(Temas atuais e intemporais – 02.)

Delano Mothé, em diálogo com o
Espírito Eugênia (Médium: Benjamin Teixeira).

Tema Atual:

(Delano Mothé) – Você teria algo a nos dizer sobre a ocorrência do terremoto no Chile, ainda em meio aos esforços da comunidade global por prestar socorro às vítimas do Haiti?

(Espírito Eugênia) – A Terra chora. Assim como o corpo físico, no ser humano, funciona à guisa de mata-borrão ou fio terra, para os desequilíbrios no nível emocional ou psicológico da criatura, as estruturas físicas do planeta (em particular a frágil camada denominada crosta, película de terra deslizante sobre um oceano fervente de magma) padecem, atrozmente, os desmandos da mente humana, que pulula sobre sua superfície. Mas, da mesma forma que afirmamos ser alvissareiro o fato de um paciente deixar “descerem” para o corpo, pelo mecanismo psicossomático da “queda dos problemas”, os desajustes mais profundos de caráter psíquico ou mesmo diretamente espiritual, podemos asseverar que a humanidade terrena sofre processo doloroso de cura, pelo paradoxal caminho da enfermidade em larga escala e de longo curso. As problemáticas mesológicas estão apenas em seu princípio, e isso alertará a civilização terrícola, seus governantes, líderes não governamentais e o povo como um todo, comunidades e indivíduos, para questões delicadas que têm sido negligenciadas, no correr de séculos, milênios… do mesmo modo como alguém acamado tem oportunidade para refletir sobre sua conduta e valores, e reformular sua existência, corrigindo a rota para a própria felicidade.

A dor, o pânico, mesmo o desespero de pessoas e conglomerados humanos inteiros, chamarão a atenção de todos para a fragilidade da vida na matéria e para a necessidade indiscutível da fraternidade entre povos e indivíduos. É pelas dores de parto, como sempre, que um novo ciclo tem seu começo efetivo.

Não nos impressionemos com as tragédias e desastres, em dimensão coletiva, e algumas mastodônticas, que se intensificarão em número e profundidade, nos próximos decênios. Lembrando Nosso Senhor Jesus: “Não turbeis o vosso coração. Eu venci a morte. Estarei convosco, até o fim dos tempos…”

Como não ouvimos o chamado de Nosso Senhor e Mestre Jesus, pelas veredas da boa vontade, seremos compelidos ao exercício evolucional da abertura ao bem, ao amor, ao serviço solidário, ao perdão, à harmonia da cooperação fraterna entre pessoas e comunidades, através das portas coercitivas das grandes provações.

Isso já aconteceu diversas vezes, em períodos históricos críticos, quando haviam falhado os meios mais brandos de chamada do Alto ao progresso. Mas, repetindo o mito, mataram os enviados das Alturas, após os perseguirem e martirizarem – entre os últimos: Chico Xavier, muito pouco ouvido, para o que deveria ser, em função da mensagem de elevadíssima envergadura de significados e importância para a Terra inteira.

No século transato, duas grandes conflagrações mundiais não foram bastantes para unir nações e criaturas. Agora, a Espiritualidade Sublime escolhe a senda das tragédias naturais. É o vergaste evolutivo inexorável, para comunidades refratárias aos impulsos impostergáveis de ascese e iluminação, ou de transcendência, se preferirem, porque a mente humana é programada, em sua própria constituição mais íntima, a ascender, superar-se, complexificar-se, sublimar-se… sobremaneira: a servir a Algo Maior que ela-mesma.

Tema Intemporal:

(DM) – Você poderia nos esclarecer o versículo 12 do capítulo quinto do Evangelho de Marcos, quanto à súplica da legião de espíritos impuros, no sentido de que Jesus lhes permitisse entrar numa manada de porcos? Como entender tal pedido e inclusive o desfecho do episódio, com a precipitação dos quase dois mil porcos “incorporados”(!) no mar, por um despenhadeiro?

