Se alguém o culpa, e você, em certa medida, sente-se realmente culpado, cuidado para não cair na tentação do remorso. Seu amigo e você podem ter razão, até certa medida, quanto a sua responsabilidade de ser melhor. Mas jamais com relação a dever se consumir nos dramas da culpa – que é sempre destrutiva, minando, inclusive, as forças do indivíduo para superar o mal a ser erradicado.

Se alguém o culpa, provavelmente tem também culpa no cartório e, provavelmente, mais que você, por projetá-la, não enxergando-a em si. Ou não tem estrutura psico-moral para vê-la ou não quer vê-la, protegendo seu narcisismo com a projeção psicológica, preservando a imagem impoluta que faz de si.

Sendo assim, não se renda a comportamentos autodestrutivos e desanimadores. Você deve recuperar sua autoestima. Se alguém o manipula pelo amor que lhe cede, deixe claro que não é manipulável, e procure afeto em outro lugar, em outros corações, começando pelo seu próprio, para que nunca dependa da aprovação de ninguém para ser e fazer o que sua consciência lhe pede.

Autossuficiência, independência, autonomia de pensar, sentir e agir é direito inalienável de toda criatura e, em contrapartida, um dever a ser cumprido, à risca, sempre. Não para ser rebelde, agressivo e confrontador, mas para ser livre para pensar e decidir por seus caminhos, sem se prostituir com a concordância dos outros.

Pense bem quanto aos rumos que dá à sua vida. São escolhas suas, de fato, ou está sendo conduzido pelos interesses, valores e visão de outra pessoa? Claro que deve estar aberto às ideias, às opiniões, ao ângulo de observação dos outros; mas apenas em caráter de enriquecimento de sua perspectiva; jamais para ceder o seu poder decisório a ninguém, o que seria trágico desvio moral. Se você precisa de alguém para se sentir bem é o primeiro sinal de alerta para a necessidade de se libertar de um jugo tirânico para sua consciência, ainda que essa pessoa só lhe queira o bem e, de fato, seja muito lúcida e bem intencionada.

Faça isso e faça agora, antes que seja tarde demais e, para fazer o processo de retorno à sua autonomia de ser senciente, precise ser submetido a períodos de crise e dor intensas.

Gustavo Henrique (Espírito)
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
29 de novembro de 2000