Benjamin Teixeira pelo Eugênia.

Sentindo que o medo o assola, angustiado até o último nível de nervosismo, considere que:

1. Quase nunca aquilo que se teme de fato acontece. Recapitule suas lembranças de pavor. Quantas delas de fato vieram a se concretizar? Essa rememoração deixar-lhe-á claro como é tolo se permitir atormentar pela ilusão do medo que só consome energias e até torna mais provável o acontecimento do improvável.

2. O medo é decorrente de um nível específico de ignorância. Quando o indivíduo se informa na área de seu temor, os receios perdem sua razão de ser, pela sensação de domínio da situação que surge. Recorde-se das estultícias que já se temeu, como por exemplo na época dos Grandes Descobrimentos, em que se imaginavam dragões horrendos e abismos medonhos, infindos, além das fronteiras dos mares conhecidos.

3. O medo é normalmente reflexo de baixo nível de entendimento e maturidade. Quando a pessoa atinge patamares de consciência mais altos, os medos vão-se diluindo. Assim, a criança teme o bicho-papão debaixo da cama; o adolescente tem delírios de pânico ao cogitar a possibilidade de ser rejeitado por seu grupo; e o adulto treme nas bases, com a eventualidade do desemprego ou do divórcio. Alcançando-se, porém, um certo estágio de lucidez psicológica, de adiantamento evolutivo, os medos se concentram em questões de foro íntimo, como o medo de não se vencer, o medo das próprias fraquezas, até que, por fim, os medos, tal qual os entendemos, desaparecem de todo.

4. O medo denuncia alguma lacuna de aprendizado, melhoria íntima, um alerta à prudência e ao bom senso. Muitas vezes o medo realmente tem razão de ser, e então espoca como uma sinalização salutar de mudanças importantes e inadiáveis a serem efetuadas por aquele que lhe padece, como uma crise da psique, carente de urgente metamorfose e expansão interiores. Um estudante pode pelar-se de medo dos exames no colégio, por saber não estar estudando o suficiente para ser aprovado. O medo, portanto, pode ser um convite à responsabilidade e à tomada de providências para justamente evitar que o motivo do medo se torne real.

5. O medo pode indicar que se está no caminho errado. O medo aparece, amiúde, como termômetro da consciência a evidenciar a saída de rota do próprio destino, fazendo com que tensões psíquicas se acumulem de modo insuportável, por o indivíduo intuir estar fora da trilha do planejamento existencial, do propósito de vida que o trouxe à existência física. Fazer um exame de consciência, para reajustar elementos desalinhados é o que se pede dos que sofrem desse tipo específico de medo.

Em suma, seja qual for a experiência de medo que atravesse, verifique que algo se lhe é exigido ou sugerido, como estímulo a seu progresso, ao seu depuramento como ser humano.

Claro que pequenas vivências do medo sempre existirão, como mecanismos naturais de preservação da vida biológica, inclusive. Dessarte, o susto, por exemplo, que se toma, ao ouvir-se ruído estrondoso e repentino, é mecanismo automático de defesa no indivíduo, preparando-o para a eventualidade de perigos à sua vida física, assim como o medo de teor exclusivamente psicológico, também denuncia que algo não vai bem, deixando-o de sobreaviso para enfrentar os desafios que porventura surjam.

Quem se assusta demais, todavia, ou, pior, quem vive em estado de medo contínuo, e, nos casos mais graves, quem vive sob o império da síndrome do pânico, sofre de séria patologia da alma, desconectado de sua linha de destino e de felicidade, em níveis tão intoleráveis que a psique literalmente entra em processo de ruptura.

Obviamente que existem as razões neuro-químicas associadas à síndroma supracitada. Entrementes, os mais honestos peritos no assunto reconhecem que se podem descobrir correlações entre os estados do pânico clínico e certos desequilíbrios na presença (ou ausência) de neurotransmissores específicos, mas não se pode dizer por quê isso de fato se dá. A questão está além do plano meramente neurofisiológico, tendo ascendentes bem mais complexos, no plano do espírito, da consciência ou da alma, como se queira chamar, da descoberta da finalidade existencial que faz alguém existir no plano material – para sermos mais práticos. Somente assim, os enigmas indecifráveis relacionados à saúde da psique humana podem ser devassados e solucionados.

Se você vive sob constante assédio do medo, verifique, prezado(a) amigo(a), de que forma está desconectado de seu propósito de estar na Terra, de sua alma, de seu ideal, de Deus… Volte-se para dentro, volte-se para o Alto, e todo terror conveter-se-á em amor. Liberte-se de suas visões mesquinhas, egóicas, imediatistas, hedonistas, e tudo se resolverá de modo osmótico, sem mesmo a intervenção de psicotrópicos. Psicofármacos são paliativos. Remonte às verdadeiras causas, e terá condições de encontrar uma cura efetiva, duradoura.

O medo, em última análise, é experiência da alma, em processo de crescimento, de complexificação, e constitui excelente instrumental de auto-descoberta e de auto-transcendência, favorecendo-lhe o bem estar, em planos mais altos de expressão.

Tranqüilize-se, querido(a) amigo(a): o medo, paradoxalmente, em vez de demônio devorador, como supunha, pode ser um dos seus maiores condutos à felicidade e à paz.

(Texto recebido em 24 de janeiro de 2001.)