(Esclarecendo os tópicos destacados pelas personagens “fofoqueiras” do artigo publicado ontem – “Trágica Ironia”.)


por Benjamin Teixeira.

Pelo fato de Chico Xavier responder, quando interrogado sobre alguns dos temas melindrosos ventilados pelas mexeriqueiras da narrativa publicada ontem – “Trágica Ironia” –, de modo pouco plausível (exatamente por sua extrema e sincera humildade), vejo-me no dever de esclarecê-los ao leitor menos versado na temática, ainda que de forma sucinta.

Sobre o uso de peruca, por exemplo, Chico asseverava utilizá-la por ser “uma pessoa muito vaidosa”… Imagine-se!…

Certa vez, recebendo homenagens públicas, em nome do Espiritismo, ao declarar sentir-se “um poste sobre que se apregoam títulos honoríficos à Doutrina Espírita” (como declarou inúmeras vezes a amigos e biógrafos), um engraçadinho saiu-se com esta: “Chico, cuidado para não cair na vaidade…” O insigne médium mineiro restringiu-se a responder, com a enorme presença de espírito que lhe era bem peculiar: “Como posso cair, meu irmão, se nem sequer me levantei?”

Eis os itens:

O uso de terno.

De fato, Chico Xavier, durante toda sua vida adulta, fez uso de ternos, mas, em sentido contrário ao da velada acusação de esnobismo nesta sua prática, utilizava-os normalmente sem gravatas, com caimento sofrível (aparentando sempre um número acima do apropriado à sua compleição no momento), em estado deplorável de conservação (além de invariavelmente parecerem fora de moda). Costumava ter um só terno. E quando alguém lhe doava um, apiedando-se do estado do que usava, ele doava… o novo! Fazia uso do traje formal, pelo seu perfil psicológico de elegância e recato, e não de opulência ou pretensão, em respeito, inclusive, à posição de grande responsabilidade que ocupava ante a sociedade, exigindo-lhe, como líder espiritual de milhões, uma postura distinta e nobre.

O uso de peruca.

Depois de certa idade, o inolvidável médium desenvolveu uma enfermidade no coro cabeludo, que lhe ocasionava manchas de desagradável aspecto, em posição de fácil visibilidade para quem quer que o avistasse. Algumas pessoas começaram a ter asco do instrumento vivo da Espiritualidade, apenas por causa disso, deixando de ouvir-lhe a mensagem santa. Certo dia, seu guia espiritual, Emmanuel, afirmou, a esse respeito, que não era justo “enfeiar o mundo com os próprios defeitos”, determinando que seu pupilo tomasse uma providência para ocultar a tal mancha. Chico, então, começou a usar boina, mas havia sempre aquelas criaturas que se achavam no direito de levar a boina da celebridade para casa, de brinde autoconferido. Foi quando surgiu a idéia da peruca, que utilizou até seu desencarne.

A presença em reuniões solenes para recepção de “títulos de cidadão” ou outras honrarias públicas.

Chico era destacada celebridade nacional, desde a juventude, mas em particular após os 60 anos, quando apareceu no assistidíssimo programa “Pinga Fogo” por duas vezes (1971 e 1972), ao que se seguiu uma série de aparições na televisão brasileira, até sua morte, mais de 30 anos depois. Sua presença, assim, causava ampla repercussão. Personalidades ilustres se congregavam, a imprensa se fazia maciçamente presente, centenas, quando não milhares, de curiosos se aglomeravam para acompanhar tais eventos. A dupla Emmanuel/Chico, então, aproveitava as oportunidades para dar visibilidade ao Espiritismo, divulgando-lhe ainda mais os postulados.

A delicadeza no gestual.

Nosso admirável Chico nunca ocultou haver passado por inúmeras existências físicas femininas, chegando a asseverar, para um de seus biógrafos, que esta foi sua primeira encarnação em corpo masculino, neste planeta (no qual reencarna há mais de dois mil anos). Naturalmente, sua doçura e candidez eram óbvias, mas de modo tão casto e puro como seriam as de uma mãe santificada pelas dores mais sagradas da vida. Andava, sim, de braços dados, afetuosíssimo como era, não só com amigos homens, mas, principalmente, com suas inúmeras amigas no gênero feminino, em quem via, sempre, figuras impolutas de mãezinhas amorosas. E fazia-o em público, exatamente porque não havia nada a esconder nesta atitude fraterna.

O Cândido Xavier dispensaria minha defesa (como de quem quer que fosse) – e hoje a faço mesmo discreta e contida, já que minha tendência de grande admirador seu é qualificá-lo de modo bem mais ousado, o que não considero produtivo, nesta oportunidade. Mas, quanto a quem, durante ininterruptos 75 anos (dedicados à mediunidade, dos seus 92 de idade), viveu para a caridade, para o socorro de seus semelhantes em todos os sentidos (materiais e espirituais), renunciando a fortuna, postos de poder e mesmo de maior visibilidade do que já tinha, dando amor sem tê-lo para si, recebendo ataques gratuitos e injustos e respondendo com mais manifestação de carinho e piedade, não há sombra de dúvida que se trata de uma personalidade altamente burilada no carreiro evolutivo, de modo que tão-só a má-fé, a má vontade e, permitam-me dizer, a muito mal-disfarçada inveja podem rebaixá-lo a um nível inferior ao patamar de uma alma santa.

Pela sua extraordinária sensibilidade medianímica, Chico ouvia (literalmente) os pensamentos de todos, num raio de doze metros em torno de si. E não se tem notícia de, nem sequer em um único episódio, haver perdido a compostura, ainda quando mais aviltado ou ofendido barbaramente, como lhe ocorreu um sem-número de vezes (chegando a levar socos em público). Mesmo sentindo as emoções destrambelhadas, as dores físicas, o fluxo desordenado do pensamento e as frustrações de centenas, milhares de pessoas, o médium ímpar mantinha-se inalteravelmente amável e sorridente, atendendo a todos com piedade cristã, ano sobre ano… sem exceções… Isso não é ser santo? É… talvez não… porque provavelmente se tratasse de um anjo… um anjo que esteve entre nós e usou vestes carnais humanas, para disseminar – sem retribuição que, nem de longe, estivesse à altura do quanto oferecia –, o manancial de afeto puro que vertia, inesgotável, de seu coração purificado em séculos sucessivos de martírio pelo Cristo e Sua Causa. Que Deus dê juízo, lucidez e serenidade a quem se confia ao despautério de lançar pedras no sol de luz espiritual que esteve entre nós, a mando direto de Jesus: Francisco Cândido Xavier.

(Texto redigido em 19 de novembro de 2007. Revisão de Delano Mothé.)

Observação Importante:

Apesar de estar sendo publicado separadamente ao de ontem (“Trágica Ironia”), este artigo, que esclarece o anterior, figurará, mais tarde, jungido ao que lhe deu origem. Assim, se o prezado internauta desejar arquivar ou remeter para alguém o conteúdo da “mensagem do dia” de ontem, aguarde por amanhã, quando faremos a fusão dos dois textos num só, já que não consideramos apropriado que aquela psicografia seja divulgada sem os necessários esclarecimentos desta.