Benjamin Teixeira de Aguiar,
pelo
Espírito Matheus de Antioquia.

Não se mutile: prefira a verdade. A vida psicológica é um jogo complexo de elaboração. Falei “jogo” e não “processo”, por dois motivos: pela sua intrínseca imprevisibilidade e pela necessidade de se viver “à esportiva” com o drama inexorável do autoconhecimento. Viva, destarte, a sua inteireza – com equilíbrio, com ética, mas, ainda assim: sua completude.

“Não quero, em absoluto, isso para mim”; “Eu não sou assim, definitivamente”; “Jamais faria isso”… Evite, terminantemente, proferir declarações desta ordem, e analise (de preferência, com o auxílio de um especialista em psicoterapia) os motivos que o levam a exprimir-se de tal modo e – antes ainda – a ter semelhantes impressões sobre si mesmo. Quais seriam os reais “sentimentos” implicados, as motivações profundas que subjazem a esses falatórios enfáticos, a essas interjeições veementes de identidade? Constituiriam sua autêntica personalidade? Provavelmente – mesmo! – não!

Por que Jesus preferia a presença de prostitutas e traidores da pátria judia (os cobradores de impostos para o Império Romano) a ser complacente com quem se sentia e, mormente, fazia questão de parecer decente? Por que o Cristo foi tão contraconvencional? D’Onde Lhe vinha a Sagrada Fúria contra os – em Seus dizeres – “hipócritas” sacerdotes e homens de poder de Seu tempo?

Eis a razão de Nosso Senhor e Mestre alertar-nos para o fato de que o “Reino dos Céus” estava, em verdade, “dentro de nós”. E deu-nos uma pista para encontrá-lo: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” Que verdade? A verdade única a que universalmente o ser humano pode ter acesso: a pessoal.

O Messias, que agradecia ao “Pai”, por revelar as Grandes Lições aos “simples e pequeninos”, e por, concomitantemente, escondê-las dos “sábios e prudentes” (os calculistas do ego e do interesse pessoal), não poderia estar Se referindo a outra natureza de verdade, que fosse sibilina, profunda, acadêmica, intelectualizada. O Mestre dos Mestres pretendeu tudo simplificar, para tornar acessível ao vulgo Seus ensinos: “Sede mansos como pombas e astutos como serpentes.” Logo, precisamos adquirir sabedoria – amiúde simbolizada, desde a Antiguidade, na figura da serpente –, e sabedoria é conhecimento aplicado, incorporado à psique, tornado parte da própria consciência, parte indissociável do Si-Mesmo.

Precisamos enxergar todo ser humano como irmão nosso, sem preconceitos, sem aversões, pois que, na longa trajetória de aquisição da sabedoria (e não instrução formal), vamo-nos apercebendo de que todos os defeitos humanos, como todas as faltas perpetradas por nossos semelhantes, no passado ou no presente, são, de certa maneira, partilhados por cada criatura que já tenha despertado para o livre-arbítrio e o discernimento – para a condição humana, em suma. Há apenas uma diferença de percentuais, na composição de cada psique (uma combinação singular de arquétipos, talvez dissesse Jung), que se encontra em processo contínuo de modificação, de mudança para melhor – ainda quando “retrocessos” apareçam, porque serão eles provisórios, provocando acúmulo de tensão evolutiva que, cedo ou tarde, eclodirão em manifestações vulcânicas de progresso, na existência que ora se desfrute ou muito mais além.

Facilite as coisas para você, evitando quedas desnecessárias, abreviando ou amenizado dores inevitáveis: empenhe-se em seu trabalho interior de tornar-se plenamente você mesmo, sem máscaras, sem ilusões, sem escapismos. Claro que deve se manter civilizado e seguir, quando justas, as regras de sua época e cultura. Entretanto, não cometa o maior de todos os crimes: deixar de exprimir-se ao mundo, em sua honesta e completa (permita o pleonasmo) inteireza. Você nasceu para presentear a todos com sua originalidade, com as contribuições específicas de sua singularidade, e não para enquadrar-se a padrões vigentes. Se você se submete a convenções, em vez de se alinhar com sua consciência e intuições, rouba do mundo, de todos que, direta ou indiretamente, sofreriam sua influência, o legado único, que apenas você lhes poderia ofertar, no exato momento de seu histórico evolutivo e no preciso contexto de sua circunstância de nascimento, educação e personalidade.

Dizem, então, sobremaneira nos meios reencarnacionistas: “Tudo bem; outros virão e farão no seu lugar, se for da Vontade de Deus que algo seja dito, feito ou exemplificado.” Mas, para que isso aconteça, é demandado um tempo, até que o(a) “outro(a)” apareça no concerto das relações sociais, talvez sendo mesmo necessárias uma ou duas gerações para tanto, dado que o(a) tal “sucessor(a)” talvez nem esteja encarnado(a). E, enquanto esse rearranjo existencial de outrem não ocorrer e você negligenciar o que sua consciência e vocação lhe exigirem, todo o bem que não houver sido feito, até a chegada de um(a) “substituto(a)”, assim como todo o mal que advier desse bem não realizado (vide questões 642 e 975 de “O Livro dos Espíritos”), correrá por conta de sua exclusiva responsabilidade.

