(Carta de Maria à Humanidade, em 2008.)

Benjamin Teixeira
e o espírito
Eugênia.

Preparativos:

Aracaju amanheceu chuvosa, na sexta-feira, 18 de julho de 2008. Fiz breve pausa no trabalho, às 5h35. Aqueci um pequeno pedaço de lasanha, acondicionado num pratinho de sobremesa, que uma amiga muito querida houvera pessoalmente cozinhado, no dia anterior, introduzindo a pequena refeição nesta maravilha moderna, que tanto nos facilita a operacionalidade do dia-a-dia doméstico, e que às vezes passa despercebida, mas por que agradeço a Deus com freqüência: o forno de microondas. A orientadora desencarnada, que habitualmente costuma aproveitar estes momentos de pausa entre atividades para conversar comigo (porque, de minha parte, se Ela não considerar importante falar-me nada, eu simplesmente me ponho em prece ou meditação, para renovar a atmosfera íntima e reforçar a sintonia com o Plano Superior de consciência, e voltar às tarefas de minha incumbência com os “fios mais ligados” ao Alto), definiu linhas-mestras do que aconteceria logo mais, em psicografia avançada, que me exigiria um deslocamento mental do plano físico (algo parecido ao desdobramento do espírito, mais precisamente do perispírito – fenômeno paranormal comumente conhecido por projeção da consciência ou viagem astral –, só que adstrito ao domínio da psique, sem envolver, direta e plenamente, o psicossoma). Para favorecer este “alheamento” produtivo, tive que tomar algumas providências que favorecessem, quanto possível, o tal “rapture” (arrebatamento ou êxtase), conforme disse a querida Irmã mais Velha Eugênia (que já utilizara mais de uma vez termos anglofônicos na madrugada, como na redação, em parceria comigo, do artigo: “Contemplando o Caos da Própria Existência”, que contém explicitado, inclusive, o motivo para o dúlcido guia espiritual estar tão “animado” com o Inglês, neste início de manhã – risos).

Passava das 6h, já havia escovado os dentes e lavado as mãos, após o breve repasto (permitam o trocadilho, porque, apesar de quase frugal, pelo diminuto da porção, senti-me plenamente satisfeito com a refeição), em companhia psíquica, à distância, da ilustre mestra desencarnada, quando resolvi deslizar (fechando) a porta de vidro que separa minha sala de estar da varanda do apartamento do 11º andar do edifício em que moro, num bairro recém-construído na pequena metrópole de quase um milhão de almas (na área metropolitana).

Costumo passar minhas madrugadas isolado (após a realização do segundo Culto do Evangelho, à 1h, com meu querido companheiro Delano Mothé), neste ambiente amplo – há duas salas conectadas, sem paredes, que virtualmente se somam ao panorama de parte do paredão de espigões da capital sergipana, dilatando a sensação de liberdade e leveza, que me ajuda a relaxar e me concentrar, numa espécie de retiro diário para meditações, orações, psicografias, estudos, respostas a correspondência eletrônica, etc. Neste trecho do dia, em que a maioria esmagadora dos mortais saudáveis e lúcidos (não sei se posso me considerar componente de uma, muito menos das duas categorias – risos) está em seu merecido momento de repouso, os telefones não tocam, não surgem emergências a resolver, não havendo, por conseguinte, perigo de eu sofrer interrupções do “estado de fluxo”; com isso, posso me dedicar ao “mundo invisível” da Espiritualidade e à esfera particular do “mundo interior” de minhas reflexões pessoais, produzindo com maior qualidade e profundidade, enquanto as horas da madrugada suavemente avançam.

