Benjamin Teixeira
pelo espírito
Egberto de Alexandria.

Reassuma o controle de sua própria existência. Não o delegue a ninguém.
Ausculte, consulte, reflita; mas, no momento crítico da decisão, seja você mesmo.

É possível até ser polido, conservador e obediente, sendo autônomo em suas idéias e posições de vida, bem como criativo em suas iniciativas. Para isso, porém, tem que se fazer as coisas por convicção e escolha livre e consciente e não por convenção, medo ou hábito.

Tenha medo do que se diz sem medos – se isso for verdade, é pessoa perigosa: não tem limites, nem bom senso. Duvide daquele que se diz sem tempo – provavelmente, é ocioso, escravizado a vícios caprichosos. Prefira a companhia dos que admitem seus medos: são mais honestos, e mais humanos; e dos que se dizem com tempo para você: querem-lhe bem de verdade.

Já notou como tem medo de ser feliz? É que ser feliz custa caro e dói mais, mormente quando o projeto de bem-estar fracassa. Mas o que você diria de um maratonista que desistisse da competição nos primeiros cem metros, alegando cansaço e preguiça? Se você desistiu de lutar por ser feliz, por viver seus ideais, por realizar suas vocações e perseguir seus valores, você pertence à pior categoria de fracassados: os que se apresentam derrotados antes de adentrar o campo de batalha. Se ser feliz é trabalhoso, muito pior é viver com as conseqüências da frustração e da angústia de não se estar vivendo plenamente, deixando passar o bonde da história e das oportunidades de se realizar e ser feliz.

Você está mal? Quem disse? Você mesmo? Mas ninguém pode ser o último julgador de si. Prossiga em seu posto de serviço no bem comum e o próprio serviço, paulatinamente, trar-lhe-á a força, a inspiração e a solução necessárias à resolução de seu problema. Parar de fazer o seu melhor e de oferecer os seus préstimos a seus irmãos em humanidade, por estar se sentindo bloqueado e sem ânimo é o melhor caminho para manter os fluxos da Vida fechados em sua direção.

Você tem dúvidas cientificamente educadas, com a mente treinada para um bom cepticismo, como um bom garoto das cartilhas escolares do positivismo tacanho do século XIX. A grande questão, entretanto, caro amigo, é que esse é um paradigma obsoleto e limitado, que não oferece recursos para açambarcar toda a extensão, complexidade, subjetividade e sutileza da existência humana, em sua multidimensionalidade e imponderabilidade. Ninguém anda submetendo o amor pelos filhos a testes laboratoriais, nem fazendo levantamentos estatísticos, para apreender o quanto há de beleza, graça, alma, propósito e espiritualidade em sua vida. Se, todavia, prefere duvidar ainda da existência de Deus e do Mundo espiritual, da própria imortalidade e do poder de mudar o próprio destino, pela faculdade de evoluir e decidir, então, você é um pobre coitado. Mas, por favor, não banque o pateta fazendo pose de inteligente, descolado e moderno – é tudo que não é, e se insistir em passar pelo que terminante e dramaticamente não é, você só passará por um deprimente ridículo, ante os olhos de quem realmente enxerga as coisas.

Por fim, a última sugestão: tenha pena de você mesmo e se poupe de tanto inferno, reclamando menos e mostrando-se menos crítico e intolerante com os outros: você está se convertendo, rapidamente, em um duende repulsivo e agourento que ninguém quer por perto, nem aqueles com quem mais desejaria, precisa e ama estar, porque, meu chapa, como você não convive com anjos na Terra – e nisso está certo – na medida em que você voluntariamente se transforma em demônio de insensatez e mal estar, afastará todas as criaturas de perto de si, a começar pelas que mais lhe poderiam fazer bem, que notarão seu desequilíbrio e lhe respeitarão a opção, afastando-se, deixando o terreno livre para os predadores de sua paz e de sua alegria de viver, que farão a festa sobre a carniça de seus sonhos despedaçados e cadaverizados, enquanto você, nos paroxismos de sua solidão “genial”, sofrendo “ingratidões e incompreensões”, estará, na verdade, curtindo nada mais que o resultado natural de suas escolhas. equivocadas.

Nesse momento, então, por favor, não dê uma de vítima e peça socorro ou blasfeme contra o Céu: deguste o destino que pediu e programou para si, e deixe em paz o resto da humanidade, que passará muito bem à distância de sua figura medonha, exatamente como supõe que sejam em relação a você. E o mundo, meu caro, seguirá e prosseguirá muito bem sem seu auxílio, enquanto vocè estará definhando sem perceber que vocè é quem precisava do mundo, mas seu orgulho não lhe permitia ver, e, tão cedo, não lhe autorizará ver, prolongando sua agonia… e sua tragédia… sua, para ser preciso… tragicomédia.

(Texto recebido em 13 de fevereiro de 2003.)