Não bastasse tudo isso, há um agravante: coloquei o(a) “outro(a)” entre aspas, muito intencional e significativamente, porque, em última análise, nunca haverá um “outro você” ou um “sucedâneo” à sua pessoa. Ainda que você próprio retorne aos proscênios carnais, para uma nova existência física, e venha concluir o que houver deixado inacabado, a conjuntura de época, cultura e lugar será tão diversa, que poderemos, tranquilamente, considerar este “você do futuro” uma “outra pessoa”. A despeito de se tratar do mesmo Espírito eterno, a experiência e o tempo tê-lo-ão tornado uma personalidade diferente, por ora de todo imprevisível, principalmente para você mesmo, visto que muito nos costumamos iludir sobre as linhas e a natureza das sendas evolutivas em que estamos incursos.

Em resumo, seja você mesmo, quanto possível, já que o outro espírito a vir, no futuro, para cobrir a lacuna deixada por sua negligência, na orquestração dos eventos humanos, nunca poderá fazer o que hoje está em seu alcance realizar. Realize, então! Mobilize-se! Faça seu melhor! Suspenda os vícios infantis e poltrões da lamentação e da procrastinação. Seja homem e mulher de verdade! Seja adulto! Assuma as rédeas de sua vida, começando, paradoxalmente, por reconhecer seus limites, acolhendo-os, trabalhando-os, tratando-os – mas jamais se permitindo paralisar por eles!

Hoje, se você me lê com coração, se me capta as ideias e sugestões desarmado, sem o parlatório imbecilizante do ego, a dizer que esse artigo não se lhe aplica (neste caso, você seria então um marciano!), levará a sério minhas proposições, dando início a uma nova era em sua existência, fazendo um balancete de acertos e erros, aspirações e frustrações. Acima de tudo, no entanto, considere suas vocações e o seu ideal (pedindo vênia, mais uma vez, pela redundância), porque será invariavelmente na Voz do Ideal, do trabalho solidário e fraterno a prestar, ainda quando só se possa servir a muito poucos, que se encontrará a vereda abençoada rumo ao Empíreo de felicidade, tão romantizado em fantasias tolas e pueris de poder, riqueza e prestígio, mas, quase sempre, mais próximo da criatura do que ela própria suspeita, embora empanado pela densa cortina de mentirosas justificativas que o ego é programado a desenvolver contra a verdadeira ventura do ser. Eis o “Satanás” – “o que acusa”, em hebraico – que aparece em tantas culturas e tradições religiosas, ou a “sombra psicológica”, como preferimos alcunhar, seguindo as Escolas terrenas de Psicologia Profunda, pouco importando que essa malevolente matriz psicológica interna, promotora de testes espirituais, esteja sendo manipulada, através do processo de ressonância mental, por outras entidades, desencarnadas ou insuladas em corpos físicos, mais identificadas com seus alvitres. E tais impulsos destrutivos têm seu ponto de partida no mais inocente e justo egoísmo, em defesa dos próprios interesses, como pode degringolar-se, no extremo deste espectro infinito de malevolência, nas mais requintadas e diabólicas manifestações de perversidade, que espocam justamente quando este ente vivo (a sombra), parte da própria psique, é ignorado e, com isso, degenerado, nos subterrâneos da mente inconsciente, vindo à tona, de modo devastador, quando menos esperar a pessoa, quando mais fragilizada estiver.

O trabalho, em suma, de autoconhecimento e integração das partes renegadas de si, não tem hora para ser encetado, jamais deve ser adiado e apresenta caráter de urgência e prioridade sobre quase tudo o mais, porquanto tudo mais dele depende para poder ter êxito: a vida íntima, profissional, familiar, conjugal, social ou espiritual, de qualquer criatura.

Consulte seu(sua) terapeuta, sistematicamente. Ore, com fervor e diariamente. Medite e pondere sempre. Seja humilde para reconhecer seus limites e ousado na prática de servir e ser útil, não interessando onde, com quem ou de que forma suas expressões fraternas se manifestem. Agindo assim, mesmo que aqui ou ali tropece, o que será inexorável, dada sua condição de falibilidade humana, vencerá, galharda e definitivamente!…

(Texto recebido em 16 de fevereiro de 2011.)

(*) Talvez o “pesado” do título deste artigo mediúnico me tenha propelido a deixá-lo “de molho” (nos arquivos eletrônicos de psicografia que guardo inéditos ao grande público), até a presente data. Quase um ano se passou, e trago-o agora a lume, com o endosso da Espiritualidade Amiga e sob a sincronicidade interessantíssima de havermos (Eles e eu) tratado da temática, nas últimas duas palestras de domingos, quanto na preleção temática de quinta-feira próxima passada. Oscilar à borda da goela sanguissedenta do mal, sem, porém, nele se permitir resvalar, é bem característico do famigerado, nos meios de psicologia junguiana, “trabalho com a sombra psicológica”, quando realizado com qualidade: logra-se o contato informativo com o mal, sem com ele propriamente acumpliciar-se. Realizando-o, por outro lado, terminamos por reconhecer as próprias falhas não malevolentes, com naturalidade e leveza, eliminando os traços de “ego inflado” ou idealizado, que primamos por preservar com zelo puritano, insuflados que todos somos pela hipnose sociocultural, em função de orgulho, covardia ou conveniência pessoal.

(Nota do Médium)


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