Quando se contorce em dores de parto, o organismo feminino revela uma resistência ao que acontece desde o princípio da gestação: o conflito entre o instinto de conservação individual e o de perpetuação da espécie.

Ledo engano, porém, porque o que parece um prejuízo pessoal, tanto na aguda dor do parir quanto no incômodo da gravidez, representa não só um louvável serviço – a participação no processo de geração d’outra vida física –, mas também um evento que renderá grandiosas e ignotas alegrias ao coração materno, além de créditos espirituais especiais, sobremaneira se houver bom cumprimento da augusta função maternal. Ou seja: é acionado um mecanismo de compensação cármica que faz o benefício concedido à outra criatura (sua filha) reverberar em prol da própria alma que o oferta.

A metáfora é excelente para a temática espiritual. Ocorrências e intercorrências similares ao desconforto de uma gestação e ao “arrebentamento” de um parto espocam na esfera das disciplinas místicas e morais, quais as crises existenciais que “arrebentam” estruturas e formas de vida de quem adentra, efetiva e profundamente, uma transição de despertar para um patamar mais elevado de consciência e percepção.

Por outro lado, entretanto, práticas como a oração e a meditação favorecem a sintonia sistemática com Agentes e Forças da Supraordenação, que conferem serventia a detritos de situações perdidas e a escombros de acontecimentos passados nefastos, no sentido de convertê-los em material para a edificação de uma nova morada existencial, uma nova e mais feliz linha de eventos, no presente e, mais certamente, no futuro, propínquo ou longínquo.

Disciplinas espirituais estabelecem o alicerce e mesmo a consolidação dos pilares e vigas de um modo de vida superior e mais satisfatório. O empenho meditativo-oracional constante e seus inexoráveis desdobramentos em atitudes fraternas constituem paradoxalmente a base e o pico das vivências de um indivíduo que almeje a plena realização pessoal e, quanto possível, a transcendência de si.

Importa destacar, em contrapartida, que as elaborações da mente são intrinsecamente complexas e que, portanto, jamais se podem menoscabar as experiências de contato com a sombra psicológica, com tudo que diga respeito ao ego e seus aspectos mais primitivos e/ou menos saudáveis. Tais experiências conformam o polo oposto ao trabalho com o Sublime, já que o fluxo da energia criativa da transformação precisa dos dois polos em ação contínua para surgir e agir.

Assim, que cada buscador(a) da luz procure, paralelamente a seus exercícios espirituais, dedicar-se a atividades, no âmbito do lazer ou do desporto, que contemplem e amanhem o campo visceral de sua natureza profunda, conforme seu atual estágio evolutivo, para que o imanente colabore com o Transcendente.

Ao negar, para si, estas três faces da ascese: 1) desapegar-se do passado, 2) sofrer o nascimento do futuro e 3) aceitar e administrar as contradições de elementos do passado e do futuro que coexistam no presente, o(a) candidato(a) à Espiritualidade necessariamente descambará para algum grau, em combinações variegadas, de hipocrisia, dogmatismo e rigidez psicológica e moral.

Eugênia-Aspásia (Espírito)
em Nome de Maria Cristo
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Bethel, CT, região metropolitana de Nova York, EUA
27 de agosto de 2020