(Sobre o preconceito)

Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

É de extrema importância considerarmos que o preconceito se imiscui em nossos processos mentais, muito mais do que costumamos admitir. Comumente, os indivíduos que se julgam – utilizando o termo vernacular – “resolvidos” apresentam-se completamente impregnados de tabus, a começar por comportamentos reativos a preconceitos mais óbvios, que geram preconceitos invertidos, mais sutis e profundos, o que equivale também a uma conduta discriminatória e preconcebida, potencialmente mais destrutiva que o preconceito que a originou. É o caso, por exemplo, da mulher que se define como profissional em tempo integral, afastando-se de sua vocação materna, apenas para, inconscientemente, distanciar-se da identidade com a mãe, a quem rejeita como paradigma de perfil feminino.

Pensar preconcebidamente é um modo de economizar processos e energia no cérebro, para que automatismos agilizem a eficiência do indivíduo em sua interação com o mundo. O aprendizado se baseia neste mecanismo, em suas fases primárias. Todavia, quando realidades complexas e em processo de construção são abordadas, com este modo de pensar empobrecido, fixado em esquemas conceituais previamente definidos, os erros podem se fazer não só grosseiros, como perigosos, para o próprio pensador inclusive. Por exemplo, um sujeito pode supor que toda mulher lhe será amável como lhe foi a mãe, ou que “nenhum homem presta”, por ter tido uma figura masculina disfuncional como modelo de masculinidade na infância. Ou seja: o indivíduo pode se fazer aberto a situações lesivas para si, tanto quanto se mostrar fechado para grandes oportunidades de realização e felicidade, por uma falha em seus métodos de percepção e análise.

Se alcançamos, entretanto, um razoável nível de maturidade psicológica e de esclarecimento, instrução e cultura, é-nos relativamente viável – e, de certo modo, obrigatório (ou não seremos tão lúcidos e educados assim) – manter a mente vígil para as inúmeras peças pregadas pelos apriorismos automáticos dessa engrenagem de simplificação dos processos mentais. Não devemos cair na tentação dos simplismos. A vida é complexa. Nenhuma solução utilizada, no passado, para questões velhas, em tese, pode ser aplicada em pendências novas, embora a experiência possa ser aproveitada – mas como meio de inspiração, de sugestão de caminhos resolutivos, nunca como fôrma pronta para resoluções que não sejam pensadas, cuidadosa, criteriosamente.

Importantíssimo mantermos a isenção de ânimo, a imparcialidade nos julgamentos que fazemos do que acontece em torno de nós ou do que nos é dado a avaliar, no máximo padrão que nos seja exeqüível.  E isso não só relativamente ao que se passa no nível consciente da articulação de nossos juízos de valor, porque esta é a parte mais fácil do esforço de leitura fidedigna do mundo. O arcabouço psíquico humano é prenhe de fatores etiogênicos desta e de outras inumeras existências, tanto quanto de germens vivos e em contínuo processo de despertar, para construções mentais da personalidade futura que nos está sendo gestada, nas profundezas da alma. Apenas para lembrar um tópico dessa intrincadíssima teia de geratrizes psíquicas do inconsciente humano, as elaborações emocionais, carregadas de “imago” (e fenômenos congêneres) – aquelas idéias, construídas na infância, em nosso inconsciente, a respeito de pessoas (originalmente em relação aos pais) –, quase sempre desfocam o sistema de interpretação do indivíduo.

Assim, fiquemos atentos, para que os preconceitos não nos tomem de todo, até mesmo – ou talvez principalmente – quando nos julgamos indenes ou invulneráveis a eles, porque, então, de tal modo se poderão ter incrustado em nosso psiquismo, que não mais os notamos, por já fazerem parte de nós mesmos, levando-nos a considerá-los, tragicamente, componentes indiscutíveis da “verdade” última das coisas.

(Texto recebido psicofonicamente, em reunião mediúnica do Instituto Salto Quântico, realizada em 14 de agosto de 2007. Revisão de Delano Mothé.)