por Benjamin Teixeira

E quanto às consultas pagas?

Outro tema dos mais patéticos. Antes de mais nada, devo esclarecer que não vendo a mediunidade – isto seria completamente equivocado, e vivo este princípio. Vendo meu tempo livre (de parte de dois dias na semana), para dar aconselhamento pessoal aos que desejam usufruir deste serviço, a fim de prover meu sustento e investir na própria obra por que sou responsável. Os que não podem pagar têm o mesmo benefício, ao final de minhas palestras, quando sempre atendo, gratuitamente, a qualquer um que me procure, todas as semanas, desde que iniciei este trabalho, há quase duas décadas conclusas.

Viver exclusivamente para a causa espírita seria um erro? Preconceito bobo e, ao que me parece, mal-intencionado. Allan Kardec declarou, publicamente e por escrito, que editava a Revista Espírita para se manter; que aplicava o rendimento dos seus livros como bem entendia, apesar da assistência dos bons espíritos em seu trabalho, porque era SEU trabalho; e que não daria contas a ninguém do que fazia, a não ser para quem pretendesse consultar-lhe os livros caixas após sua desencarnação (pois é: ele foi firme assim neste particular). Para um bom observador, por outro lado, fica claro que, se alguém quisesse enriquecer ilicitamente, locupletando-se com a boa-fé alheia, com certeza não se dedicaria a um trabalho que estimula o senso crítico, nem muito menos se infiltraria num ambiente avesso a remuneração e a dízimos, como o espírita.

Ainda com relação ao trabalho em tempo integral e regime de dedicação exclusiva a que me devoto, vale lembrar que as escolas prosperaram enormemente – e, com elas, o mundo ocidental, por conseguinte –, quando surgiu a profissão de professor.  Respeito aqueles que dedicam ao Espiritismo apenas o seu tempo livre, seja o do lazer na adultidade, ou o propiciado pela aposentadoria, na maturidade e na senectude. Mas creio que deva igualmente esperar que respeitem minha decisão de começar a trabalhar desde a juventude, nesta obra que sei ser o propósito de minha existência. Ademais, só devo contas à minha consciência e aos mentores espirituais – e, quanto a estes, sei muito bem o que pensam a respeito e de como as aparências enganam, com pessoas ostentando falsas virtudes, quando são apenas puritanas e covardes.

Jesus acusou, inúmeras vezes, de hipócritas, os religiosos moralistas de Seu tempo. E, quanto a este assunto em particular, o Cristo, que, durante seu período de pregação pública, não tinha outro ofício que não divulgar a Palavra Divina e realizar os prodígios de Sua mediunidade genial e sem precedentes, afirmava que o trabalhador é digno de seu salário, chegando mesmo, em certa ocasião, a produzir um “milagre” especificamente para pagar o imposto a Roma, mandando Pedro retirar uma dracma da boca de um peixe. Isto tudo está registrado nos Evangelhos sinópticos.

E quanto ao fato de você ter suspendido o curso de Direito no último ano, tem algo a dizer?

Respeito profundamente a instrução formal. Aconselho sempre, enfaticamente, que as pessoas adquiram títulos, que estudem, que façam, quanto possível, cursos de pós-graduação, mestrado, doutorado. Sou cercado de pessoas com nível altíssimo de escolaridade, com inúmeros doutores (literalmente: grandes acadêmicos e cientistas com doutorado) e catedráticos, inclusive, como assíduos freqüentadores de minhas palestras e de meu consultório. Logo, falo para gente informada e instruída, seja formalmente ou não. Somente um desatinado diria ser inválido o estudo formal. Entretanto, no meu caso, tratou-se de uma escolha que tive que fazer, quando, sobrecarregadíssimo de afazeres, estava na iminência de lançar o programa de televisão (que já era transmitido há mais de um ano, em Sergipe) em “pool” com a Bahia, além de, simultaneamente, estar nos preparativos exaustivos e finais para a publicação do primeiro livro de minha lavra mediúnica “A Princesa do Mediterrâneo” – hoje sou autor de 16 obras, quase todas psicografadas.

Para pessoas esclarecidas e sensatas, porém, jamais esta particularidade sobre minha educação formal constituiu qualquer ordem de impedimento para meu trabalho, primeiro porque vivo me instruindo (sou um generalista, e é até muito bom que conheça um pouco de tudo, sem me aprofundar muito em nada – já que só especialistas podem se aprofundar: o conhecimento humano é hoje vastíssimo em todos os sentidos, para a capacidade de uma única mente humana –, para que possa criar um fio lógico de fusão entre o saber dos especialistas de diversos setores do conhecimento humano que me procuram, com seus dramas de excesso de especialidade); segundo, porque sou médium, e há uma famigerada tradição, no meio espírita, de os médiuns de maior responsabilidade coletiva não serem muito escolarizados, da qual Chico Xavier é o exemplo máximo, com seu apenas quarto ano do ensino fundamental concluído.

