Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Você se traiu, caiu de novo, no âmbito de uma disciplina elementar. Já se havia prometido não quedar, e se flagrou, novamente, na descida ominosa.

Culpa-se, lamenta-se, entristece-se. Seria esse, porém, o caminho certo de reflexão em torno da fraqueza que descobriu em si? Será que não seria momento de reavaliar sua filosofia de trabalho e mesmo suas metas? A queda tem uma conotação divina, por incitar a criatura a repensar o que, de outra maneira, nem sequer cogitaria questionar. Evidentemente que há princípios em que se deve perseverar até o fim, ainda que sempre falindo. Entretanto, ainda nestes casos, uma mudança de postura, de auto-imagem, de critérios relacionais, de humildade e prioridades existenciais podem estar sendo ofertados para aquele que se percebe em deslize.

Chorando de tristeza do fracasso, prepare a ventura do sucesso. Se está embaixo, que lhe impede sonhar com as alturas? Por que não se motivar com um projeto ainda mais ousado, muito embora com bases no viável? Por que não tentar de novo, e de novo, e sempre? Se o assunto é o capítulo básico de seu amor, de seu ideal, de seus princípios, nunca deverá se deixar obstar, por motivo algum, faltem dinheiro, colaboradores ou oportunidades. Gere-os, quando não os tiver, e espere por eles trabalhando no sentido de realizar o possível, todos os dias um pouco, em direção do seu objetivo, e o tempo mostrar-lhe-á quanto valeu a pena persistir.

Aquele que o olhou de través, porque se surpreendeu ao notar sua humanidade, é uma pobre alma necessitada do auxílio de sua compreensão, que não pode entender o idealismo de um espírito humano, mas apenas os extremos da perfeição angélica e da vileza criminosa. Inconsciente dos próprios valores, não pode enxergar, em você, os méritos do esforço, dentre todas as imperfeições e contradições típicas do psiquismo humano. Propósitos subalternos e hipocrisia é o que julgará entrever em sua conduta, justamente quando mais difícil está sendo a sua prova, quando mais está demonstrando grandeza d’alma em não desertar do projeto sublime que enceta e que tantas almas deixam em meio.

São essas criaturas, vistas amiúde, como inimigas ou adversárias, as que mais precisam de sua ajuda, de sua doação desinteressada, mesmo porque são as que mais exigem de sua alma o despojamento do interesse pessoal. A agressão que lhe fazem é grito de socorro que nem mesmo elas detectam, mas que seu coração generoso pode captar, se fizer um pouco de silêncio para a mágoa de que se sente ferido. O tempo demonstrar-lhe-á como aquele que mais o ataca pode se converter em um dos mais fiéis apoiadores. Agridem-no agora, e, nesta ou n’outras vidas, aproximar-se-ão de você, em lágrimas, lamentando pelo que fizeram. E você, lá, estará sinceramente apiedado, porque terá clara noção do quanto, realmente, não sabiam o que estavam fazendo e o quanto, dentro de suas perspectivas pessoais de então, estavam sendo coerentes e honestas.

Dentro deste complexo capítulo das relações humanas, no futuro poderá perceber amigos de hoje que não são tão amigos, e inimigos que são dos mais francos elementos que travam relações com você. Evite, assim, julgar, e trate cada criatura, com a gentileza, o respeito e a consideração que todo filho de Deus merece. E, ainda que muitas das pessoas que você contacte sejam de fato degeneradas, ofertarão a você o melhor que tiverem, em resposta às vibrações sinceras que lerão, subliminarmente, na estampa de sua abordagem, e, quiçá, surpreendam-no com um coração, uma devoção e uma grandeza de alma que jamais lhes divisaria no comportamento trevoso.

Amor sempre. Paciência, indulgência, diplomacia, respeito à diferença e a toda forma de sentimento. E, ainda que haja necessidade de energia, muito equilíbrio e sabedoria, isenção e paz na hora suprema de aplicar os corretivos ou as iniciativas mais duras, para que jamais haja abuso nos meios mobilizados de defesa ou ação.

(Texto recebido em 2 de maio de 1998.)

(*) Extraído do livro “Retratos do Amor”, primeiro título da trilogia que inclui “Vincos de Luz” e “Sol de Esperança”.