por Benjamin Teixeira.

A adorável Eugênia conversava comigo há mais de uma hora, madrugada a dentro, quando, de inopino, após instruir-me nos estudos do evangelho e de “O Livro dos Espíritos” e me esclarecer sobre eventos do cotidiano da perspectiva das passagens que ela pedia para ler, pediu-me: “Abra o Evangelho de Marcos, no capítulo oitavo”. E, depois de me solicitar que transcrevesse o trecho escolhido por ela, ordenou que eu mesmo comentasse o trecho, com os prezados amigos que agora me lêem.

Vieram os fariseus e puseram-se a disputar com Ele e pediram-Lhe um sinal do céu, para pô-lo à prova. Jesus, porém, suspirando no Seu coração, disse: ‘Por que pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo: jamais lhe será dado um sinal.”
(Marcos, 8:11-12)

É interessante que, logo após realizar a segunda multiplicação dos pães e dos peixes,
Jesus tenha sido posto à prova pelas autoridades de seu tempo, que eram um misto de
religiosos, acadêmicos e políticos, numa classificação moderna de funções. E,
entretanto, o Mestre afirma que os que pertenciam a tal categoria nunca teriam um sinal do Céu… Isto me faz lembrar de algumas coisas…

Recordo-me quando uma de minhas irmãs recebeu uma mensagem de Eugênia, entre um sem-número de outras, no correr dos anos, com que ela poderia publicar um livro se quisesse, e somente naquela mensagem de pouco mais de uma lauda, havia nada menos que dez dados fora de meu conhecimento, entre outros: desde a indicação de um romance que ela acabara de ler, o enredo da história, o que ela havia interpretado da obra, com que personagem tinha se identificado e o que Eugênia achava a respeito. Rememoro também uma única jovem que freqüenta o nosso grupo, que, pelo espaço de um ano e meio, recebeu todos os dias (exatamente isto: diariamente) mensagens pessoais de Eugênia, que chegavam ao prosaico de comentar conversas íntimas dela com a mãe, com colegas de curso (era universitária à época) e pensamentos que entretinha, secretamente, em oração – evidentemente chegando a especificidades totalmente fora de eu poder conhecer por vias normais de percepção. Num único dia, a tal moçoila chegava a receber três mensagens da mentora espiritual do projeto.

Embora algumas centenas de pessoas tenham tido a graça de receber mensagens pessoais da grande orientadora desencarnada do projeto Salto Quântico, apenas umas trinta a quarenta, no máximo, recebem, com certa periodicidade, informes diretos dela ou de outros mentores do projeto, a respeito de suas questões íntimas. E o que o prezado leitor poderia deduzir facilmente de minhas linhas? Pois é: os que mais recebem são os que, em tese, em primeiro exame ao menos, diríamos: menos precisariam. Não têm a menor dúvida da existência dos espíritos e consideram Eugênia tão real como eu, o médium que ela utiliza para se comunicar com o plano físico de vida. E por que isto aconteceria? Da mesma forma por que quem tem dinheiro faz mais dinheiro, porque tem mais poder para isto. Ou por que quem tem inteligência, mais facilmente adquire conhecimentos e entendimento do mundo. “Água só corre p’ro mar” – reza o aforismo popular. “Dar-se-á ao que tem e terá em abundância. Mas ao que não tem, tirar-se-lhe-á até aquilo que julga ter.” (Mateus, 25:29), asseverou Jesus.

Fé não é um presente que se concede gratuitamente a quem pede, e sim constitui difícil e complexa conquista de quem busca construí-la, por meio de pesquisa, meditação e muita oração, no transcurso de anos de empenho, decepções e recomeços. Por sinal, quem seria ingênuo o bastante para supor que algo de importante e grave se consiga facilmente, na primeira esquina da vida? Ninguém estranha que se dediquem 15, 20 anos ou muito mais, para que se saia do processo de alfabetização até se alcançar um nível relativamente bom de especialização,
para trabalhar como um engenheiro ou um médico, por exemplo. E por que supor que algo intrincado e sutil como a espiritualidade demande menos tempo de estudo e observação, treinamento e experimentação, que uma capacitação acadêmica de nível?

Vemos pessoas desiludidas falarem de fé, como se tivessem autoridade para isto. E, mais
curioso ainda: não se dão conta da leviandade em que incorrem e do patético de suas
afirmações, como um especialista em entomologia a discorrer de modo cético sobre física
quântica, ou um perito em matemática avançada atacar publicamente o valor de uma sinfonia de composição elaborada e excepcionalmente bela. Ninguém de sã consciência anuiria com tais atitudes, imediatamente compreendidas como insensatas. Mas por que, então, doutores em áreas variadas se julgam suficientemente aparatados e abalizados a discorrer com segurança fora do campo de seu domínio, como o ramo mais delicado e avançado do que poderíamos dizer, concomitantemente: filosofia e psicologia profundas, prenhe de elucubrações da mais elevada envergadura, como o setor das conjecturas atinentes à espiritualidade humana?

