Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Relutante, você supôs-se incapaz de caminhar, mas, notando o olhar confiante de dois entes queridos que sorriam em sua direção, deu os primeiros passinhos, confiando-se ao “impossível”, por gesto louco de amor. E o “milagre” aconteceu: você aprendeu a andar.

Cabisbaixo e pouco confiante em si, não cria em sua capacidade para aprender algo tão complexo como ler e escrever. Todavia, seus mestres não desistiram de você, ensinando-lhe pacientemente as primeiras letras, e eis que, em pouco tempo, quedava-se satisfeito consigo: estava alfabetizado.

Mais tarde, disseram-no capaz de subir numa bicicleta, sem o auxílio, condescendente das rodinhas laterais, e você, embora não fosse um especialista em Física, concluiu ser quase de todo improvável que alguém pudesse se equilibrar sobre qualquer veículo com apenas duas rodas alinhadas. Viu que outros o faziam, e não sabia como: afigurava-lhe um mistério indevassável. Mas confiaram em você, sustentaram-no por trás, enquanto tentava equilibrar-se pela primeira vez sozinho, e, inobstante haver caído algumas vezes, por fim, um dia, conseguiu manter-se firme, pedalando sobre duas rodas e sem qualquer tipo de ajuda externa, fossem rodinhas ou outra pessoa, a segurar a bicicleta.

Da mesma sorte, amigo, você sente não ser possível atingir um novo nível de consciência, aprender a buscar Deus e o amor de modo mais expressivo. E, no entanto, trata-se apenas de um novo desafio evolutivo, sua nova etapa de aprendizado e crescimento, que se desdobrará, mais cedo ou mais tarde – mais cedo, se houver a participação efetiva de sua disposição consciente nesse sentido.

Confie-se aos seus amigos espirituais, que lhe acorrem pela inspiração, na voz da consciência. Sustente-se em companheiros mais experientes no assunto, que estejam ao seu lado, em corpos de carne, e vá exercitando, por conta própria, suas próprias asas espirituais. Um dia, então, tão naturalmente como aprendeu a andar, a ler e a escrever ou a andar de bicicleta, singrará o seu primeiro vôo aos altiplanos da consciência transpessoal, qual um filhote de águia que testa, pela primeira vez, sua segurança nos ares. E, assim, logo chegará o dia em que contemplará as alturas infinitas do céu e o brilho imarcescível do Astro Rei, e dirá, consigo mesmo, prenhe de um júbilo indescritível: “Eu sou dono de mim e do meu vôo… Eu pertenço à Vida, e a Deus, e ao Mundo… Eu sou parte de Tudo!…”


(Texto recebido em 04 de março de 2000. Revisão de Delano Mothé.)