A temperatura estava agradável, no inverno nordestino (que raramente desce de 20ºC), mas, além de fechar a porta, cerrei as persianas, em seguida, por vários motivos: 1) quis criar uma continuidade na difusão da luz (em ascensão, com o correr da manhã); 2) pretendia bloquear o ruído externo dos veículos, que começava a ficar um tanto incômodo (o residencial de 15 andares em que resido fica quase em frente de uma rótula que emenda duas importantes avenidas de escoamento de tráfego de nosso burgo crescido); 3) nutria o intento de que houvesse, igualmente, homogeneidade na temperatura do salão formado pelas duas saletas, já que o termostato da refrigeração de ar, acionada, manteria amenos 22ºC. Tudo isso para me abstrair, quanto possível, do domínio material de existência, como me pedira o espírito Eugênia, que já me adiantara o sério motivo da concentração solicitada. E, neste sentido, o conforto das condições físicas estáveis tinha um propósito paradoxal: esquecer-me de que elas existiam… desvencilhar-me parcialmente das limitações corporais e adejar, mais cômoda e livremente, na direção do reino do Espírito.

Arrebatamento:

Sentei-me em posição eréctil diante do laptop e comecei a digitar, na natural velocidade de quem tem hábito de escrever diariamente, ao computador, há quase quinze anos, e logo me percebi sendo tragado pelo poderoso psiquismo de Eugênia, que me transportou, mentalmente, para a magnífica Atenas Mística onde, quase todos os dias, nos encontramos, para que Ela me transmita as diretivas de todas as funções e atividades sob minha responsabilidade, na condução de nossa Instituição e na orientação às centenas de pessoas que me procuram por semana, pessoalmente; milhares (quiçá milhões), à distância, pelo nosso programa veiculado em rede nacional de TV, o mais antigo da televisão brasileira, na temática espiritista, ininterruptamente no ar.

Lá estava Ela, mais uma vez, majestosa e sublime (Ela sempre meneia a cabeça, incomodada, quando faço esta ordem de referência à Sua Pessoa), sentada em seu “trono de pedra” (Ela sempre corrige: “Poltrona, meu filho, tão-só uma poltrona”, ao que eu respondo: “Realmente, tenho que corrigir o que disse: deveria ter dito ‘altar’, Eugênia – você está sentada no trono do altar da deusa Palas Athena”; ao que Ela sorri, complacente e resignada, como quem ouve um destempero carinhoso do filho pequenino e atrevido, que aprende a articular as primeiras palavras e já se sente à vontade para emendar a mãe-quase-anciã, no uso fluente de um vernáculo complexo). A metáfora é apropriadíssima, em considerando o abismo evolucional que me separa da santa e sábia Aspásia de Mileto. O diálogo afetuoso e íntimo seguiu-se entre nós dois:

O Diálogo:

(Eugênia) – Por favor, tome seu assento, ante mim.

Sentei-me, um tanto embaraçado, pela grandeza do que estava por vir.

(Eugênia) – Você sabe a que veio hoje, não?

(Benjamin) – Sim, sei. Aguardava por isso a semana inteira. Em verdade, estava até um pouco preocupado, pela demora em acontecer, em função de haver anunciado, a seu pedido, que, na palestra deste domingo, 20 de julho, estaria levando a público a Carta de Nossa Mãe Santa, recebida por você, neste ano de 2008.

Desviando do tópico de minha preocupação quanto à “demora” em ocorrer o fenômeno de recepção da prometida epístola psíquica, a preceptora saltou para um comentário elucidativo:

(Eugênia) – Gostei da forma como disse: “neste ano de 2008”, e não: “para este ano”. A Fala de Nossa Mãe Maior tem sempre conotações transcendentes, portanto intemporais, de interesse permanente para todas as épocas e povos, ainda que sendo filtrada pela psique de encarnados e suas limitações conceptivas, culturais e psicológicas, que refratam a Sua Mensagem, com o inexorável colorido de sua circunstância histórica e social. A própria Mãe Santa ajusta o comunicado às necessidades de tempo e lugar. Mas, a despeito desses itens considerados, a sublimidade de Sua Alma sempre comunica, como “Axis Mundi” ou “Anima Mundi” (*1), informações que servem, d’algum modo, para todos os evos e culturas do futuro, tal como ocorreu com textos sagrados das arquimilenares tradições espirituais da Terra, que, século sobre século, milênio sobre milênio, inspiram homens e mulheres, governantes e nações inteiras, a se conduzirem conforme os Padrões da Eternidade…

(Benjamin) – Felicito-me por isso. Então, estou às ordens.

