Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Nesta época de reivindicações de direitos, de protestos democráticos, respeito às minorias e luta pela igualdade – muito justos, por representarem importante conquista no Direito e na Cultura humanas, após milênios de opressão irrestrita – uma série de abusos, quais efeitos colaterais do processo de politização das massas, têm acontecido.

As pessoas não se toleram mais, reclamam por tudo, não sabem ser indulgentes com as falhas alheias. Tudo é motivo para briga, para um “sue” (processo), como falam os americanos. Mulheres não agüentam mais a rudeza típica dos homens, nem homens toleram as idiossincrasias características à feminilidade, como o falarem muito, para desabar.

Na época de forte renascimento das igrejas reformadas, principalmente as neo-pentecostais, aparece também o “boom” de interesse pelo espiritual, pelo mediúnico e paranormal, indicando que, além do progresso científico-tecnológico e cultural-social, não se pode prescindir de paralelo progresso dos sentimentos, da ética, da moral. Chegou a hora, assim, de averiguarmos a quantas vão nossos princípios cristãos e a medida de sua aplicação em nossas vidas.

Aprenda a conviver com a diferença. Se for perspicaz e não se deixar levar pelas emoções, notará que, ao reverso de trágica, a diferença constitui uma bênção, e não é só compreensível, mas desejável, em vez de ser detestável e abominável, como se costuma pensar. O irmão impaciente e agressivo é mais produtivo e disposto a enfrentar desafios complexos. O colega de serviço mais meticuloso, metódico e neurótico é, provavelmente, excelente organizador e administrador de recursos. A irmã estróina e volúvel, dada a extroversões exageradas, pode ser alma desesperada, à procura de carinho, simpatia, afeto, após séculos de angústias inomináveis em regiões infernais de degredo na dimensão extra-física de vida. O chefe tirânico e arrogante, sem dúvida traz chagas purulentas no coração, a tresandarem odores fétidos para sua mente, aturdida de tanto sofrimento, transbordando, assim, em surtos de misantropia.

Defenda-se, assim, prezado amigo, de abusos e ataques gratuitos, mostrando-se correto e justo em todos os seus posicionamentos, respondendo com moderação, reagindo com equilíbrio e até energia (sem excessos) às invasões a seus direitos. Todavia, regule suas expressões de raiva e irritação, para que não seja também injusto, cobrando de doentes da alma um comportamento de sãos, assim como exigindo de infantes do espírito uma conduta de anciães sábios.

Por fim, recorde-se de que você próprio carece, tanto quanto seus irmãos em humanidade, da mesma indulgência e compreensão, que resiste em oferecer aos outros, para com suas falhas e deficiências, psicológicas, intelectuais e morais; e, sempre cônscio da extensão de sua falibilidade humana, será mais fácil ser condescendente com o próximo, para que possa, então, esperar complacência para com suas próprias limitações.

Dilate, assim, quanto possível, suas reservas de paciência, compreensão, bonomia. Seja político, psicológico, negociando sempre, por mais difícil a situação, procurando manter os “nervos” sob controle. Notará que, independentemente da circunstância, a abordagem diplomática é invariavelmente a mais produtiva e eficiente para a solução de pendências. Agir assim não é sinal de hipocrisia ou insinceridade, mas atestado de inteligência, maturidade e auto-controle.

Não se esqueça, outrossim, que se, além de pretender ser um cidadão maduro e reto, almeja ser um bom cristão e espírita, então, prezado amigo, tal atitude é-lhe não apenas a alternativa mais prática e inteligente, mas também um dever moral indiscutível.

Agindo assim, com o perdão e a gentileza, a atenção e o serviço solidário como filosofia contínua a nortear-lhe a conduta, notará que não só apagará incêndios em sua existência, como transmutará o incendiário dentro de si, favorecendo, estendendo e aprofundando sua felicidade, tanto quanto abreviando crises e contratempos diversos.

(Texto recebido em 1º de junho de 2003.)