O paradoxo da mortalidade, no contexto da imortalidade

Seu corpo físico sofre, um pouco todos os dias, o declínio da “carga de vitalidade” – por assim dizer, para simplificarmos os complexos processos bioquímicos que paulatinamente levam um organismo material à sua consunção.

Análogo evento se dá no campo psíquico, embora de maneira ainda mais sinuosa e intrincada. Características da personalidade, traços de caráter, idiossincrasias do ego, dentro de uma mesma existência e (mais perceptivelmente) no correr de várias reencarnações, desgastam-se e gradualmente se dirigem à morte.

Evolução do espírito, portanto, se desdobra, noutras palavras, por cansaço em relação a defeitos, por saturação de padrões viciosos, pela superação de limitações psicológicas e morais.

A individualidade eterna atravessa longos períodos de experiência e, pela reiteração de atividades, desenvolve suas estruturas e espontaneamente se desapega de certos aspectos de si que lhe pareciam muito caros, quando não prioritários. E esse desapego, em nível profundo, nada tem a ver com sacrifício, mas com um natural desinteresse pelo que antes lhe inflamava a alma.

Assim como adolescentes não se empolgam com folguedos infantis, nem adultos(as) se sentem atraídos(as) por assuntos que, de ordinário, absorvem adolescentes, espíritos mais velhos na trajetória evolutiva, relativamente à faixa média de refinamento consciencial da humanidade terrena atual, consideram desinteressantes, cansativos, viciosos ou até repulsivos o que pessoas menos amadurecidas pugnam por alcançar: posses, poder, prestígio ou quaisquer outros jogos de disputa egoica que fazem as rotas humanas pejadas de sofrimento e tragédias, tanto no plano individual quanto no coletivo.

De modo gradativo, mas seguro, os percentuais de predominância do ego e suas desastrosas consequências vão sendo reduzidos, no coração humano, abrindo espaço, a pouco e pouco, às vezes aos saltos, para os gostos e as paixões do Ser Espiritual que, em essência, todos(as) somos.

E assim prosperam, no imo da criatura, a vocação de serviço ao bem comum, o aprofundamento e a sofisticação dos sentimentos nas relações interpessoais, o impulso de aplicação de todos os talentos internos e recursos externos em prol de um ideal ou de uma causa humanitários, as práticas meditativas, intelectuais, artísticas ou devocionais que conduzem a consciência ao êxtase da comunhão com os gênios celestes, com os anjos ou almas santas de Deus, com a Própria Divindade.

Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Eugênia-Aspásia (Espírito)
em Nome de Maria Cristo
LaGrange, Nova York, EUA
28 de setembro de 2021