(Eugênia) – Mas não será propriamente uma missiva para você transcrever, por meu ditado, uma carta no sentido convencional do termo – se é que podemos encontrar algo que se possa classificar como convencional em nosso trabalho.

Eugênia deu uma risadinha silenciosa, sacudindo, elegante e levemente, o tórax, como lhe é típico, em momentos de descontração.

(Benjamin) – Ah… não?

(Eugênia) – Não. Você falará diretamente com Ela… Mais que isso: estabelecerá um diálogo, apesar da necessidade de intermediação de minha pessoa, a fim de que possa interagir com Sua Mente (*2).

(Benjamin) – Eugênia, você sabe que não só isso é um absurdo para mim, como soará pouco crível para outras pessoas também! Não recrimino qualquer um que levante dúvidas quanto a poder ser eu canal de uma mensagem desta envergadura, e muito menos sobre ser-me possível interagir, pessoalmente, com a Remetente Celeste. Isso está, no meu entender, entre o surreal e o desarrazoado!…

(Eugênia) – O ego e seus disfarces… – disse Eugênia, sorrindo, compreensiva, em tom dolente e quase arrastado, pronunciando sílaba a sílaba – Primeiro, você está estabelecendo limites a Um Ser que Se encontra acima das limitações humanas. Maria Santíssima pode falar com quem bem quiser, no momento em que Ela julgue apropriado, sem para isso precisar pedir autorização de qualquer criatura e tampouco a aprovação de seus conceitos de realidade e possibilidade, espiritualidade e fé. Depois, está preocupado com o que dirão de sua pessoa, em serviço à Mãe da Humanidade.

(Benjamin) – Sim, preocupo-me, porque acho que isso pode depor contra nossa Causa, “queimando” a parte boa da mensagem.

(Eugênia) – Depor contra a Causa do Bem: a coragem da fé corajosa que leva o indivíduo a se expor em seu nome? “Parte” boa? O que pode não ser bom, do que vem de Cima? Seria o que não foi compreendido? Isso não é ruim: é melhor do que a outra parcela do conteúdo comunicado, aquela que parece ter sido inteligida em sua totalidade. Isso porque o que é visto como “ruim” agora está-lo-á propelindo a um nível mais alto de entendimento, já que precisará tomar uma perspectiva mais profunda, de molde a enxergar-lhe os significados construtivos ulteriores.

(Benjamin) – Desculpe-me, Eugênia, mas insisto em meu ponto de vista. O que é pouco razoável soa como inconsistente; e creio que o efeito colateral lesivo faz-se muito mais expressivo que o benefício que eventualmente possa ser carreado pela iniciativa; a relação custo-benefício da operação não será compensatória…

(Eugênia) – Conceitos, conceitos, conceitos… Ah… o intelecto humano, prenhe de interrogações, confusões e contradições… Os católicos pregam a fala direta com Deus, na Pessoa do Espírito Santo; os evangélicos protestantes insinuam ser possível contactar diretamente a Figura de Jesus, como intermediário Direto do Criador; no Oriente Médio, os religiosos só podem se dirigir a Alá, e são por Ele diretamente inspirados; e, na Ásia Meridional, criaturas encarnadas são divinizadas, em vida física, como “avatares”, que, literalmente, na concepção daquelas antigas e respeitáveis culturas, qual a hindu, representam a descida, no plano físico de Vida, da própria Pessoa de Deus. Até Jesus, em Sua Palavra nos Evangelhos, asseverou que, onde dois ou mais estivessem juntos em Seu nome, Ele se faria presente (*3). Por que lhe é tão difícil aceitar que eu, tendo já contactado Maria de Nazaré, quando no corpo físico, em minha última reencarnação, possa canalizá-l’A para você, como porta-voz e mensageiro d’Ela, ante seus irmãos em humanidade?

