Fazia o longo trânsito aéreo entre Paris e Rio de Janeiro, após visitar três Santuários da Virgem Santíssima em solo francês, quando, após um tempo de meditação, vi-me mergulhado em transe mediúnico mais ostensivo, enquanto os(as) demais passageiros(as), em sua esmagadora maioria, dormiam placidamente no interior do cilindro metálico em velocidade de cruzeiro, navegando sobre os ares do Oceano Atlântico.

A Mestra Eugênia-Aspásia apareceu-me então sentada em sua poltrona “de pedra”, numa sala do Parthenon da dimensão extrafísica, para onde costuma me conduzir nessas interações espirituais. Recebeu-me com um sorriso nos lábios, em sua natural serenidade, e pediu-me que me acomodasse diante dela. Com visível atenção ao aproveitamento do tempo e das energias disponíveis ao momento de comunhão mais profunda, passou a ditar-me uma mensagem, com uma forte luminosidade a se agigantar acima e por detrás de sua pessoa, revelando que se tornava Ponte Viva de conexão com Esferas mais altas de Consciência, inacessíveis à minha observação direta. Ela se faria portadora de uma nova Carta de Maria Cristo. Segue-se o que pude captar do evento místico.

Meu coração condói pelos(as) que sofrem injustiças… mas, igualmente, pelos(as) que as perpetram.

Aflijo-me pelos(as) que são vítimas de calúnias… mas, do mesmo modo, pelos(as) que as canalizam para o mundo.

Trespassa-me a alma ver os(as) que padecem ingratidão… mas também observar os(as) que se fazem ingratos(as)…

Não é possível cindir o universo humano em dois lados. Não existem polos, em plano de profundidade – tão só Unidade, em meio à complexidade, à contradição, aos conflitos e aos sofrimentos que são decorrentes da limitada capacidade de percepção dos homens e mulheres da Terra dos dias de hoje.

Em última análise (ou em suas últimas consequências), quem provoca padecimento programa-o para si mesmo(a), em forma, medida e espaço de tempo imprevisíveis, mas como sentença inapelável do destino, não obstante considerados sempre, pela indefectível Justiça Divina, todos os intricados dramas atinentes à perspectiva do nível de consciência e, portanto, do grau de responsabilidade de cada envolvido(a), bem como todas as circunstâncias que conformaram o contexto da dor causada.

A temática, entretanto, no domínio humano de existência, apresenta ambiguidades que atormentam as criaturas incautas e pueris que se permitem enveredar por estradas pedregosas, escorregadias e prenhes de ervas daninhas e víboras peçonhentas… as trilhas do ego inflado, do narcisismo, do capricho pessoal, dos vícios da preguiça, da covardia e da fuga dos interesses essenciais do Espírito.

Dessarte, há créditos especiais, e não um débito moral, para o(a) cirurgião(ã) que cinde as vísceras enfermiças de um(a) paciente, a fim de lhe auxiliar a cura do corpo. Analogamente, um(a) “cirurgião(ã) espiritual” não é culpado(a) pelas vicissitudes que seu(sua) “paciente operado(a)” enfrenta, mas trabalha justamente como curador(a) das verdadeiras causas do “distúrbio” que o(a) enfermo(a) porta em seu âmago, muito embora o(a) leve frequentemente a um “quadro clínico” doloroso, que pode ou não se converter numa “convalescença” da alma – de acordo com o livre-arbítrio e o discernimento de quem recebeu a intervenção psíquica, por assim dizer.

Professores(as), tutores(as), treinadores(as), pais ou mães, em diversas ocasiões, terão que agir contrariamente às expectativas daqueles(as) que estão sob sua responsabilidade, amiúde gerando confusão, frustração, quando não rancor, pavor e desesperança – não raro com origem exclusiva na teimosia, imaturidade, egocentrismo, mesquinharia e perversidade de seus(suas) orientandos(as).

Meu(minha) filho(a), ouça-me, com a mente e o coração abertos:

Ponha-se sob suspeição, sempre que se flagrar procurando culpados(as) para seus problemas e angústias, perplexidades ou insatisfações. Postura adulta é a de quem assume, invariavelmente, a responsabilidade e o leme por sua própria vida, em todas as suas facetas, incluindo as que envolvem terceiros.

