Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Quero que você me interrogue a respeito de uma temática que julgue interessante.

Não sei, Eugênia, nada me vem à cabeça…

Oh, sabe sim, sobre sexo na adolescência com patrocínio dos pais, dentro de casa. É uma temática palpitante e tenho certeza de que os pais desejarão saber nossa opinião a respeito disso.

E aí, Eugênia, o que você teria a nos dizer?

Que não podemos negar os ventos da História. Há século e meio era escandaloso meninas participarem de atividades físicas, já que a “ginástica” era considerada ocupação masculina. E, de forma grosseiramente analisada, ou cientificamente considerada, o que é a sexualidade senão mais uma função do corpo(1). Outra questão a ser ventilada é a necessidade de se apôr freios aos excessos da cultura de liberação sexual, já que, efetivamente, os adolescentes (considerando aqui, para esse estudo, aqueles que estão na casa de 15-20 anos) não estão completamente aptos a essa ordem de experiências. Como disse Sir Francis Bacon, um dos pais da Filosofia Científica moderna, a natureza, para ser domada, tem que ser obedecida. Os pais devem envidar todos os esforços, no sentido de retardar a iniciação sexual de seus filhos, mas desde que não incorram no perigo da repressão, ultrapassando a barreira sutil entre educação e opressão que o bom senso sabe assinalar, em dada circunstância, porque então os efeitos serão extremamente negativos, equivalentes àqueles da permissividade. Assim, se o jovem não receber uma permissão, sob vigilância dos pais, para iniciar-se sexualmente em casa e no reduto do lar viver sua sexualidade, fá-lo-á na rua, sem nenhum critério, exposto a uma série de riscos inteiramente dispensáveis, como a gravidez precoce a contração de DST’s e o envolvimento com pessoas perigosas à sua felicidade e ao seu encaminhamento de vida, em todos os departamentos existenciais considerados (2). É claro que os pais devem evitar a promiscuidade (3). Meninos e meninas podem ser levados, no calor da experimentação e do entusiasmo que a juventude confere à alma humana, a perder a noção de limites. E, assim, os pais devem impor esses limites, para que o jovem aprenda, na prática, que não se faz ou não se deve fazer sexo com todo mundo, mas somente com alguém com quem já se tenha desenvolvido um nível suficientemente profundo de intimidade, para justificar essa ordem de partilha sagrada de corpos e de almas. E, como não é possível desenvolver-se intimidade da noite para o dia com ninguém, estar-se-á, com isso, estabelecendo-se uma forte e salutar barreira aos arroubos inconseqüentes do adolescente.

E os pais que argumentam estar estimulando a sexualidade precoce em seus filhos, com essa ordem de autorização moderna?

Incorrem no mesmo erro da Igreja Católica, que combate o uso de preservativos, sob o pretexto de que, de contrário, fomentaria a promiscuidade. Com isso, assumem postura genocida, ante uma sociedade de costumes diversos daquela que têm em mente os representantes da cúpula do Vaticano, que supõem estar tratando com uma cultura do início do século XX, puritana, vitoriana, cheia de preconceitos e atavismos feudais. Hoje, porém, após a revolução sexual da década de 60, que ainda se expande em diversos sentidos, não é mais possível utilizarem-se paradigmas de ontem, para as complexidades de hoje. Uma negociação se faz imprescindível. Como disse acima, parafraseando o ínclito Francis Bacon: liberar com controle, para não perder completamente o controle.

Mais algo a declarar sobre a temática?

Apenas lembrar aos prezados pais que mantenham sempre em mente a necessidade contínua do diálogo. A política da conversação constante, de qualidade, sobre todos os assuntos, embora respeitando as áreas de intimidade maior do jovem, ou aquelas sobre que tenha mais dificuldade de falar (no que se deve procurar ajuda especializada de terapeutas ou conselheiros profissionais), deve-se sempre acompanhar o que se passa no coração e na mente dos filhos adolescentes, que evoluem numa tal velocidade, que se seus pais se distraírem por um mês ou dois, poderão topar com um estranho dentro de casa, na pessoa daquele que mais amam. Esse é um dos dados mais importantes colhidos em pesquisas sobre adolescentes disfuncionais e envolvidos com drogas e criminalidade: falta de diálogo dentro de casa, de intimidade, de vida em família, de apoio e valorização por parte dos pais. Criticar, reclamar, apresentar ditames morais ou religiosos os pais costumam fazer, principalmente em momentos em que o adolescente denuncia comportamento irregular ou rendimento deficiente nos estudos. Todavia, quando não se valoriza alguém, nunca se terá autoridade para se criticar. Se um pai se lamenta de não ser ouvido por seu filho adolescente, preste atenção ao número de vezes que lhe aponta falhas, em confronto com o número de vezes que lhe faz elogios justos, reconhecendo-lhe as vitórias e conquistas pessoais, seja na área dos esportes, da criatividade ou da religião, e não apenas dos resultados acadêmicos. Quem não valoriza, nunca terá suas opiniões valorizadas. Por fim, por outro lado, sem paradoxo, quero chamar atenção dos pais para a função disciplinadora do responsável. Esse é outro dado inequívoco das pesquisas norte-americanas no campo particular da criminalidade e comportamento marginal do jovem, não fosse sábio e sensato considerar o que se segue. Pai não existe apenas para agradar. Pai existe para propiciar uma vida feliz ao ser humano em formação por que lhe foi dado zelar. E atender a todos os caprichos dos rebentos, como alguns pais hoje fazem é, praticamente, sentenciar a destruição do próprio filho. Amar não é só favorecer, em função de expectativas imediatas. Fazer feliz não é só propiciar o prazer do momento. Amar e verdadeiramente favorecer a felicidade do filho inclui a indispensável arte-ciência de disciplinar, ainda que sob alto custo de desgaste emocional, punições e fiscalização cerrada. Ser pai e mãe não é passatempo ou distração: é grave responsabilidade que é posta sobre os ombros de seres humanos imperfeitos, para que eles se empenhem em desenvolver a perfeição, desde o amor incondicional que devem ter por seus filhos, sem projetar sobre eles suas carências, neuroses e preconceitos (como se isso fosse de todo possível) até o sacrifício de aspectos da própria vida (desde que não haja excessos auto-destrutivos ou cobranças manipuladoras a “posteriori”), em função do bem-estar e da felicidade dos pequerruchos, às vezes fisicamente maiores que seus pais. Ser pai e mãe é um exercício de Deus, na escala humana, com todas as prerrogativas de sofrer ingratidão, ser incompreendido, e continuar amando e dando-se sempre, sem esperar nada em troca.

(Diálogo travado em 1o de abril de 2004.)