Fiquei sem fala, atônito… Senti, no corpo físico, dores agudas na coluna (*4), interrompi a concentração por alguns instantes, para empertigar o corpo, espreguiçando-me (no afã de aliviar a algia intensa que me parecia trespassar o tronco), tomei um gole d’água, dei alguns passos em torno da mesa, e, por fim, voltei à máquina com tela cintilante, recomeçando a digitar, na velocidade da fala. Ato contínuo, fui trasladado, psiquicamente, mais uma vez encontrando-me com a adorável Aspásia de Mileto, nossa terna e piedosa Eugênia, que me aguardava com o mesmo imperturbável sorriso e o percuciente e sereno olhar:

(Eugênia) – Vamos fazê-l’A esperar mais tempo?

(Benjamin) – O quê? Este diálogo a que se refere é para agora? Ela… você quer dizer… ELA estava esperando, enquanto eu “ciscava” nesta discussão?

Eugênia meneou a cabeça em sinal afirmativo.

(Benjamin) – Meu Deus, perdoe-me, Eugênia… eu, com todo este blá-blá-blá!

(Eugênia) – Gerar alguma receptividade em sua mente, a uma idéia que antes lhe soava bizarra demais, era importante, para que não comprometesse seriamente a transmissão da mensagem.

(Benjamin) – “Era” importante? “Antes soava” bizarra? Por que o tempo passado? Continuo achando tudo isso pouco verossímil! Só estou me permitindo cogitar a possibilidade… É isso que lhe promove lançar o “problema” ao passado?

A esta altura, uma Luz Branca de intensíssimo brilho começou a irradiar-se em torno, acima e detrás de Eugênia, fazendo com que eu tivesse imensa dificuldade em divisar-lhe os traços fisionômicos. Emocionei-me, tentei-me pôr de joelhos, tive dificuldade; tentei novamente, fui impedido. Foi quando a mais doce, grandiosa e bondosa Voz de Mãe que se possa conceber ecoou de cima, ou através de Eugênia (não dava para definir ao certo), como se a mãe-mestra e todo halo gigante de Luz Solar se houvesse convertido numa caixa de som psíquica. O semblante de Eugênia estava mais radioso que nunca, sua expressão revelava o êxtase que a tomava, seus lábios não se moviam, olhar como que perdido no infinito, mas me fitando, diretamente, no centro dos olhos, qual se me fulminasse a própria alma… Ela só retransmitia, com sua Psique Santificada, a Mente Semi-Divina de Maria de Nazaré.

(MARIA) – Acalma-te, filho meu. Não é necessário que te ponhas genuflexo. A genuflexão deve acontecer em Espírito e Verdade, no imo da própria criatura, na reverência à Pessoa de Deus, em seu íntimo, representada na voz de seu ideal, de sua consciência do dever, do serviço, da realização a desdobrar, com sua existência, no mundo, a benefício de seus semelhantes…

Tive ímpetos de desviar o olhar, mas não me foi possível. Estava completamente hipnotizado pela iridescência indescritível que se manifestava, em espetacular epifania, na pessoa angelizada de Santa Bernadette Soubirous (a última encarnação de Eugênia).

(MARIA) – Quero que me faças três perguntas; e, após responder-tas, aditar-te-ei resposta a uma quarta, que Eu Mesma devassarei em teu cosmo interior.

(Benjamin) – Mãe Maior (os pensamentos saltavam de minha mente, antes que pudesse cogitar se era ou não ousadia demais me dirigir a Ela), não sei se estou preparado para fazer as perguntas mais apropriadas, em nome de todos que lerão Suas Palavras, mas vou arriscar a primeira indagação, que eclode em várias, interconectadas – perdoe-me também por isso: Como salvar a Terra? A Terra vai ser salva? Como o cidadão comum pode colaborar para salvaguardar o planeta de tantas ameaças que o rondam, como a atual crise de mísseis (*5) e a debacle dos ecossistemas?

A Luz pareceu intensificar-se mais, e a Voz aveludada e majestosa ribombou no sublime salão:

(MARIA) – Já disse, outrora, e torno a dizê-lo: Por fim, Deus triunfará. Por fim, o Amor vencerá. Por fim, Meu Coração, que representa Este Amor para a Terra, vencerá. Canalizar Meu Coração, conforme seja possível a cada um, e a todos, conformando pequenos ou grandes grupos, em preces coletivas ou ações humanitárias, será o caminho para se potencializar o socorro que poderei prestar ao mundo, em nome de Nosso Governo Oculto, sob Presidência de Jesus. Como constituo o Poder Moderador Plenipotenciário, para interferir, inclusive, na esfera geratriz das causas, dos eventos e dos carmas globais, posso determinar, e de fato já decidi salvar esta Humanidade. O Médium da Verdade disse, em nome de Nosso Grupo: “Nenhuma ovelha que o Pai Me confiou se perderá” (*6). A Terra não perecerá. Periclitará… Periclita. Mas não fenecerá.