Quando alguma ocorrência infortunada espocar em seus caminhos, pergunte-se o que a Divina Sabedoria deseja lhe ensinar através dela e aplique o aprendizado da melhor forma possível, o quanto antes.

Isso nada tem a ver com se submeter ao mal. A lição espiritual implicada na injunção pungente pode ser, por sinal, estimulá-lo(a) a defender-se e a quem esteja dentro do seu âmbito de deveres morais, ou mesmo a afastar-se de agressores(as) ou de situações funestas.

Atente-se, no entanto, para não resvalar na armadilha extremamente comum (à média evolutiva do planeta) da polarização vítima/agressor(a). Sem atitudes autoeducativas, você se conduzirá, fatalmente, a ciclos viciosos de reação a agentes ou conjunturas que o(a) firam, defenestrando a sagrada oportunidade de proativamente resolver as condições emocionais que fomentam o mal em sua vida, de modo a dissolver e substituir os padrões de comportamento que atraem indefinidamente a reiteração do ensinamento a ser assimilado.

É sempre mais fácil, no patamar hominal de evolução, sentir-se, interpretar-se e posicionar-se como vítima de fatores ou sujeitos malevolentes externos, em vez de se colocar como promotor(a) do bem na própria e na existência de irmãos(ãs) em humanidade, e mesmo na de viventes pré-humanos(as), quais os(as) da fauna e flora que compõem ecossistemas.

Escolha a solução, o poder, a transformação, a paz, o amor e a felicidade! Seja responsável, tome providências objetivas e frutuosas ante questões que lhe pareçam subjetivas demais. Faça-se canal do bem, quando o mal o(a) acossar ou sitiar as pessoas ou realizações que estejam sob sua tutela.

Agindo assim, aconteça o que acontecer, você estará entrando em consonância com Seres do Plano Sublime de Consciência, que encontrarão meios mais favoráveis de interceder em seu e em benefício de todas as criaturas dentro de seu raio – direto ou indireto – de influência pessoal.

Calou-se a dama ataráxica, após a canalização da Mãe Espiritual da humanidade terrestre.

Eugênia, que momentaneamente havia-se convertido em mulher-Luz, fez um gesto suave com a cabeça, estampando um sorriso cândido no rosto, e acenou em despedida, provocando-me o retorno à condição dita “normal” de consciência.

Volto a ver os(as) passageiros(as) em torno de mim, em meio à penumbra da cabine pressurizada e suspensa a dez mil metros de altura… irmãos e irmãs que continuam dormindo… dormindo… enquanto os(as) comissários(as) de bordo passam para lá e para cá… para lá e para cá…

E… qual surpresa prosaica – daquelas piscadelas de Deus que costumam passar despercebidas a quem só aguarda grandes acontecimentos e milagres em sua vida –, no exato instante em que terminava de digitar as últimas palavras do parágrafo acima, uma gentil senhora, que me parece ser a chefe de serviço na aeronave, reclinou-se em minha direção, com largo sorriso, e me perguntou, em um português fluente, com delicioso sotaque de francesa, se eu gostaria de beber alguma coisa. Agradeci, respondendo que não, em um tosco francês, arriscando falar o idioma que não conheço, apenas para lhe retribuir a amabilidade… 

Voltando ao teclado, disse para dentro e para Cima, notando a provocação que o Céu me fizera, não mais por um fenômeno mediúnico, mas pelo corriqueiro quão extraordinário (porque Divino) evento da sincronicidade:

– Sim, quero beber da Água do Poço da Vida Eterna que Jesus prometeu à samaritana pecadora…  a Água que, sorvida, não mais permitiria que alguém tornasse a sentir sede novamente… a Água Viva da Espiritualidade genuína que o Cristo Verbo da Verdade legou a todos(as) os(as) Seus(Suas) autênticos(as) seguidores(as).

Espero fazer por merecer estar entre eles(as)…

Espero que o(a) amigo(a) leitor(a) também o faça…

Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
e Eugênia-Aspásia (Espírito)
em Nome de Maria Cristo
12 de dezembro de 2019