(EE) – Existem questões mais complexas que aquelas que podem ser, de pronto, apreendidas pela mente humana de hoje, na Terra, conforme seu grau de capacidade cognitiva. O ser humano médio do globo, nos dias que correm, não gosta da ideia de punição, embora ela constitua, tão-só, consequência de seus atos, quando indevidos – sob várias óticas consideradas, inclusive a do desrespeito à Natureza e suas leis.

A Espiritualidade Superior, em nome de Deus, procede a expurgos coletivos episódicos (em termos temporais de eras civilizacionais), e aqueles que se sintonizam, nesta data, por exemplo, metaforicamente, com a condição bestial e viciosa de porcos (qual seja: total fixação em seus instintos, prazeres e impulsos egoicos, em descaso completo para com os ímpetos inatos à transcendência no ser humano) serão a eles vinculados e precipitados, ao desencarnarem, a um mundo inferior à Terra. Este tema do degredo em massa de espíritos foi abordado na semana passada e tem sido recorrente na literatura espírita, pelo urgente da temática, como alerta aos que puderem evitar dores inqualificáveis, que padecerão por longo tempo, caso não nos deem ouvidos, como a maior parte vem fazendo (ignorando-nos ou rindo-se, à socapa, das advertências de mais de século e meio da Espiritualidade, por centenas de médiuns, em todas as nações) – e, como percebe, encaixa-se, perfeitamente, à sua interrogação precedente. Consideremos que aqueles que desencarnarão em massa, em cataclismos de maior extensão, em sua esmagadora maioria, não estarão retornando mais a reencarnar em nosso orbe, por tempo indeterminado, precisando retemperar suas almas rebeldes em um mundo extremamente primitivo, que, aliás, já começou a aportar espíritos oriundos de nosso planeta…

Lá, terão que viver num ambiente civilizacional de nível equivalente à nossa era do Sílex, algo como um período intermediário entre o Paleolítico e o Neolítico, para sermos mais precisa. Nem fazem ideia o preço que terão que pagar por seus desmandos e insensibilidades, os que se rendem, por exemplo, à exploração do erário público ou que abusem sistematicamente de pessoas e seus corações, visto que, para Deus – ou, n’outras palavras, mais técnicas: para definição de frequência vibratória de uma psique –, o espectro ou gama de crimes estende-se bem além do que é cominado em lei terrena. Há personalidades que se deliciam, diariamente, em torturar almas dignas, com quem convivem, por pirraças, cobranças e maus-tratos morais sistemáticos, seja verbalmente, seja pelo desprezo, e que perderão o direito de estar no globo, por uma questão muito prática de economia das energias do orbe, já que sua permanência representará um empeço ao crescimento do grupo, como um todo.

Esta nossa afirmativa, que pode soar exagerada para quem a lê pela primeira vez, e, mormente, para o leitor que portar tais tendências às maldadezinhas do dia a dia, aceitas socialmente, mas não pelo Plano Sublime – como depreciar a imagem dos que fazem o bem, para não se sentirem tão ruins, ou seduzir pessoas, pelo mero prazer de exercer poder sobre elas, com total desinteresse pelo seu bem-estar –, merece-nos um esclarecimento adicional: para Deus e Seus Representantes, os grandes criminosos são criaturas mais louváveis que os perversos mesquinhos, escondidos no anonimato, porque, enquanto os primeiros, corajosamente, confiam-se de todo ao mal e perpetram o mal às claras e assertivamente, os segundos agem às ocultas, covardemente, quais répteis venais, interessados em se beneficiar com a imagem de decentes e bondosos, prosseguindo em sua volúpia de maldade, às escondidas… Portanto, não há qualquer exagero em serem colocados no mesmo magote de condenação e degredo da Terra. Muito pelo contrário. Os ardilosos do anonimato carecem de valores morais que os grandes criminosos já apresentam, como muito bem ilustra a sua conversão, quando ocorre, em grande estilo, qual foi o caso de Paulo de Tarso. Um só chamado(!), e o primeiro tirano da história do Cristianismo se converteu no maior divulgador, após o próprio Cristo, de Sua Mensagem na Terra.

(Diálogo travado em 7 de março de 2010.)