Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Eugênia, vem-me muito à cabeça aquele episódio em que Buda afirma: “Se alguém me ataca, a culpa é minha, que não fui capaz de convencê-lo de meu amor”. Considero esse pensamento estupidamente avançado, mas perigoso de ser confundido com comportamentos neuróticos e mesmo narcísicos, de quem, por exemplo, sente-se responsável por tudo. Poderia nos dizer algo sobre isso?

Sim, posso. O grande Gautama, de fato, estava inspirado por grande sabedoria, ao dizer esta máxima. O príncipe Sidharta foi uma das inteligências mais avançadas que aportaram ao globo terrestre, em condição de encarnada. Mas não se deve entender que o indivíduo, ao seguir esse princípio, é responsável pela pessoa que, em dado momento, atacou-o, nem por esse ato em si, mas sim pelo fato de estar ainda permitindo ou promovendo, indiretamente, acontecer, em torno de si, essa conduta de assalto mesquinho.

Explicando-me: se alguém está, a todo momento, sendo desrespeitado e abusado, algo de errado há em sua atitude, perante a vida em sociedade, ou algo importante está sendo omitido, para que seja propiciado, tão facilmente, a conduta lesiva por parte de terceiros. A pessoa que não sabe dizer “não”, o tipo de personalidade carente, insegura e dissimulada, que quer ser sempre agradável e que se torna conivente com a postura exploradora de vampiros emocionais etc.

Se, entretanto, alguém, fora de seu padrão habitual, é inesperadamente atacado, deve se perguntar se algum aspecto de seu comportamento fomentou tal atitude; se quem atacou, em alguma medida ou em algum nível, tinha motivos razoáveis para fazê-lo. E, tendo avaliado, criteriosamente, se algo deve fazer, e feito isso, caso seja constatado que sim, deve se tranquilizar, e se perguntar o que a experiência tem a ensinar para si, num nível interno, para que a situação amarga seja convertida em aprendizado, de alguma forma, ainda que não se haja errado de nenhuma modo, no sentido de provocar a ocorrência funesta.

(Diálogo psicografado em 8 de junho de 2004.)