Benjamin Teixeira
por
espíritos incógnitos.

Poderiam falar alguma coisa sobre obsessão?

Sim, é claro. Antes mesmo, entretanto, somos forçados a falar sobre um fenômeno maior que ele, inarredável nas relações humanas, que abarca a obsessão: a influência recíproca que os seres conscientes exercem uns sobre os outros, dentro ou fora da faixa de vida biológica, seja essa influência de ordem boa ou má. A obsessão seria a influência de natureza negativa ou destrutiva.

Ou seja, a todo momento somos obsediados?

Num sentido profundo, sim; não, contudo, a obsessão propriamente dita, que se caracteriza por um estado de perturbação profunda, em que o indivíduo começa a sair de seu padrão habitual de ser, por indução mental de outra personalidade, mas com responsabilidade completa desta, que se deixa arrastar conforme suas próprias inclinações pouco dignas. Mas também se pode inferir outro elemento importante desse princípio de influência universal recíproca entre todos os seres sencientes: é que, se não se chegou à perfeição, naturalmente todo ser exerce influência nefasta, maior ou menor, aqui ou ali, com essa ou aquela pessoa, nesse ou naquele campo particular. Todos, portanto, nessa acepção mais completa do termo, também são obsessores.

Isso é grave, não?

Sim, o flagelo da obsessão assola todas as culturas e indivíduos, mas é grande ferramenta de estímulo ao progresso porque cada um é desafiado em suas tendências positivas, para desenvolvê-las, e em suas negativas, para delas se saturarem e, assim, serem compelidos a dar cabo de sua presença psíquica nociva.

Ainda sobre o assunto da influência, a Espiritualidade Superior nos havia dito, no século XIX, em “O Livro dos Espíritos”, que a rege o princípio da ascendência moral. Vocês ainda confirmam esse teorema?

Totalmente. E ele nos instiga a importantes reflexões. Por exemplo: se alguém está sob império insidioso de uma obsessão, alguma forma de ascendência moral o obsessor deve ter sobre ele, já que, na ausência desse elemento, não seria possível a operação do domínio. Portanto, amiúde, parcial ou totalmente, a vítima pode ser moralmente inferior ao algoz do processo perturbador. A grande questão é que profundos preconceitos, que levam a uma análise superficial dos caracteres, faz com que não se intua o valor de uma alma desviada, tanto quanto as deficiências de um aparente “homem de bem”. Assim, o obsessor pode estar impregnado de ódio, mas ser uma alma honesta, coerente e determinada, capaz mesmo de sacrifícios inopinados, pela concretização de um ideal. Por outro lado, uma pessoa reta para a observação vulgar, pode estar crivada de incongruências entre sua vida interior e a externa (quando não de franca hipocrisia), engolfada em conflitos e na pouca paz de consciência pela sensação de muito pouco fazer, ante o que pressente poder realizar pelo bem seu e do próximo. Assim, diante de Deus, ou numa perspectiva ético-moral mais elevada, as fronteiras entre vítimas e algozes se diluem, para aparecerem aprendizes da Vida em toda parte.

O que se pode dizer a quem sofre obsessão?

Que procure, primeiramente, tomar consciência dela. Um dos maiores dramas das psicoterapias é o indivíduo permanecer na zona nebulosa da inconsciência, em departamentos fundamentais de sua alma. Para se buscar a sabedoria, é necessário ter-se consciência da própria ignorância. Para superar a própria insensibilidade, imprescindível tomar-se consciência de que não se ama o bastante, e assim sucessivamente. As piores obsessões são as invisíveis, aquelas de que o obsediado não se dá conta, normalmente polidas de tal modo, com tão bem elaboradas racionalizações, que passam por até impulsos dignos. Um bom exemplo de tal morbidez encontramos nas guerras santas do passado humano, lamentavelmente ainda hoje presentes na civilização terrícola, que eram e são vistas como desígnios da própria Divindade, sem que os obsediados do fanatismo bélico tenham a menor suspeita de quão obviamente sacrílega pode ser tal ideia: a de guerrear em nome de Deus. Nesse nível de complexificação do processo escravizador mental, surge a perda parcial do senso da realidade, em que o indivíduo, então, cai vítima de fascinação, por efeito da indução hipnótica de agentes desencarnados ou encarnados, individuais ou coletivos, como a cultura belicosa de um povo que compele indivíduos a atitudes desarrazoadas de ódio e desejo de vingança.
Que o obsediado, além dessa humildade e lucidez de se perceber imperfeito e errando o tempo todo, como é inevitável por sua condição de ser imperfeito, muitas vezes sem notar (a maior parte dos próprios erros o indivíduo só divisa quando supera o nível evolutivo em que os cometeu, como as tolices de criança que só são vislumbradas claramente já na fase adulta), procure o indivíduo também orar todos os dias, frequentar atividade religiosa de seu agrado, viver o ideal do auto-aprimoramento constante e, por fim e principalmente, concentrar suas forças e seu tempo em fazer o bem.

Pelo que disseram acima, a classificação clássica de obsessão em três níveis: obsessão simples, fascinação e subjugação é validada por vocês?

Sem dúvida. A classificação, é claro, corre por conta de quem cria o sistema taxionômico psíquico-espiritual. Todavia, essa é uma boa forma de entender o processo que, em verdade, é um continuum, em que, por exemplo, a fascinação se confunde, em seus níveis mais avançados, com a subjugação psicológica, até que essa degringole para a subjugação física, com controle direto dos músculos do hospedeiro mental, pela personalidade perturbadora que o aflige.

