Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Existe, na cultura terrena de hoje, uma série de paradigmas inadequados, para o entendimento de Deus e Sua relação com as criaturas, sobremaneira as conscientes, como nós. Vamos destrinchar, resumida e didaticamente, duas lições capitais a respeito, logo abaixo, que acabam se enfeixando numa só: ouvir, apropriadamente, a voz do próprio Eu-Transcendente.

A primeira, que nos merece especial atenção, é a de que os guias espirituais ou mestres encarnados podem ser grandes representantes d’Ele-Ela, mas, para serem ouvidos e compreendidos em profundidade (ou mesmo de modo elementar), precisarão encontrar, no coração dos discípulos, terreno fértil e permeável à semeadura do bem. Não adianta, assim, esperar deles o que eles, humanos e limitados, embora veneráveis em suas conquistas evolutivas, possam-nos ofertar, porque as dádivas que nos podem transmitir estão sempre condicionadas ao quanto lhes podemos apreender dos tesouros de sabedoria e amor.

Em segundo lugar, supõe-se que o Criador esteja distante demais, por Sua suprema grandiosidade, para que Se ocupe com assuntos que seriam de somenos importância, concernentes às Suas criaturas, que, em tese, seriam insignificantes, “residentes” na periferia do Universo. Tal perspectiva, que humaniza o Ser Absoluto, que não tem limites, é, simplesmente, blasfema. Deus escuta a criatura mais aparentemente sem valor, como percebe o anjo mais radioso, no Paraíso. A questão, todavia, é que Ela-Ele fala por múltiplos modos, e o ser humano, de acordo com o nível de maturidade e lucidez que porte, poderá compreender mais ou menos do que Seu(Sua) Senhor(Senhora) lhe diz, por meio de sinais da sincronicidade, de falas judiciosas de conselheiros ou terapeutas, de textos sagrados das tradições espirituais, mas, SEMPRE, passando pelo filtro universal da voz da própria consciência-intuição, pois que tudo externo soará vazio ou absurdo, se não encontrar eco nas expressões profundas do próprio espírito. Em suma, sem ressonância com as estruturas do próprio psiquismo, nem a deliberação livre e consciente do indivíduo por ouvir tais reverberações psicológicas em si mesmo, nenhum valor externo pode ser introduzido em seu cosmo interior.

Presta atenção nos alvitres que te são transmitidos pelo Senhor do Universo. Notarás uma flama no peito, a inclinar-te as atitudes, no sentido do amor e da paz, do serviço e da responsabilidade para com compromissos assumidos. Sentirás, de reversa maneira, uma apreensão indefinível, na câmara profunda da alma, a dizer-te o que deves proibir-te fazer.

Pela voz da consciência, diretamente; por fala amiga de conselheiro respeitável ou de afeto que te mereça veneração; pela leitura de página elevada de espiritualidade; pela escuta a palestra ou culto religioso inspirados pelos Representantes de Mais Alto; pela fala de uma criança ou de um passante da via pública – não importa como te venha a Voz de Deus, reconhecê-la-ás, internamente, por uma vibração inconfundível que te trepidará os estratos mais dignos e nobres de ti mesmo. Perceberás, em seguida, que o coração te pedirá ajas ou deixes de agir de determinado modo, e, se não lhe atenderes os conclamos, serás tomado de remorsos candentes, que, então, dar-te-ão a prova cabal de, realmente, haveres tomado rumo equivocado e ignorado a Voz da Verdade (ainda que parcial, para ti apenas e naquele momento).

É evidente que existe o preconceito, a produzir frutos indébitos de moral, castrando criaturas, em função de convenções e tradições que consideram apenas interesses de grupo e seita. Mas, além desta voz sinistra e opressiva, existe o padrão profundo do próprio ideal, dos princípios que te conduzem a existência e o espírito, dos valores universais de respeito ao ser humano, ao direito, à justiça, à ética, à espiritualidade.

Ser honesto, justo, generoso, probo, em todas as iniciativas e comportamentos, não constitui atitude retrógrada ou fossilizada, mas indica uma consciência atuante, no nível do comportamento de um indivíduo, revelando o patamar de elevação dos sentimentos que logrou galgar, pelo longo processo evolucional.

Alguém pode reproduzir, parcialmente, a conduta reta da alma ilibada. Mas esta pessoa não terá como demonstrar hombridade continuamente, e trairá, cedo ou tarde, seu padrão legítimo de consciência, seja de parcial imaturidade ou mesmo de dissimulada desonestidade.

Faze este esforço, prezado companheiro, de estares sempre em comunhão com as faixas mais transcendentes de teu arcabouço psíquico. Respeita tua natureza, as atuais condições evolutivas que portas, sem almejares ser o que ainda não podes, nem exigires de ti próprio o que não está em tuas possibilidades realizar. Mas, ainda assim, manifesta o teu melhor em todas as tuas atitudes.

Em suma, aprende a ouvir sempre, dando-lhe supremacia sobre as outras vozes mentais, a fala mansa, profunda e decente da própria supraconsciência (*), que quer serviço, responsabilidade, paz e mesmo alegria (a verdadeira, porque duradoura e sem o desdouro da culpa) em todos os sentidos.

Para tanto, faze da oração um hábito permanente; e, da paz, a bússola constante a te balizar os movimentos, para que a Voz de Deus possa Se interpenetrar nos refolhos de teu psiquismo, infiltrando-Se em tuas escolhas e reações, ações e pró-ações ante a vida.

Através da voz sutil, mas profunda, de tua consciência (ou superconsciência), teus guias espirituais te sussurrarão sugestões fraternas de aproveitamento potencializado dos recursos da existência, em todos os aspectos, oportunidades e departamentos possíveis. Por meio do alinhamento a ela, encontrarás, invariavelmente, os melhores frutos de paz, segurança, amor e genuína felicidade.

(Texto recebido em 8 de maio de 2007. Revisão de Delano Mothé.)

(*) Eugênia utiliza o termo, para diferenciar esta voz do espírito da voz do moralismo preconceituoso ou do superego, conforme conceituado por Sigmund Freud.
(Nota do Médium)