Benjamin Teixeira pelo espírito Eugênia.

O santo, em seu pior momento, pode dar nítidas mostras de primitivismo.

O criminoso, em seu melhor momento, pode apresentar traços inequívocos de virtude e pureza.

Cuidado com as aparências. Nunca avalie uma pessoa por poucos momentos em que a haja conhecido. Espere por instantes mais numerosos, em situações diversas, para que, de uma perspectiva caleidoscópica, possa, então, extrair o padrão que subjaz a todos eles, e, com uma probabilidade maior de acerto, deduzir o caráter da pessoa em foco.

Em dadas ocasiões, alguém pode ser rude e impulsivo, ou, por outro lado, doce e mesmo sincero e, em circunstâncias diversas, apresentar atitudes diametralmente opostas. Todo ser humano tem redutos de loucura, perversidade, infantilidade e mania, assim como departamentos de sapiência, virtude, genialidade e bondade. A resultante final de todos os elementos é que definirá o padrão médio evolutivo do indivíduo. Há quem tenha menos disparidades evolutivas, entre aspectos menos e mais desenvolvidos da própria alma, mas ninguém há, no mundo, inteiramente adulto, bom e justo, em todos os âmbitos do seu ser. Não reconhecer isso, em si ou nos outros, é dar indiscutível atestado de baixo conhecimento da alma humana.

Claro que há criaturas muito acima da média planetária. Mas não se fie nas aparências, amigo. Melhor conhecer a fundo, para que possa ajuizar adequadamente. Melhor procurar, primeiramente, o fundo vicioso de si mesmo, para avaliar se está em condições, inclusive, de exigir altos padrões de excelência, de quem quer que seja.

Ser melhor atrai seres melhores para gravitar em torno de si, a não ser quando há o desejo ou a necessidade cármica de ajudar, servir e educar. Nesse caso, altas inteligências e almas puríssimas, quando descem à existência física, cercam-se de seres trevosos e carentes, para ter reencarnações bem aproveitadas. Mas esses são casos raros. Normalmente, as pessoas se denunciam pela qualidade daqueles que partilham de sua intimidade. Não por acaso, o sábio provérbio cunhado por Sócrates: Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és.

Muita gente gostaria de se eximir da responsabilidade de estar arrodeada de gente dessa ou daquela natureza. Muita gente mesmo gosta da ciranda infantil de transferir a culpa para os outros, sentindo-se vitimizada, injustiçada. É fácil sentir-se coitadinho. Constitui pesado desafio para mentes imaturas, de fato, assumir completa responsabilidade pelo comando da própria existência, por tudo que lhes acontece e por tudo que sofrem. Muito mais cômodo gritar, chorar e fazer pose de pobre alma boa. Não é isso, entretanto, que amadurece e torna a alma lúcida.

Opte, prezado amigo, tanto quanto possível, pela escola da sabedoria, vendo-se e aos outros em toda a sua multifacética gama de ser e de sentir, cônscio de que somente em percebendo-se com transparência, em toda a extensão da própria complexidade e contradição, poder-se-á notar o outro com fidedignidade, sem as distorções inevitáveis que a projeção psicológica gera, projeção essa que toma proporções comprometedoras em mentes que não se querem enxergar como de fato são.

Prefira a realidade à fantasia. Alguém é santo ou impuro? Isso pouco importa. Talvez andemos com azes de coragem e tenacidade com ares de troglodita, e assim tratando-os, enquanto veneramos, quiçá, peritos em dissimulação e auto-promoção, envoltos em uma aura construída de doçura e encanto artificiais. Acorde! A verdade está além das aparências, a verdade está onde o coração fala, a verdade está onde seu coração diz para ser, agir e sentir.

Por conta de um puritanismo tolo em matéria de ajuizamento do caráter alheio, muita gente se sente confortável em taxar de indigno e hipócrita quem, tão-somente, não corresponde a seus padrões infantis de santidade e pureza, quando, em verdade, o que deseja é fugir à responsabilidade de aprender com o lado melhor da pessoa que lhe segue ao lado. Muito mais fácil chamar de falsa uma pessoa, esquecendo-se de que a contradição e a ambigüidade, por muito tempo ainda, farão parte da condição humana, a reconhecer-lhe os pontos fortes e aproximar-se dela, para ser enxertado psiquicamente por seus valores evolutivos.

Prezado amigo encarnado, se puder nos ouvir com atenção, ouça: anjos seguem travestidos de gente comum, a seu lado. Não são seres perfeitos, por isso mesmo estão ainda passando pela provação da encarnação física, mas podem estar muito acima de seu grau de adiantamento moral, sem que isso lhe seja visível. Não fira os corações bons que seguem ao lado do seu, na jornada das encarnações físicas. Hoje, ladeia-os, come com eles, visita-os e até ataca-lhes o coração. Amanhã, quem sabe, do outro Lado da Vida, envergonhe-se e arrependa-se amargamente por ter ferido e lançado lama em almas santas.

Não se deixe enganar pelas aparências: busque a essência. E a essência da vida só se revela a quem lhe aborda com humildade, reverência e entrega. Há germens de santidade em demônios, que brotam e medram, pelo calor do respeito e da consideração amorosa que lhe devotam almas santas, como Jesus que convertia pecadores que cruzavam, com abertura dalma, Seus caminhos. Por outro lado, há almas virtuosas que ainda portam dificuldades nesse ou naquele capítulo de aprendizado evolutivo, que têm seus caminhos atrapalhados ou terrivelmente bloqueados, por interferência criminosa daqueloutros que não sabem, como lecionou o Mestre: ver com olhos de ver.

Abra o olho, prezado amigo, enquanto é dia. Talvez, tarde demais, reconheça que maltratou filhinhos de Deus, quando ou os deveria conduzir a Deus, ou mesmo reverenciá-los, por estarem muito à frente de você.

(Texto recebido em 9 de junho de 2001.)