No sábado 31 de maio, nas tradições católicas, lembrou-se a “Coroação de Nossa Senhora”. Logicamente, para os que não somos profitentes de religiões convencionais, tal reportação é feita em caráter simbólico, para que procuremos extrair suas significações profundas, em virtude de a cultura popular e os mitos religiosos portarem relevantes elementos dinâmicos da mente individual e coletiva.

Em psicologia profunda, a “Regina” (Rainha) constitui alegoria viva da expressão mais avançada da “anima”, o vetor feminino da psique. Quando pouco burilado, esse fator emocional da mente – digamos assim, à guisa de simplificação didática – manifesta-se amiúde ambivalente e mesmo traiçoeiro. Quando desenvolvido, converte-se em condutor da alma, um catalisador do processo do “vir a ser” de cada indivíduo, como dito em filosofia, ou um facilitador na árdua tarefa de “integração psicológica” ou “individuação”, conforme cada escola psicológica denomina a elaboração que se visa em psicoterapia. Uma contraparte equivalente existe para o “Rex” (Rei), em relação ao “animus”, o substrato viril das personalidades humanas.

Assim, não importando se apresentamos organismo masculino ou feminino, nem se nossa orientação é hétero, bi ou homossexual, aproveitemos a ocasião da data, para refletirmos sobre quanto já convertemos numa mestra íntima a função “par excellence” de orientadora do ser, como asseveram diversas junguianas – sim, as seguidoras do gênero feminil de Jung, mais autorizadas, portanto, a emitir tal julgamento, diferentemente do psiquiatra suíço, que a via como força diretriz exclusiva nos homens. Quanto este nosso guia oculto, revestido do halo de feminilidade interna, está imbuído de caráter numinoso, espiritual, maduro ao menos?

A “anima” representa o nosso emocional, como dissemos acima. E a emoção, em nossa cultura tão racionalista e arrogante, em suas pressuposições bisonhas de império da lógica sobre os sentimentos, é abominada como inferior e vulgar. Todavia, muito mais do que gostaríamos de admitir e do que, ainda quando muito sinceros com nós próprios, logramos perceber, as emoções “regem” o pano de fundo de nossos valores, decisões, reações, mesmo aquelas atitudes que se nos afiguram mais ponderadas e “pensadas”.

Então, segue a indagação propedêutica e reveladora, fazendo uso de uma metáfora rudimentar, mas que traduz, de modo mais prático e direto, a ideia central de tão complexa temática. Agimos, sentimos ou interpretamos os eventos da vida, internos ou externos à nossa pessoa, como uma mulher subdesenvolvida, infantil e mesquinha, ou como uma anciã sábia, amorosa e justa? Nossas emoções assemelham-se – com o perdão pelas expressões mais populares e chulas – às de uma “mulherzinha” ou às de uma “grande dama”?

Essa analogia um tanto grosseira, embora mais efetiva na articulação sumária do tema, é não apenas válida como de capital importância para homens heterossexuais, a fim de que reflitamos acuradamente em torno do assunto, pelo exato motivo de nos ser mais estranha a noção de portarmos um vetor psíquico (e muito ativo) de natureza feminina. Em particular porque, quanto menos um homem percebe essa força motriz em sua psique, mais ela atuará no domínio do inconsciente, o que equivale a dizer: de maneira perigosa, por estar livre de fiscalizações e avaliações da mente consciente, compelindo o incauto a atitudes “irracionais” ou “compulsivas”, sem que ele consiga apreender o motivo para tanto ou descobrir meios de autogoverno.

Refinemos nossa forma de sentir, de filtrar a realidade, nosso discernimento, porquanto o conjunto de nossas emoções-sentimentos condiciona-nos o destino, propiciando maior ou menor satisfação e realização pessoais, além de mais amplo ou mais estreito serviço e qualidade do serviço que prestemos ao bem comum.

Intuição, empatia, capacidade de perceber propósitos na existência e suas complexidades e imprevisibilidades… Quem duvida, nos dias de hoje, que essas sejam aptidões de relevo para o êxito de uma pessoa em qualquer âmbito da condição humana? São funções, a rigor, diretamente relacionadas ao nosso feminino interno.

Como é fácil inferir, considerando a média evolutiva dos habitantes da Terra da atualidade, o arquétipo da “Rainha Interior” é lamentavelmente pouco comum (ou pouco ativado), até mesmo em mulheres heterossexuais! Por isso, escasseiam líderes e sábios, de ambos os gêneros, que não sejam meras autoridades ou peritos, numa área de saber e ação. Onde os mestres e mestras em inspirar almas a um propósito maior para viver, a começar por motivarem, primeiramente, a si próprios(as)?…

Espírito Gustavo Henrique.
Médium: Benjamin Teixeira de Aguiar.

(Psicografia de 1º de junho de 2014.)