Não me são frequentes as experiências lúcidas fora do corpo físico, durante o sono, e a maior parte delas não tenho autorização para publicar, inclusive porque algumas não guardam qualquer utilidade espiritual em serem partilhadas com terceiros.

Todavia, a mais recente, que me aconteceu há dois dias, apresentou o caráter de esclarecimento coletivo, e me foi solicitado, pelos(as) Orientadores(as) do Domínio Maior de Vida, que a trouxesse a lume.

Tratou-se de experiência mista, que geminou lembranças do passado com uma intensa projeção da consciência, coroada com – o item mais relevante – uma magnífica lição espiritual de Eugênia-Aspásia, a venerável Orientadora do Plano Celeste de Consciência.

Creio justo explicitar (para lhes creditar o devido mérito) que, no registro desta vivência, sou acompanhado, bem de perto, por dois Amigos Espirituais que preferiram, entrementes, permanecer no anonimato. Por isso, na psicografia semimecânica a que me confio, com um deles em particular, peço sentidamente desculpas pelo vernáculo menos usual que o companheiro desencarnado se apraz em utilizar, dado o ambiente lusitano clássico em que reside, apesar de eu ter abertamente interferido para suavizar esse efeito no resultado final deste texto.

Segue-se o relato, em linhas gerais.

Acordei-me diante de cenário espetacular. Embora conheça quase nada de engenharia náutica, ‘inda menos em seus aspectos históricos, sabia estar, por interação telepática com a Espiritualidade Maior, diante de uma embarcação de grande porte, da primeira metade do século XVII, em alto-mar, rumando na direção da América do Norte e carreando em seu bojo alguns dos primeiros colonizadores dos Estados Unidos, cristãos protestantes vindos da Inglaterra ou da Holanda.

Próximo da popa da nau veleira que rangia sua estrutura tosca de madeira, pude ver um homem louro muito magro, visivelmente maltratado pela subnutrição – quiçá vítima de escorbuto –, trajando, mal-ajambrado, uma camisa branca manga-longa com vários botões abertos, padecendo sede e calor indizíveis (a água potável era escassa nessas viagens transoceânicas de séculos passados), num mormaço torturante que lhe intensificava os padecimentos morais. Ele esticava o olhar na direção do Alto, sequioso de obter estímulo à esperança, acompanhado por uma jovem mulher, ambos com 30 anos presumíveis, angustiados pela travessia demorada e assustadora do oceano.

A essa altura do detalhamento da cena, a voz dúlcida e firme da adorável Mestra Espiritual Eugênia-Aspásia fez-se ouvir, enquanto recuávamos do quadro, qual se houvéssemos ali aparecido na tentativa de prestar alguma ordem de conforto a tão sofridas almas:

“Reconhece-se um(a) cristão(ã) verdadeiro(a) por dois elementos simbolizados na espada metafórica da cruz: as escolhas pelo melhor, normalmente muito difíceis, e a disciplina resoluta e inamovível por mantê-las – uma trava a sustentar outra, suspendendo a criatura entre a Terra e o Céu!…”

Cessou o Guia Espiritual, logo após fazer reverberar sua sentença na acústica de minh’alma, e, em seguida, vi-me preso a forte preocupação: de não perder a memória da máxima ouvida, que embotara, à minha vista, toda a beleza da vívida e antiquíssima reminiscência…

“Meu Deus!…” – dizia sucessivas vezes, de mim para comigo mesmo. “Não posso me esquecer de tão significativa mensagem, ao voltar ao corpo físico.”

A tensão construtiva tragou-me de volta ao casulo de matéria densa. Abri os olhos, agradecido pela oportunidade de despertar naquele momento, fixei as lembranças no cérebro do organismo material e confiei-me novamente a inadiável repouso.

Eugênia-Aspásia (Espírito) e Amigos Espirituais
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Aracaju, 11 de abril de 2017