Jesus não tinha titulações, nem se fala que qualquer médium de kardec ostentasse alto nível de saber científico ou erudição. Creio até que esta condição de indefinição ideológica – digamos assim – propicia-nos (a nós, médiuns) uma maior maleabilidade conceitual, para que sejamos mais fidedignos representantes do pensamento dos mestres desencarnados, sem inclinar ou distorcer-lhes muito as idéias, conforme idiossincrasias principiológicas e mesmo vícios epistemológicos atinentes a cada disciplina do saber humano. Um especialista tende, naturalmente, a ver o mundo pela ótica de sua especialidade, como, por exemplo, um júris-pensador, que enxergará querelas humanas em tudo; ou um médico, que verá organismos e sistemas biológicos em toda parte; ou, ainda, um psicólogo, que vislumbrará problemáticas emocionais em qualquer situação. Mas veja-se que, de modo algum, estou propugnando que médiuns não estudem, não leiam, não se mantenham informados, ao menos medianamente, em torno do que se passa no mundo. Apenas avento a hipótese, comprovada historicamente, de que a formação acadêmica, para médiuns de trabalho coletivo em grande expressão, não só é dispensável, como, pela razão acima apresentada (da maior isenção e flexibilidade de conceitos), pode ser mesmo prejudicial, induzindo o porta-voz encarnado a filtragens inapropriadas, refratadas por certo tom mental, que distorçam o raciocínio original dos autores desencarnados, pelos naturais condicionamentos de pensamento e interpretação que as academias imprimem nos indivíduos – evidentemente, comprometedores do processo de traduzir, com fidelidade, o que outras inteligências pretendam comunicar.

Tem mais algo a dizer sobre o que lhe propusemos?

Sim. Recentemente, falava com uma amiga querida: as pessoas decentes se reconhecem pelo olhar. A desonestidade e a enganação “fedem” à distância (desculpem a analogia grosseira), tanto quanto a maldade da inveja, o olhar iracundo e os trejeitos nervosos e suspeitos de quem está “escondendo o jogo”, porque tem interesses feridos ou mágoas pessoais por detrás de seu discurso. Claro que todos nós temos “pontos cegos” na percepção e avaliação de pessoas e somos, volta e meia, ludibriados por “espertalhões” – que há em todas as atividades e áreas do conhecimento humano. Mas, de uma forma geral, pessoas dignas reconhecem indivíduos honestos e gente idealista. Quem é bem intencionado se reconhece num simples “bater de olhos”, ainda que não haja simpatias pessoais – o que é outra questão, completamente distinta: podemos não gostar de alguém, e, mesmo assim, saber que a pessoa é sincera.

Há gente aparentemente injustiçada e lesada que apenas projeta seus problemas, frustrações e caprichos feridos em pessoas escolhidas como objeto de suas acusações e de sua transferência de responsabilidade. Têm inveja e não suportam admitir a superioridade de quem ocupa o lugar em que gostaria de estar. Sua fúria irracional e sua atitude capciosa, agindo por trás, sem enfrentar pessoalmente o adversário, já seriam suficientes para desmascará-los na condição de, no mínimo, indivíduos imaturos, histéricos e covardes, carentes de tratamento psicoterápico. Se têm razão contra quem atacam, por que não estendem a mão, em vez de acusar pelas costas? Por outro lado, tendo mesmo razão, deveriam apresentar realizações mais nobres, amplas e sérias que as de quem lhes sofre o ataque. Gente mal-intencionada e – para nós, que acreditamos (sabemos) – teleguiada por agentes tenebrosos do plano extrafísico de vida faz uso de ares de vítima para disseminar a calúnia em torno de personalidades honestas que se dedicam integralmente ao bem do próximo. Permita-se-nos reiterar: uma terrível justiça, lamentavelmente, as espera, principalmente se demorar a chegar, porque virá muito mais poderosa em seus efeitos cármicos, como uma panela de pressão do destino que explodisse e respingasse óleo fervente para todo lado… E, quase sempre, tanto o caldo do carma começa a entornar no presente, como transbordará ainda mais amanhã, num encadeamento de desgraças de que dificilmente se desvencilham as pessoas que as sofrem, porque tais personalidades muito raramente reconhecem sua própria responsabilidade em gerar tais seqüências de infortúnios em suas vidas, quando não cinicamente julgam-se vítimas (retroalimentando umas às outras, na sua visão fantasiosa e distorcida da realidade), o que, ironicamente, contribui para que seu destino fatídico seja cumprido até o fim. Deus dá ao culpado tempo de se arrepender, antes que o pior aconteça… e acontecerá, fatalmente, pelas indefectíveis engrenagens da lei de causa e efeito, sobretudo quando se pretende atassalhar obras de interesse coletivo, para o bem da humanidade.

(Revisão de Delano Mothé.)

(*) A primeira e a segunda partes deste material foram publicadas neste site, respectivamente, nos dias 25 de agosto e 17 de outubro, e você pode acessá-las clicando em “Mensagens Anteriores”, procurando estas datas.

Veja a “Notícia da Semana”, clicando ao lado esquerdo de seu monitor, a matéria “Êxtase Coletivo”, assinada pela jornalista sergipana Thaïs Bezerra.

(Nota do Departamento de Divulgação)

Fonte: http://www.saltoquantico.com.br