O miraculoso paradoxo da cruz

Jesus referiu-Se à “boa parte”¹, na discussão havida entre Marta e Maria, irmãs de Lázaro, asseverando que quem a escolhesse nunca dela seria privado(a).

De ordinário, entrementes, o ser humano entende a “melhor escolha” como a mais fácil, prazerosa e/ou que apresente resultados benéficos imediatos.

No episódio narrado nos Evangelhos, uma das mulheres se dedica às lides domésticas, enquanto a outra tudo abandona para se colocar aos pés do Messias, ouvindo-O falar, enquanto Ele ensinava, curava, transformava…

A atitude da que se pôs a ouvi-l’O parece, em primeira análise, acomodatícia, se não irresponsável, para indivíduos mais focados no espírito de cumprimento de seus deveres perante o mundo, diante de agrupamentos sociais, acadêmicos e profissionais de que participem, ante os entes queridos e mesmo frente aos laços mais sagrados do coração, quais os seriíssimos compromissos da parentalidade.

Num exame mais profundo, todavia, nota-se, na mulher elogiada pelo Mestre, a capacidade de renunciar à aprovação social, a ousadia de romper com convenções e tradições (ainda que muitas sejam relativamente respeitáveis) e, mais grave e doloroso: a hercúlea disposição a desapegar-se de seus afetos, inclusive os mais preciosos, quando a relação com eles entra em contradição com princípios, propósitos e ideais esposados no santuário da própria consciência.

A decisão existencial mais acertada, que desfruta de especial tutela das Potestades Celestes, não é fácil, nem simples, nem pouco sofrida. Consiste no que Jesus, em outro momento de Seu Messianato, denominou de “porta estreita”², a qual todo(a) devoto(a) autêntico(a) da Luz Divina deveria porfiar por atravessar, em busca de sua própria salvação.

O Cristo-Verbo também preconizou, em outra ocasião, ser precondição para alguém se converter em Seu(Sua) discípulo(a): “renunciar a si mesmo(a), tomar a cruz que lhe cabe e segui-l’O”³.

Há, em contrapartida, um maravilhoso paradoxo nessas metáforas, porque a opção pela “boa parte” de dar as costas às conveniências terrenas, para priorizar os assuntos espirituais, carreia, a médio e longo prazos, benefícios incomparavelmente melhores do que os da alternativa inversa.

A “passagem estreita”, que significa “foco preciso”, conduz a pessoa a cenários de vida mais felizes para si e para as criaturas que sejam por ela influenciadas e servidas.

A cruz, por sua vez, constitui o agudo martírio do calvário, em que o(a) candidato(a) à ascese é suspenso(a) das gratificações temporárias da Terra e propelido(a) rumo à transcendência da ressurreição – o ressurgimento da consciência em um nível de todo inconcebível de paradigmas e vivências de lucidez, paz e ventura!

Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Eugênia-Aspásia (Espírito)
em Nome de Maria Cristo
LaGrange, Nova York, EUA
6 de janeiro de 2022

1. Lucas 10:42.
2. Mateus 7:13.
3. Mateus 16:24.