por Benjamin Teixeira.

29 de julho, primeiras horas do dia. Conversando agora com Eugênia, pediu-me a prezada e preclara mestra desencarnada que me dedicasse a redigir “breve” relato público (já tendo ela me traçado outra atividade para a madrugada – os amigos que me têm reclamado da extensão das mensagens neste site, por encontrarem dificuldade em acompanhá-las todas, a contento, agradecerão… risos), sobre o dia de hoje, como efeméride de nossa Instituição. Há exatos 7 anos, às 6h30 daquele domingo de 2001, nosso programa de TV foi ao ar, em cadeia nacional de TV, pela TVE-Rede Brasil.

7 anos! Como se fosse ontem!… Paradoxalmente, parece-me, outrossim, que ocorreu em outro século… em outra era, tantas foram as lições auferidas, neste riquíssimo setênio de importantes realizações, sejam íntimas, sejam externas. Naquele período, precisamente, também nas primeiras horas da manhã, fiz um transe. Uma voz masculina imponente, exalando sabedoria, revelou-me que aguardasse um tempo, contado em meses, próximo a um ano, a partir daquela data, pelo desencarne de Chico Xavier. De fato, em 11 meses cravados (30.06.2002), 1 mês antes do primeiro aniversário de emissão em rede nacional de TV do programa, o grande missionário do Cristianismo Espírita desligou-se do plano físico de vida. Como sempre, a grande tessitura de planejamentos do Domínio Excelso de Vida, que, em nome de Deus, não permite nada ocorra por acaso.

Estamos agora numa outra rede de televisão, privada: a CNT. O horário nunca foi tão bom: 15h30, que se pode considerar nobre, tendo em vista ser no sábado. E Eugênia pede para dizer, neste dia de celebração, que reflitamos em torno de um fato que se sucedeu, sob inspiração da Espiritualidade Amiga, após o programa deste último sábado, no percurso entre os estúdios da TV (Aperipê TV), em Aracaju, onde o programa é exibido ao vivo, e a Casa do Menor, na Comunidade Santa Maria, estabelecimento onde se realizam, com nossa presença, um Culto do Evangelho e a distribuição de sopa e pão, para algumas centenas de crianças carentes e suas mães – o mesmo se repetindo no domingo, entre outras atividades que nossa Instituição mantém ativas, semanalmente, como assistência a gestantes, atendimento médico e preventivo-odontológico, cestas básicas mensais para 70 famílias, etc.

Para que se compreenda como o que relatarei aconteceu, cabe esclarecer que vivo em regímen psíquico de “mediunato”, o que, grosseiramente, constitui uma espécie de estado permanente de conexão do médium com o guia espiritual, para que este lhe supervisione todas as atividades e iniciativas, normalmente em função da extensão coletiva do trabalho deste intermediário encarnado do Plano Sublime, que, com isso, passa a operar, no mundo físico, como uma espécie de porta-voz da Dimensão Celeste de Vida. Por meio deste complexo mecanismo, que não me cabe aqui minudenciar, erros são minorados, em quantidade e profundidade, tanto quanto acertos extraordinários podem se desdobrar, através da ação do embaixador da Espiritualidade Superior. Atenção para o que disse, porém: “erros são MINORADOS” – ou seja: a falibilidade humana, lamentavelmente, está sempre presente. Isso dito, sigamos para o episódio, propriamente:

No carro, com mais três amigos – geralmente, são quatro que nos acompanham no veículo, além de mais três companheiros em outros dois automóveis –, fui tomado a discorrer sobre “humor”. Simplesmente, “não conseguia” parar de falar. Não que me fosse algo desagradável ou coativo: senti, inclusive, a vibração elevada das faixas nobres de consciência, que nunca impõem nada; por isso, anuí em canalizar este fluxo de inspiração inesperado e aparentemente inoportuno – é que estava um pouco cansado, já que acabara de realizar um programa de TV ao vivo, sem tema predefinido, o que é extremamente desgastante, pela grande preocupação que tenho em interferir o mínimo possível e passar o máximo exeqüível do pensamento e valores dos bondosos e sábios Orientadores Espirituais. Como há uma pequena viagem, cruzando parte da minimetrópole sergipana, deu para fazermos um elóquio curioso sobre a temática. Ouvi-me – quando questionei um pouco mais, intimamente, o não poder silenciar para ouvir os demais – dizer aos meus companheiros-voluntários de trabalho, no campo do ideal de divulgação:

– Desculpem, meninos (dois, em torno de 40 anos – risos): querem que eu fale sobre isso a vocês.

Imediata e generosamente, meus amigos-colegas de trabalho protestaram um algo como:

– Queremos ouvir sua aula, e d’Eles.

Entre os tópicos ventilados, espocou no nosso transcurso breve:

• O humor é a chave para a introdução de um padrão positivo de energia e pensamento, sempre que o ambiente está “carregado” demais e o amor não se consegue inserir… Quando o amor não se pode fazer presente, e para que o horror não se estabeleça, o humor pode ser a porta para a mitigação do turbilhão ou do pandemônio, se não o curso para sua cessação. Para isso, todavia, deve-se rir com o outro, e não do outro. Rir com: é empatia que aproxima as pessoas. Rir de: é ataque que afasta os indivíduos.