Seria por falta de base física para sua realidade? Não; porque existem regiões no cérebro já mapeadas para tais funções, conforme últimas descobertas das neurociências, como
a orbi-frontal direita e a parietal esquerda. Por outro lado, ainda que não existissem tais regiões do arcabouço encefálico humano, reflitamos nesta analogia: alguém cogitaria seriamente da inexistência do amor por seus filhos, por não se poder localizar um setor específico da neurofisiologia cerebral para seu afeto?

Leviandade, estultícia, muito pouca profundidade nas colocações e, principalmente, a
burrice suprema da presunção! – é isto que está por detrás do discurso materialista-ateu. Argumentos bobinhos, que até caem bem na boca de um colegial, como o de que a religião é instrumento de poder e manipulação de poderosos ou que constitui mero mecanismo escapista para o enfrentamento da dureza da morte soam tão rizíveis como o do sujeito que diz que não vai trabalhar para subsistir já que o dinheiro é sujo e é utilizado por “poderosos” para fins nefastos e conspiracionistas, ou como o de outro, rebelde biruta, que não deseja se
manter informado e preparado, por julgar que a civilização não passa de uma criação
compensatória e racionalizadora do universo animal da competição sexual entre seres
humanos. E, então, por qual motivo, para os doutores tão pernósticos do negativismo, dinheiro e cultura são sempre bons, mas espiritualidade e fé constituem sempre uma ideologia enganadora? Ah-ah! Vou dizer uma obviedade típica também de colegiais: eles também são ideólogos, só que sua ideologia é mentirosa e hipócrita, porque mascara os demônios da arrogância e da
imaturidade para enfrentar questões realmente complexas e de difícil oferta de
respostas, que sempre prefere clichês prontos e fechados à dor moral da reflexão profunda e da busca contínua do “mais alto”.

Um universo complexo e cheio de congruências matemáticas, como as que a astrofísica
revela… Uma biosfera rica em biodiversidade, sem nenhum motivo bio-evolutivo para
tanto… Um intrincado cosmo humano de cultura e significados… Tudo isto tendo surgido do nada, por efeito do nada? Francamente, quem seria tão tolo para crer nisto? Ah… mas os
fanfarrões da pseudo-inteligência (dever-se-ia dizer: proto-inteligência) do ateísmo não têm vergonha de apresentar suas dúvidas, conflitos e incertezas sobre o mundo humano como pretensa prova da não existência de Deus! É de pasmar! Que pouca inteligência! “Deus não pode existir, porque meu pai morreu. Eu orei e Ele não me atendeu!” Oh!!! Que rara compreensão do mundo! Ele nunca estranhou que milhares de pais de outras pessoas morressem todos os dias, mas só a morte do dele pode significar um evento cósmico! “Existem crianças inocentes morrendo de câncer, logo, Deus não pode existir!” Incrível! Se eu sou um ignorante em matemática e não entendo uma equação complexa desmonstrada por um catedrático, assevero, com firmeza, que não só a equação como o catedrático não existem… O que está implicado nesta inferência? Isto mesmo: uma presunção delirante, que leva o indivíduo a denegar o óbvio!…

Quem não tem fé e vive com raiva do mundo, frustrado, explodindo de inveja e espumando
de angústia, por não entender injustiças e se sentir um pobre coitado, qual a minha
impressão? Está vivendo (seria melhor dizer existindo) concorde a escolha que fez. Quer se sentir especial, muito além do que é, e paga um preço alto demais para um chimpanzé julgar compensatório. Mas este alguém quer, mesmo sofrendo muito, ser fiel ao seu desatino? Então, sofra, pelo tempo que precisar. É uma personalidade limitada na maturidade psicológica, narcísica e inapta a processar questões amargas, que prefere abdicar de compreender, para não que não seja afetada a imagem de excelência e imponência que criou de si mesmo. Quer, por fim, um mundo de ausência de responsabilidades profundas e de muita inconseqüência.

Enquanto isto, alguns se impregnam – e abundam em torno deles – as bênçãos do Céu, não porque sejam especiais, mas porque fizeram por merecer, por esforços intransferivelmente pessoais. Um dia, porém, assim como as crianças ficam adultas, os céticos e ateus serão convictos da realidade inconteste da espiritualidade, assim como hoje ninguém discute a existência de microorganismos, que foi motivo de escárnio e ataques tremendos a Pasteur, por parte da própria comunidade científica de seu tempo. A História e a Evolução têm uma força irresistível, que solapa a teimosia dos pretensiosos como um trator o faz à grama seca de um campo perdido…

(Texto redigido em 10 de novembro de 2005.)