Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Normalmente, as atividades mais eficazes, na condução do homem ao Criador, são desprezadas como funções inferiores. Deste modo, imperceptivelmente, a Providência Divina permite ocorra uma sutil seleção de caracteres, que, sendo vaidosos e artificiais, não vislumbram a grandeza dos pequenos atos.

Entre eles – e que aqui nos interessa destacar –, está o trabalho do passe, também conhecido como fluidoterapia, mas que preferimos denominar de enérgio-terapia. Atividade anônima e discreta, que não favorece a projeção da personalidade, nem desperta o alarido do sensacionalismo em torno de si, é, entretanto, o ministramento do passe, um dos mais grandiosos encargos espirituais que se podem assumir na existência terrena.

Muito mal compreendido, confundido com simpatias, ao gosto da superstição popular, tem fundamentos bem definidos, na transfusão de forças, tanto orgânicas quanto psicoespirituais, atingindo o cosmo integral do indivíduo humano, aqui generalizando indivíduo, sem especificar o receptor, porque o primeiro a ser beneficiado é justamente o passista e/ou médium de cura, que se faz canal das energias que são articuladas da dimensão extrafísica de existência, onde técnicos, terapeutas, médicos e paramédicos, devidamente abalizados para o mister, diagnosticam e manipulam, consciente e cientificamente, os potenciais energéticos disponíveis, como também os trazidos de inúmeras fontes, sejam da natureza, ou de esferas conscienciais superiores.

Dissemos ser uma das mais dignas funções a que se pode dedicar o esforço evolutivo de uma encarnação, porque ele permite uma fusão mais profunda dos elementos mentais-conscienciais, entre terapeuta e paciente, bem como de ambos com extratos mais elevados de consciência, assim favorecendo uma enxertia psíquica mais adequada às duras necessidades de transformação do elemento humano, rumo a novos horizontes conceptuais, rasgados pelo dealbar da nova civilização, que agora vem, rapidamente, a lume, com a queda do obsoleto e ascensão de ignotos paradigmas.

Destarte, no momento da intersecção psicoespiritual promovida pelo passe, estando o passista na altura de intenções que lhe cabem, e apresentando um mínimo de preparo que a tarefa exige, é como se Deus Se fizesse na Terra, por alguns instantes, comunicando, particularmente, àquele que recebe o recurso, as blandícias do Infinito, em injeção de forças, inspiração e paz, que, encontrando o paciente receptivo, através da oração, da sinceridade e do esforço de mudança e melhora, redundarão numa guinada de ânimo e orientação sutil para sua caminhada terrena.

O passe é um processo de conjugação de potenciais animais, oriundos do corpo do médium, além dos de natureza espiritual, que representam a fusão das forças de ordem superior que interceptam o cosmo individual do receptor, bem como de outras energias de cunho material, extraídas, muitas vezes, do reino vegetal e animal, para o reforço de caráter orgânico-metabólico, àqueles que não prescindem de tal expediente, ou seja: os que sofrem depauperamento biológico que precise, por alguma razão superior, ser contornado.

Deve o passe ser ministrado com gravidade e circunspecção, como exige a sua índole sagrada, sacerdócio em que se constitui, a quantos aderem às suas fileiras de trabalhadores. Para tanto, algumas precauções gerais devem ser tomadas, a guisa de não se fugir à linha reta de conduta que deverá pautá-lo.

1º Bloco de Precauções – Os Preparativos:

1 – Levar uma vida de honestidade e decoro, trilhada no trabalho, na honradez ante compromissos assumidos, na civilidade e solidariedade, que devem fazer do passista um digno intermediário das energias superiores que serão filtradas por seu cosmo psico-orgânico. Nada de vícios, ou quaisquer hábitos menos saudáveis, como a promiscuidade e a maledicência.

2 – No dia do ministramento, procurar se manter no mais alto padrão moral-comportamental possível: no trato cristão com todas as pessoas, na oração e na meditação, na leitura nobre e na prática geral da caridade. Refeições pesadas deverão ser evitadas; a alimentação frugal, sobretudo nas últimas horas que antecedem o serviço, deverá ser uma norma inviolável. Buscar evitar, outrossim, no dia, qualquer atividade sexual.

2º Bloco de Precauções – No Ministramento do Passe:

1 – Evitarem-se fórmulas místicas, que tiram o caráter de naturalidade que envolve a tarefa. Do mesmo modo, devem-se evitar movimentos bruscos, ruidosos ou qualquer coisa que desvie a atenção, tanto do passista quanto, principalmente, do próprio beneficiário do recurso que é transmitido. As técnicas de ministramento de passe são ótimos apêndices para o trabalho, mas não se fazem indispensáveis.

Os cursos e as palestras sobre a temática são sempre de bom alvitre, sobremaneira para que se corrijam vícios de conduta na metodologia do passe, mas é preciso atentar-se a que, no empenho de aprimorar o serviço, não se acabe por bloquear a espontaneidade que deve caracterizar sempre o intercâmbio com a Espiritualidade.

2 – Eliminar-se, de todo, o uso de toques para a tarefa de doação fluídica. Há casos extremos em que o contato físico pode se fazer necessário, mas são realmente raros, pois que tudo quanto se faz através do toque, em matéria de transfusão energética, também pode, igualmente, ser levado a efeito à pequena distância, de cinco a dez centímetros aproximadamente.

Deve-se procurar agir com o máximo recato, a fim de que não haja espaço para qualquer constrangimento ou mesmo pensamentos ou atos indecentes, de ambas as partes, que gerariam vibrações capazes de anular completamente o esforço da Espiritualidade em favorecer o receptor e o próprio intermediário.