• O humor, expresso no arquétipo do truão, contraparte do arquétipo do ancião sábio, é sinal imprescindível da verdadeira sabedoria. Quando ausente, a criatura se leva a sério demais, e pode estar dando espaço ao estereótipo do sabichão, do fanático ou do “caçador de bruxas”, o perseguidor de “bodes expiatórios”, tornando-se agente, assim, das forças do mal, e não das Potestades do Bem, com um instrumental que, em considerando intrinsecamente seu valor, é neutro.

• O humor é eficiente mecanismo de conscientização política das multidões, ou de despertar para questões complexas e profundas demais, de foro psicológico ou espiritual, para que possam ser estas assumidas seriamente ou percebidas de modo consciente, pelas mentes que lhes sofrem a influência.

• Para compreender-lhe melhor, seria bom entender que existe uma:

Escala do Humor

(Obviamente que as definições, embora parcialmente obedeçam à semântica dos melhores dicionários em vigor, têm algo de arbitrário, aqui ou ali, que se preste a construir a estrutura de conceitos que os Sábios da Espiritualidade Superior desejavam traduzir, para a paupérrima linguagem humana.)

1) Tão só graça: algo parece mimoso ou curioso e enternece ou diverte as pessoas, “quebrando o gelo”.

2) Humor pleno: a gargalhada explode – constitui uma grande perfuratriz de camadas espessíssimas de “gelo” nas relações interpessoais (retornando à mesma metáfora).

3) Deboche: altamente destrutivo – ácido, vulgar, ferino, fétido, às vezes obsceno. É o lado mais sombrio do humor, mais vil, malevolente e devastador.

4) Sarcasmo: pode ser completamente movido de más intenções ou não. No sarcasmo há mais neutralidade sofrida do que erro desejado, o que se dá no deboche. O sarcástico é uma pessoa marcada pela vida, amarga, céptica, mas que não se agrada propriamente de sua situação psicológica, de sua ótica entristecida e embotada da existência. Usa, assim, de malícia e crítica, em caráter defensivo ou mesmo elucidativo (lutando contras as hipnoses da manipulação e da ignorância em torno de si), para falar com espirituosidade, criatividade e inteligência, sobre situações ou eventos condenáveis, que precisam ser corrigidos.

5) Sátira: o aspecto ácido do humor maximiza-se e atinge a suma essência de seu poder destrutivo, sendo mobilizando não por um desabafo desesperado ou um ímpeto compulsivo, à guisa do que ocorre ao sarcástico, mas sim é articulado como uma ferramenta de comunicação, educação e conscientização popular, podendo ser aplicado – como o é –, por exemplo, na imprensa ou no trabalho artístico, qual o fazem, brilhantemente, os cartunistas e comediantes.

6) Ironia: nível mais profundo e transcendente do humor – tanto é que assume conotações paradoxais, que lhe revelam, por outro lado, uma contraparte negativa, como em toda força prenhe de ambigüidade –, pode-se converter em cinismo, quando se materializam, na alma do indivíduo, o niilismo, a negação absoluta do Bem e da Verdade, do Belo e da dignidade e valor inerentes ao ser humano. À feição da sátira, tem um poder estupendo de ataque, mas, diferentemente da anterior, que constitui uma arma da fala e do pensar humanos, a ironia representa o refinamento máximo da capacidade de perceber e interpretar do espírito, no patamar humano de evolução, exprimindo seu potencial de renovação do que deve ser modificado, por meio da demolição das matrizes conceituais que o sustentam.

Meus olhos estavam vidrados, como que perdidos no infinito… enquanto me concentrava no texto que fluía, “involuntariamente”, através do meu psiquismo. Estaquei. O “discurso” ou pequena aula havia acabado. Nosso trajeto para o ponto da distribuição de pão e sopa também estava para terminar. Disse então:

– Bem… era isso que tinha a dizer.

Foi quando a mais nova e, “ironicamente”, mais circunspecta do pequeno grupo no carro, uma moça na casa de 20 anos, tocou-me o ombro, candidamente, e exclamou, em seu doce e calmo tom de voz:

– Obrigada, Benjamin! Estou fazendo um trabalho sobre o humor, para a faculdade. E estava com problemas para encontrar conteúdo apropriado. Ajudou-me muito.

Creio que seja dispensável dizer, com isso, que todo o merecimento da obra colossal de esclarecimento e conforto que nossa Instituição presta, sendo responsável pelo mais antigo programa espírita da televisão brasileira, alcançando milhares de lares, no país inteiro, por mais de 100 canais de TV, é inteiramente d’Eles: os queridos, respeitabilíssimos e misericordiosos orientadores espirituais.

(Texto redigido em 29 de julho de 2008.)