Poderiam criar outras categorias de obsessão em caráter didático?

Podemos, se quiser. Todas elas são válidas, importando considerá-las em dado estudo, conforme as particularidades e necessidades terapêuticas de cada caso. Existem, assim, a obsessão periódica e a permanente. A obsessão e a auto-obsessão. A obsessão recíproca e a de via única. Entre encarnados e desencarnados. Entre somente encarnados. Entre somente desencarnados. Mas sobre tudo isso importante reforçar um pormenor capital: não pode existir nenhum tipo de obsessão sem auto-obsessão, assim como não pode haver hipnose sem auto-hipnose. A casa mental é cidadela inexpugnável, o livre-arbítrio é prerrogativa intransferível e inalienável na criatura, de modo que, por mais complexo, profundo e acachapante seja um processo obsessional, somente acessará ele o coração do indivíduo, pelas brechas que ele mesmo abrir, por anuência sua, consciente ou inconsciente. Ninguém, absolutamente ninguém tem poder absoluto sobre outrem. Somente pelo jogo dos interesses, pela sedução dos sentidos, pela manipulação de medos e carências, pela ativação de padrões neuróticos e traumáticos, pode alguém persuadir outra pessoa a aquiescer às suas sugestões, portanto validadas pela auto-sugestão na pessoa-foco da irradiação obsessiva.

O que se pode fazer por alguém que esteja sofrendo obsessão perto de nós, a quem queiramos bem?

Orar sinceramente por sua cura, inclusive no momento de seus surtos mais intensos. Notar-se-ão evidentes melhoras, sempre que se fizer isso com fervor. Que se procure cativar suavemente sua atenção para focos mentais diferentes daqueles que as adoecem. E, por fim, provocar, diretamente, uma conversa sobre o assunto, quando essa pessoa está sob nossa responsabilidade, como no caso de filhos adolescentes ou infantes, sendo-se psicológico, didático e político, mas também firme e disciplinador, na medida do que a própria consciência e princípios julgarem necessário, ainda que contrariando um pouco o ente querido.

E quanto à vampirização?

A vampirização é um capítulo específico da obsessão, com características próprias. Nela, como o nome indica, há um processo de parasitismo energético, em que, no mais das vezes, um desencarnado locupleta-se nas energias de um encarnado, assim sugando-lhe forças bio-psíquicas, com o fito de preservar a ilusão de portar um corpo biológico. Esse mecanismo destrutivo, porém, também acontece entre encarnados, ou mesmo de desencarnado para desencarnado, em que o ataque ao outro, provocando liberação de energias específicas, favorece o dreno de forças vitais, que são absorvidas para si.

O que fazer para evitar essa sanha terrível da parte de seres tão inconscientes e perversos?

Manter o equilíbrio dos pensamentos, dos sentimentos e a virtude dos bons hábitos. Sempre que aparecem desajuste, descompensação, fuga do bom senso, da razão, há justa suspeita de obsessão vampiresca. Excessos alimentares, sexuais e emocionais, como raiva contínua, ciúme incontrolável ou inveja atordoante podem indicar, muito provavelmente, mecanismos obsessivos-vampíricos.

O que leva alguém a obsediar ou vampirizar?

O impulso e afã exacerbados de controle, de expansão do ego, de conquistar, de ter, associados, como obviamente estão, a baixa maturidade moral. Muitos espíritos de precário adiantamento, que, encarnados ou desencarnados, expressam-se no nível humano de evolução, portam fortes tendências instintivas semi-bestiais, despreocupadas dos sentimentos e necessidades dos outros, centrados, tão-somente, nas questões que afetam diretamente, suas pessoas.
Mas, sendo mais claros, existem aqueles que obsediam por inimizade pessoal e desejo de vingança relacionados a acontecimentos dessa ou de outra vida do obsediado. Há os que obsediam por ódio àqueles que são ajudados pelo obsediado, como pais que são atacados por inimigos desencarnados de seus filhos, a fim de, por conseqüência, comprometa-se-lhes a felicidade. Em terceiro lugar, em termos de expressão numérica mas não em importância nos seus efeitos, existem obsessões relacionadas a causas coletivas. Um governante pode ser influenciado, dentro do permitido, pela Divina Providência, por um agente criminoso do plano extra-físico de Vida, que deseje fazer mal a uma coletividade, ou um religioso carismático, que pregue o desapego aos bens terrenos, pode ser perseguido ferrenhamente por organizações criminosas do mundo invisível, que vêem em seu trabalho um poderoso inimigo de seus interesses.
Por fim, no caso da vampirização, algo mais visceral e primário acontece, já que o vampiro quer, tão-somente, beneficiar-se das energias vitais de outrem, com o fito de se sentir melhor, sem nenhum sentido de responsabilidade ou compromisso com os que atacam e sugam, como meros ladrões de forças psíquicas, abatendo e muitas vezes prostrando até a morte alguns de seus “possuídos” (geralmente isso sem o saber que provocam, porque evitariam tal nível de abuso, para não perder o hospedeiro, sua fonte de repasto mental).

Mais algo a dizer sobre o assunto?

Não.

(Diálogo travado em 7 de agosto de 2002.)