Benjamin Teixeira
pelo espírito
Roberto.

Aquele amigo novamente tratou-o com indiferença e desprezo? E por que você ainda dá importância a ele? O problema está em você e não nele. Se alguém o trata mal, não o quer. Procure quem o ama. Não se violente nem ao outro, forçando uma relação.

Às vezes, as pessoas só precisam de um pouco de distância, para ter uma perspectiva melhor e valorizarem com quem estão. E se a distância não resolver, que pena!: pior para ele – perdeu sua amizade. Não se lamente por essa possibilidade e não tente a pulso tornar alguém gentil ou nobre. Procure, se realmente quer alguém gentil ou nobre, quem porte tais virtudes. Não é lógico, sensato ou mesmo caridoso querer que alguém seja o que não é e nem mesmo quer se tornar.

Ah… ele ainda está com ares de vítima? E você com isso? Problema dele! Que lhe importa o que pense de você? Seria muito infantil da sua parte querer ir lá tomar satisfações, e dizer que mude o conceito a seu respeito. Além de tudo, fazer isso só irá entornar o caldo em sua direção, piorando o mal-estar ainda mais.

Ah… mas você o ama de verdade, e gostaria de estar com ele, apesar de tudo, e não com outra pessoa? Então pese bem os prós e contras e, depois, não reclame do resultado. Porque se não gostar, você pode sempre voltar atrás, e mudar suas decisões a respeito dele, de continuar ou não alimentando a amizade.

Muita gente, em nome do amor e da caridade, força situações insustentáveis e ainda quer se passar por injustiçada, quando apenas está sendo incoerente. Se alguém não lhe quer por perto, caia fora simplesmente. Vá em busca de quem o respeite e lhe queira realmente bem. Sempre existe alguém que se sintoniza com o nosso modo de ser. E, olhe, amigo, você pode ser um abençoado, sem notar, cercado de gente que o ama ou que poderia amá-lo, bem mais do que imagina…

Se alguém é bruto e diz que é do jeito que é e quem quiser que agüente, veja se de fato é esse tipo de alguém. Esse é um discurso falacioso e manipulativo, sugerindo a suspensão dos naturais protestos por maus tratos infligidos a outros. Não tolere abusos. Se acha que tem amor próprio suficiente para relevar tudo, e tratar, a todo momento, o seu amigo infantil como uma criança, sem se ofender com seus surtos de capricho e histeria, tudo bem. Mas se não percebe, em si, força emocional e maturidade psicológica suficientes para tanto, reconheça a inviabilidade da relação e, sumariamente, sem grandes dramas ou discussões melodramáticas, afaste-se.

O amor tem uma característica particular e imprescindível: a gratuidade. O que não é dado espontaneamente, não pode ser cobrado. Então, se não se percebe suficientemente alimentado por um coração amado, procure outros corações que o nutram (talvez esteja sufocando um cônjuge, por exemplo, com excessivas exigências de amor, que podem ser compensadas com relacionamentos vicários), e talvez até, quando pare de pedir, receba bem mais do que esperava, desta mesma figurinha de quem tanto se lamenta.

Tome uma perspectiva melhor: ninguém precisa de ninguém, em termos específicos. Ou seja: todo ser humano precisa de outros seres humanos, mas não daquelas pessoas em particular. Crie uma clara noção de auto-suficiência, em relação a indivíduos, vínculos familiares e sociais, e entenda que, muito embora deva ser fiel a compromissos (enquanto eles estiverem de pé) e deva também buscar alimentar e cuidar de suas relações, jamais deve bancar o idiota, lutando por algo que o outro não quer, já que somente quando dois (ou todos) os lados querem, uma relação pode se manter.

Vamos, erga essa cabeça e desmanche essa cara amuada. Lembre-se de antigos amigos ou amigos eventuais do presente, que talvez nem perceba e a quem provavelmente não esteja sequer dando a chance de se aproximar de você, e notará que, quando alguém o dispensa, pode estar, na verdade, presenteando-o: com a libertação de sua própria miséria espiritual, a fim de que você procure e encontre a riqueza interior de gente muito melhor do que a majestade patética que o menosprezou.

(Texto recebido em 29 de agosto de 2002.)

(*) Notas do Médium:

1. Não se esqueça de que, desde a semana passada, mensagens estão sendo colocadas à sua disposição também nos dias de feriado e fins de semana. Para ler as mensagens de sábado e domingo, clique em “mensagens anteriores”, selecionando-as. A mensagem do domingo, por exemplo, foi uma espetacular tese em defesa do lazer e do repouso, segundo o Espírito Eugênia, que recomendo com veemência, nesses dias de “workaholism”, o famigerado “vício em trabalho”.

2. Roberto é um espírito de padrão muito humano de pensar, muito embora a inteligência brilhante e o profundo conhecimento da mente e do coração humanos. Sem apelar para argumentos de ordem moral e espiritual, mas apenas utilizando expedientes de lógica e pragmatismo, propõe exatamente as atitudes que um aconselhamento espiritual sugeririam, embora com motivos menos nobres, não, porém, menos certos. Torna, assim, muito mais acessíveis, à média da população, idéias que seriam inconcebíveis e principalmente inexequíveis para o cidadão comum dos dias que correm, como silenciar, perdoar e seguir, ante agressões sofridas. Tomando sempre a perspectiva do eu, e de como convém ser bom, Roberto, sem dúvida, é um excelente conselheiro para a modernidade. O leitor mais conservador pode se chocar um pouco com seus raciocínios despudorados mas flamejantes de uma lógica e de uma praticidade irretorquíveis – o que muito pode ajudar o indivíduo em momentos de crise. Em suma, Roberto atinge todo mundo, com seu pensamento direto, humano e simples.