Benjamin Teixeira
pelo espírito Demétrius.

Olá, Dr. Demétrius. Eugênia me falou que teria algo a falar sobre a consciência humana?

Sim. Existem diversos graus de consciência, e, de acordo com o nível de interesses e necessidades, aspirações, medos e tendências, teremos uma noção aproximada de com quem nos relacionamos e de quem nós próprios somos.

Quais seriam esses níveis?

Seremos um pouco arbitrários, na criação dessa taxionomia evolutiva, mas eis aqui nossa proposta de estratificação da hierarquia desenvolvimentista da consciência humana:

Consciência instintiva.
São homens de tal modo instintuais que em pouco diferem dos brutos. Na Terra, já são incomuns nos dias que correm. Falam monossilabicamente, não têm idéias ou conceitos sofisticados em nenhum nível. Sobreviver, no sentido mais literal da palavra, é seu propósito. Comer, dormir, copular. Nada esperam, desejam, ou temem, a não ser prosseguir vivendo, reproduzindo-se e alimentando-se. Cobrem algo em torno de 10% da população terrena.

Consciência emocional.
São psiques um pouco mais elaboradas, que desenvolveram já as primeiras paixões. Têm medos mais acentuados e intrincados que o homem instintual. Já se preocupam com as relações sociais, a imagem e o crédito que gozam em sua comunidade. Apresentam ciúme, inveja, raiva, cupidez, orgulho e perversidade, bem além dos ditames dos instintos de conservação de si e de reprodução da espécie. Ou seja: são um repositório de todo o conjunto de torpezas passionais e materiais que costumam tanto ser combatidas pelas religiões, mas que, para elas, constitui um progresso, com relação ao nível anterior d’onde provieram: o da consciência instintual. Estes estão entre 35% das massas humanas terrenas.

Consciência intelectual.
São indivíduos bem mais complexos, regidos, basicamente, pela razão, pelo espírito de cálculo de vantagens e desvantagens, do mais prático, funcional e objetivo. Muito comum na Terra atual. São pessoas relativamente decentes, porque, nesse ímpeto de apor a razão sobre a emoção, normalmente incluem o sentimento de dever e responsabilidade, que têm prevalência, em suas mentes, sobre instintos e desejos, impulsos e problemas meramente pessoais e momentâneos. Em grande parte, porém, tornam-se frios e calculistas, degeneram a razão para o cômputo do interesse pessoal, sufocam os apelos ético-morais da consciência e procuram viver apenas em função de ganhos, conquistas e realizações externas. Este grupo integra uma faixa de 40% da população terrestre de espíritos encarnados e desencarnados.

Consciência espiritual.
Constituem, os que participam dessa faixa mais apurada de psiquismos, uma espécie de elite evolutiva do planeta. Não fazemos alusão aqui aos que integram os diversos partidos da religião institucionalizada, mas a indivíduos que põem o ideal acima da razão, assim como, no nível de consciência intelectual, apõe-se a razão acima da emoção e do desejo. Nesse plano de desenvolvimento, por mais que a inteligência já esteja suficientemente refinada para manobrar circunstâncias externas e pessoas ao bel-prazer dos seus interesses egóicos, o indivíduo prefere pautar sua conduta pelos apelos mais altos de altruísmo, quando não se dedicam a uma causa humanitária, a um projeto religioso. Compõem algo em torno de 15% das populações na Terra, e muitos deles, por não darem vazão a esses ideais, que são o padrão dominante de suas psiques, frustram-se horrivelmente, gerando doenças no soma, distúrbios emocionais e psíquicos, desvios de comportamento (como os vícios diversos), e, por fim, até mesmo precipitando a própria morte. Estes estariam entre os 5 a 10%, a faixa intermediária do grupo, e não entre os 5% mais evoluídos propriamente, que já têm de tal modo a psique conduzida por tais impulsos à transcendência, que, por menos que façam, fazem alguma coisa pelo bem comum, ainda que seja para um grupo pequeno de pessoas, dentro do ambiente de trabalho, no seio da família, em serviços voluntários de final de semana.

O que mais teria a nos dizer sobre esses níveis?

Que cada um tente se localizar, principalmente se já se sentir entre os 5 e os 10% dos mais espirituais, muitos dos que nos lêem nesse momento, porque se não derem atenção aos apelos de sua alma a agir em prol do bem comum, ainda que de modo limitado, adoecerão e viverão inapelavelmente infelizes.

Eugênia, n’outra ocasião, falou-nos sobre os tais 5% primeiros a que aludiu, e fez alusão não propriamente a mais dois grupos de 5%, como você o fez, mas sim a mais um único grupo de 10%. Teria algo a comentar sobre isso?

Sim. Estou apenas detalhando o que ela falou de modo mais abrangente. Quando falou Eugênia dos 10% mais próximos dos 5%, não subdividiu esse grupo maior. Todos, nesse grupo dos 10%, admiram os que realizam a espiritualidade ao seu modo (os 5% primeiros), mas não fazem nada de si próprios. A questão é que os 5% mais próximos do primeiro grupo já se afligem por não fazerem nada; ao passo que os 5% mais distantes ainda não se angustiam por isso, simplesmente achando que não chegou a sua hora ou não têm condições de fazer nada. Em resumo, para facilitar o entendimento: existe um grupo de 15% da população, o topo da pirâmide evolutiva da Terra, que é já afinado com os ideais do espírito. Os 5% primeiros realizam obras espirituais, na melhoria íntima, no desenvolvimento de projetos humanitários, etc. Os 5% seguintes, não se dedicam a tais atividades, mas se sentem atordoados por não fazê-lo, já que a hora evolutiva começa a lhes buzinar nos ouvidos da consciência. E, por fim, os 5% seguintes, restringem-se a admirar, mas à distância, sem porém se aturdirem por não participarem desse grupo primeiro de elite: são um pouco menos evoluídos.

Muito interessante. Mais algo a dizer?

Que quem nos lê, pelo simplesmente fato de já ter interesse em ler sobre esse assunto, no mínimo pertence a um dos dois grupos de 5% menos desenvolvidos. E que, se já sentir apreensões indefiníveis, a respeito de algo a ser feito ou vivido, se já sente um vazio inefável que pede transformação, crescimento e realização, que procure ajuda, que freqüente grupos sérios que lhe dêem apoio nessa busca, e que comecem, de imediato, a atender aos reclamos de bem fazer de sua alma, ainda que muito pouco, mas um pouco continuado. É importante agir sistemática e persistentemente no atendimento aos clamores da própria alma, porque o grupo dos 85% restantes da humanidade fará barulho, cada estrato ao seu modo: os instintuais com sua indiferença primitiva, os emocionais com toda sorte de malícia maledicente e perversa, e os intelectuais com toda forma de sofisma depreciativo e mesmo ofensivo a respeito da busca espiritual. Que não se impressione. Que compreenda que quem é universitário, ainda que não seja um catedrático, já não pode mais se imiscuir nas brincadeiras, passa-tempos e compromissos de quem está no ginásio ou no pré-primário, sob pena de fugir às próprias responsabilidades. E que, por fim, não se esqueça de quem é e do que realmente precisa, para que não acabe sendo corrompido pelas facilidades e conveniências do momento, com o preço de destruir todas as possibilidades de ser feliz e estar em paz.

(Diálogo travado em 27 de abril de 2003.)