Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Você cometeu algum erro? Consideremos, então:

1. Muitas vezes, o remorso constitui uma forma de a mente garantir que nunca mais enveredará pelos mesmos caminhos. Tenha cuidado com esse mecanismo, porém, que pode se descontrolar, excedendo-se nos meios de precaução: a emenda pode ficar pior que o soneto, e perigosas paralisias da alma congelarem seu bom ânimo, para o trabalho no campo do bem que é quem, de fato, pode redimi-lo.

2. Lembrar-se de haver incorrido em falhas é próprio da condição humana, encarnado ou desencarnado, em relação a essa ou a antigas vidas. Quem não se percebe em falta não está evoluindo ou está dementado. Somente alguns tipos de psicopatia ou criminalidade impedem o ser humano de se flagrar em erro.

3. Se a Divina Providência permitiu que incorresse em erro, foi por considerar que tinha algo a ser aprendido na experiência, por mais dramaticamente dolorosa que viessem a ser as consequências.

4. A necessidade de autoperdão que o deslize propicia desenvolve, no indivíduo, a capacidade de ser indulgente com o próximo. Nada como resvalar em deslizes que firam os próprios brios para expandir a capacidade de ser compreensivo com os desmandos alheios.

5. A dor da crise, por perceber-se limitado, favorece uma guinada ou um esforço de empreender uma transformação profunda no próprio padrão de consciência. A tranquilidade do mar morto de quem está satisfeito com o próprio nível evolutivo é muito pior que a angústia de quem se nota limitado. No primeiro caso, a pessoa se ilude quanto à própria situação; no segundo, tem oportunidade de buscar o progresso.

6. A dor das primeiras quedas afigurava-se tão medonha para sua psique, que mecanismos de defesa foram criados, a fim de que não percebesse a dimensão de sua falha, e, ironicamente, levou-o a cometer mais do mesmo equívoco, talvez de forma mais grave, já que havia uma clara denegação do erro, por meio de elaboradas racionalizações. Desfaça esse mecanismo, para que erros menores não lhe conduzam a erros maiores. Enfrente a própria consciência com imparcialidade, com honestidade para consigo mesmo, e, assim, assimilará todo o conteúdo de aprendizado que a experiência lhe tem a ofertar. Fugir desse confronto honesto consigo, porém, muito embora possa ser emocionalmente confortável num primeiro momento, traz trágicas conseqüências no futuro.

7. A dor infinita de agora converter-se-á na alegria branda de amanhã, quando todas as feridas cicatrizarem, e você puder ser feliz, livre de culpas, porque se terá compensado infinitamente também, pela prática do bem.

8. Deus é Infinito Amor, amigo. Confie em Sua Divina Providência. Nada acontece por acaso. Até os piores erros podem-se transfundir nos mais magníficos acertos. Paulo de Tarso foi o primeiro e talvez o mais perigoso tirano da história do Cristianismo, já que tentou promover uma dizimação da diminuta comunidade cristã da época. Paradoxalmente, foi ele mesmo o primeiro grande divulgador da Filosofia Cristã, sem o qual o Cristianismo realmente teria desaparecido, como uma seita judaica de tempos idos, principalmente após a diáspora judaica do ano 70. Aqueles que maior poder construtivo e criativo têm, são também portadores dos mais devastadores potenciais destrutivos. Aceite essa ambivalência torturante da condição humana e, se percebe raízes de sua alma se estenderem ao fundo dos infernos, recorde-se de que galhadas de seu espírito podem alçar-se aos céus, conquistando-lhe a bênção de Deus, pela canalização de suas paixões para a prática do bem.

9. Corrija-se, purifique-se, aceite-se, perdoe-se, ame-se. Corrigenda, sim; autoflagelação, nunca. Assim, amigo, não se deixe abalar se seus sonhos de realização não se concretizaram, padecendo o tormento do pesadelo da frustração, da desilusão consigo mesmo. Converta sonhos em projetos, filtre as fantasias do planejamento, para que as asas de anjo que você ainda não possui deixem de ser consideradas premissas, num trabalho que precisa estar assentado no chão da sua realidade psíquica, por mais dura seja de aceitar.

10. E, como última reflexão, considere, meu filho, que sua dívida, é com a Lei da Vida. Se falhou agora, corrija-se adiante, e siga. Quando as Forças da Vida se houverem saciado de compensação, pelo esforço que, sinceramente, houver envidado em ressarcir-se, nada lhe cobrará tributos pelos equívocos de ontem, ao menos de modo que lhe perturbe, porque sua consciência estará saciada de autovingança, ou, em palavras e conceito melhores: o progresso já haverá sido feito, não subsistindo, assim, a necessidade de mais sofrimentos depuradores.

(Texto recebido em 28 de setembro de 2001.)