A mente humana, na Terra, é ainda muito viciada, em milênios de primitivismo, maldade e malícia, e, portanto, todo cuidado que se tenha, neste campo, será recomendável.

3 – Evitarem-se, em absoluto, as manifestações mediúnicas no instante de ministramento do passe. O passista jamais deverá incorporar. O momento do passe não se destina a exibição fenomênica, nem a desobsessão espiritual. Se os indivíduos invigilantes, que agem de reversa maneira, soubessem o quanto de transtorno causam à equipe espiritual, com seu gesto tresloucado, nem cogitariam de mediunizar-se ante os pacientes que os buscam para serem assistidos e não impressionados. Não raro, são estes que, ao presenciarem a estultícia de tais médiuns, chocam-se a ponto de nunca mais retornarem a uma casa espírita, onde poderiam obter cura, paz e diretrizes para uma vida mais plena e feliz, quando não mesmo passam a curtir neuroses em relação ao que testemunharam, julgando-se culpados pela perturbação que viram acontecer às suas barbas. Toda a culpa por desvios desta ordem correrá, inapelavelmente, por conta da responsabilidade do passista deseducado e/ou personalista. Caso o paciente sofra um processo anímico, mediúnico ou falso de manifestação de personalidades conturbadas, no momento do ministramento do passe, deverá ser conduzido a um cômodo à parte, em havendo essa possibilidade, a fim de que outras pessoas não se sintam impressionadas, nem seja desviada a atenção do trabalho. Na hipótese de não existir um local adrede reservado para tal mister, deve-se empregar uma metodologia enérgica de chamar o médium a si, para que outros não sejam contaminados pela psicosfera de perturbação, mesmo porque raros são os casos em que não se pode reverter o transe, completamente inoportuno em tal circunstância, e, amiúde, ocasionado por problemas psicológicos (e não psiquiátricos) de auto-afirmação ou carência do medianeiro deseducado, que dá, então, vazão à incorporação imprópria ou a espectros do próprio inconsciente.

Caso seja o indivíduo, realmente, portador de faculdades de alto grau de passividade e em estado de turbulência, vale que um tratamento à parte lhe seja aplicado, com vistas a prepará-lo, paulatinamente, para a tarefa mediúnica posterior, incluindo, em especial, orientação direta à pessoa do médium.

Deste modo, amigos de ideal espírita, temos na atividade do passe uma das oficinas-escola mais úteis e gratificantes ao processo de amadurecimento da alma e de aquisição de méritos, ante a própria consciência e a Espiritualidade Superior.

Que não haja desânimo entre aqueles que já se empenham no ofício magnânimo e magnificente do passe; e, aos que não se tiverem engajado a nenhuma tarefa, eis aí uma opção muito nobre a que se pode dedicar a vida, o tempo e as próprias energias, em socorro dos menos felizes e de si mesmo. Mesmo porque, para ser passista, nenhuma faculdade extraordinária se faz necessária. Em tese, qualquer pessoa tem condições de ministrar o passe, bastando haver boa vontade e desejo sincero de ajudar, requisitos que, em secundados pela força do amor e de uma vida de intensa busca de Deus, podem realizar verdadeiros prodígios, ainda que não contemos com dotes medianímicos excepcionais.

Aqueles, todavia, que vêm à Terra com a programação existencial de uma missão, junto à mediunidade curadora, demonstrarão faculdades mais acentuadas. Ninguém, contudo, torna-se menos útil e tem um esforço menos meritório diante do Criador, por não portar mediunidade de cura.

Erradiquemos, pois, amigos, da face do planeta, os cancros de todas as doenças orgânicas, perispiríticas, psicológicas e espirituais que, fulcradas no câncer fundamental do egoísmo, empanam-nos a visão e fazem-nos seres doentes nos diversos níveis de nossa multidimensional existência.

Que a Medicina e o trabalho de orientação psicoterápica e espiritual não sejam descartados, principalmente aquele denominado “ideoterapia”, que consiste no levar o paciente a tomar contato, antes das tarefas de ministramento de passes, com novas idéias, que lhes propiciem “insights”, valores e princípios novos, viabilizando, assim, a mudança de vida que se faz necessária à real e definitiva cura do paciente, que pode, inclusive, estar muito doente, sem que as ciências médica e psicológica terrenas sequer o percebam. Mas que, terminantemente, jamais menosprezemos o sacerdócio da transfusão de forças, visto que, desde a mais remota Antiguidade até os dias de hoje, quando, por exemplo, a mãezinha aflita sopra o machucado do filhinho, ou um amigo abraça a outro, num momento de dificuldade, tem sido o passe um conduto de consolo e ânimo para a humanidade sofredora, em múltiplas circunstâncias, até mesmo as mais críticas, tanto no círculo individual, por óbvio, quanto em âmbito coletivo, ao se fazer uma vibração à distância ou mais proximamente, seja em benefício de comunidades padecentes, seja em prol de líderes e governantes de grandes massas humanas.

Consultem-se os passistas que, sincera e religiosamente, exercem a função de canais de bênçãos, e dirão eles como, a começar por si próprios, e em diversos campos de suas vidas, tudo se converteu para melhor, embora não estejam isentos de dores, apenas por haverem atendido ao chamado de serviço das Alturas.

Mãos à obra, amigos! Que cada um se comprometa a algo fazer em favor da melhoria dos trabalhos de passe. Os infortunados do mundo nos aguardam, e a Providência Divina, tão pródiga para conosco, espera-nos a gentileza de doarmos nossas mãos e nossas mentes, um pouco que seja, em socorro ao semelhante. Devemos-Lhe este serviço.


(Texto recebido em 12 de novembro de 1995. Revisão de Delano Mothé.)

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