Benjamin Teixeira pelo espírito Gustavo Henrique

Era uma vez uma jovem cheia de vida chamada Rebecca. Rebecca era dona de particular beleza, e vivia nos melhores círculos sociais. Jovem, era cortejada pelos homens, invejada pelas mulheres, mas não era amada pelos primeiros, que só a viam como objeto de consumo, nem querida pelas segundas, que não lhe notavam coração. Rebecca era alma rebelde e caprichosa, egoísta e mesquinha, que só pensava em seus interesses pessoais, tudo fazendo para satisfazer seus mais insignificantes caprichos, ainda que isso exigisse o sacrifício dos interesses ou mesmo das necessidades mais sagradas dos outros. Sentia-se inacessível e onipotente, aureolada pela sensação de impunidade.

Os anos, porém, passaram-se, e a velhice do corpo e a fealdade que lhe costuma acompanhar roubaram-se a flor do viço, o encanto e a voluptuosidade. O charme e a beleza que lhe poderiam exornar os anos da maturidade não tinha, porque precisariam ser assentados na serenidade, no equilíbrio e na elegância das almas nobres – de que Rebecca não partilhava a natureza.

Só havia que lamentar pelas oportunidades perdidas, pela fugacidade com que os anos se passaram, e pela surpresa com que se viu tomada por sua sina, de anos de suplício no ostracismo social e na miséria. Muito antes dos seus 40 anos, o seu trágico destino, escolhido por ela mesma, de solidão e desamparo, estava completamente delineado. Àquela altura, ela, que sempre conseguira seus partidos à custa do verdor do corpo, não tinha mais como concorrer com as jovens moçoilas, com idade de serem suas filhas. Seguiram-se terríveis 45 anos de tristeza e amargura, até que, octogenária, Rebecca abandonasse o corpo físico, com a mais funda consciência da dor, como é efêmera a beleza do corpo e de como não se pode nada assentar sobre suas bases evanescentes.

Restava-lhe aguardar nova reencarnação, para aferir a qualidade do aprendizado, sabe lá Deus quando…

(Texto recebido em 27 de julho de 2001.)