neste contexto mais profundo, de filosofia includente (e não excludente, como o radicalismo fanático de alguns orientalistas), seria uma realidade tão palpável como o Eu Superior, tão necessário e válido quanto este, devendo, porém, estar a serviço das Forças de Cima e não pretendendo e pugnando continuamente por subverter a ordem do universo e, assim, subornar e dobrar os desígnios superiores ao talante de seus caprichos mesquinhos.

Troquemos em miúdos, abandonando, agora, essa visão mais filosófica e partindo para uma perspectiva mais pragmática. Você não é só você. Uma rede de seres superiores existe acima do seu nível de consciência e a eles deve satisfações do que faz de sua vida, de seus dias, das oportunidades que lhe são ofertadas, das energias, dos recursos, das forças. Não acredite na mentira, ditada por seu ego, de estar só, de poder tomar decisões considerando isolada e tão-somente seus interesses, esquecendo-se de toda a teia de significado, serviço e interdependência que o une a seres acima de você na escala evolutiva, como a milhares de seres humanos, numa relação de horizontalidade fraterna, bem como a bilhões de criaturas inferiores (na escala evolutiva)…

Cuidado com o cepticismo que parece inteligente e é apenas míope. Existe mais do que os olhos humanos podem ver, como atestam microscópios e telescópios. E existe muito mais, da mesma forma, do que a mente humana, de modo ordinário, consegue alcançar, em seu nível relativo de abstração, concepção e percepção: as infinitas dimensões de existência e consciência que pululam no universo.

Antes de iniciar uma atividade, invoque, silenciosamente, o amparo daqueles que, em nome de Deus, velam por seu destino. Peça-lhes suporte e inspiração, para que cumpra adequadamente os deveres que lhe estão correlacionadas, na tal tarefa a ser começada, e notará, se o fizer sinceramente, ainda que não tão bem concentrado ou imbuído de ardente fé, que os resultados serão melhores, que o “fluxo” será mais seguro, que as circunstâncias o beneficiarão, no sentido da boa (senão excelente) conclusão da atividade.

Estabeleça este hábito: de ser ou se esforçar para se tornar uno com o universo, ou, ao menos, de se sentir uma pecinha diminuta, ainda que mal conectada ou alinhada, de uma engrenagem maior, disposta, deliberadamente, a ser manietada por Gênios Invisíveis, a bem não só de si mesma, mas, principalmente, de coletividades inteiras, porque não há vida com propósito e consistência verdadeiros, que não considere sua relação com outras vidas e a utilidade que lhes possa prestar.

(Texto recebido em 2 de agosto de 2004.)