Comecei a ouvir coros que se me afiguravam de anjos. Algo de indescritível beleza. Intuí que deveriam ser aproximadamente cinco corais, com destaque para vozes femininas, executando melodias de um encanto intraduzível em linguagem humana. A esta altura, porém, a impropriedade me espocou mais uma vez na mente, e, embora me desagradasse, quando dei por mim, já estava novamente conjecturando em como era delirante ser eu o emissário para uma fala da Mãe Divina do orbe. Eu, uma pessoa tão limitada e cheia de defeitos comuns… toda aquela vivência poderia ser uma construção bem elaborada de minha mente inconsciente…

(MARIA) – Entende, prezado amigo (*7), que soou a hora evolutiva no planeta, em que a pretensão de superar o nível humano, para se conectar ao Divino e com Ele comungar, não terá mais validade, de modo que, a partir de agora, seja na prática de um trabalho artístico, numa realização desportiva ou até mesmo no mero prazer físico do conúbio afetuoso entre casais, poder-se-á conscientemente invocar a idéia ou a experiência da “participation mystique” (*8) com o Amor Divino (*9). Isso de forma alguma deveria causar estranheza aos contemporâneos discípulos do Cristianismo, pois que Meu Filho não Se incomodava em conviver com mulheres de vida sexual irregular, nem com homens de caráter duvidoso, no trato com o erário público, chegando a asseverar que meretrizes e publicanos entrariam no reino dos Céus antes de Seus discípulos (*10). Considerarei essa como sendo a tua segunda questão a Mim dirigida!

Tomei um susto e logo me vi terrivelmente decepcionado comigo mesmo, por haver “gasto” uma oportunidade de interrogar a Autoridade Máxima do Planeta, com assunto tão “meu”… Antes que pudesse organizar melhor as idéias, o trovão de doçura e força moral ressoou, poderoso, em torno e acima de nós (agora a Voz não parecia apenas provir do psicossoma ou das adjacências do espírito Eugênia, que funcionava como intermediária da Mãe Maior, mas trepidava no salão inteiro, sobretudo acima de nós):

(MARIA) – Não, não é questão tua, em caráter exclusivo, prezado irmão em Cristo, porque esta dúvida pairará nos corações de inúmeros de teus contemporâneos, que merecem tê-la ao menos arrefecida, senão dirimida…

Apressando-me por não perder o último ensejo de fazer uma pergunta que servisse o mais universalmente possível ao bem de todos, arrisquei articular:

(Benjamin) – Como conciliar felicidade pessoal e deveres espirituais? Quase sempre entendemos que há um antagonismo irresolúvel entre a vida humana e as obrigações espirituais que nos são devidas. De que forma solucionar esta problemática, que, sem dúvida, sabota as mais relevantes realizações do Espírito, em milhares, milhões de casos, era sobre era?

Girando e esguichando, qual um caleidoscópio a explodir em espetáculo de Luz, a desprender-se de uma Mulher convertida em Médium da Mãe Celeste, a Voz Maviosa respondeu:

(MARIA) – “Sede mansos como as pombas e astutos como as serpentes” (*11). “Deverias haver entregue Meu tesouro ao banco, para que, na Minha volta, ao menos Me restituísses, com juros, o que é Meu” (*12). “Não se fazem remendos novos em tecido velho, nem se põe vinho novo em odres velhos, para que não aconteça um rasgão maior na roupa, nem se rompam os odres e derrame-se o vinho” (*13). “Amai o vosso próximo como a vós mesmos, amai o vosso inimigo, amai-vos como Eu vos tenho amado” (*14). Em síntese, deve-se buscar vivenciar quatro patamares da integração mística da psique com o espírito, perfazendo a totalidade de suas estruturas: (1) integração do animal remanescente ao anjo interior; (2) do ego-razão-operacional ao anjo interior; (3) do sistema de vida externa-material-social ao anjo interior; e, por fim, (4) a ruptura de todas as barreiras de divisão, na transcendência da satânica ilusão da separatividade, notando-se que só se pode amar ao próximo, amando-se a si mesmo (cuidando das próprias necessidades), e que o amor em regímen de total devotamento e sacrifício constitui corolário inexorável da plena consciência de que todos os seres, de fato, são Um (*15), num nível profundo de subjacência, embora, paradoxalmente, suas individualidades sejam preservadas (e depuradas e expandidas), “ad aeternum”.

A Luz, que, neste ponto da interação mística, parecia rodear e evolar-se (estranho, mas era isso: parecia evolar-se, e não propriamente irradiar-se), de Eugênia, já chegava a mim, envolvendo-me, com ternura cariciosa (sim, surreal, mas não há como traduzir d’outra forma: a Luz de Infinita Bondade, como emanação ou transbordamento do Coração de Maria Santíssima, fazia carícias em minh’alma), pervagando-me o interior, de modo inenarravelmente calmante e plenificador. Fui, então, trazido de volta ao ambiente, ouvindo-A dizer, com a Mesma Voz Majestosa quão infinitamente Amorosa:

(MARIA) – O quarto quesito que te dissera responderia, de Minha Própria iniciativa, é aquele que tangencia os deveres cristãos. Há muito cinismo e negativismo, nos tempos de relativismo cultural que a civilização terrena vive, nos dias que correm, sobremaneira nas sociedades democráticas e instruídas do Ocidente. A pseudolucidez de religiosos ou de humanistas não religiosos, de homens e mulheres ditos “de bem”, chega ao desplante de afastá-los de Deus, porque se julgam impuros e insignificantes demais para servi-l’O. Esquecem-se de que homens ignorantes e quase-arrogantes (para os padrões atuais de moral e conduta) foram grandes canais do Divino, em épocas remotas da Humanidade, como Moisés e Paulo de Tarso bem caracterizam exemplos, há 3 mil e dois mil anos, respectivamente. Que o desculpismo escapista e venal – que permeia a moderna cultura, hipnotizando e castrando legiões intermináveis de inteligências avantajadas e corações valorosos – não continue sendo motivo para a preguiça e a covardia, a irresponsabilidade e a indiferença, afastando almas decentes e sinceras de seus compromissos de serviço ao bem comum, em nome de uma pretensa e falsa humildade, quanto de um sentido de racionalidade obtusa e limitante, que não condizem com o verdadeiro espírito de devoção e fé dos discípulos de Jesus – Ele mesmo que disse, antes de deixar o mundo físico, que Seus seguidores fariam maravilhas, não só idênticas, mas superiores às que Ele realizara (*16), e que os adeptos de Sua Doutrina deveriam pugnar por se fazerem perfeitos, como Deus o É (*17).

Silêncio profundo se fez, e me vi sendo arrastado celeremente de volta ao corpo físico, deixando Eugênia ainda nimbada com a Luz Imarcescível e Indescritível. Tornava já ao padrão normal de “consciência desperta”, restrito, bisonho, respirando fundo e esticando os dedos e distendendo os braços, quando, de longe, ouvi a voz de Eugênia ecoar-me:

(Eugênia)- Está tudo bem, meu filho… Bom trabalho. Pode ir dormir.

Desliguei então a máquina e fui tentar conciliar sono, por algumas poucas horas. O dia estava abarrotado de atividades e compromissos com pessoas. Mas, sem dúvida, o mundo, as pessoas, as situações e eventos nunca mais seriam os mesmos.

Muito me gratifica, agora, a oportunidade de propiciar partilha, com o prezado leitor, da mesma experiência transformadora: a Luz Divina, Infinita Bondade, representada em Nossa Mãe Planetária, Maria de Nazaré, sempre nos ampara e nos conduz, provê necessidades e inspira soluções, bastando, para maximizar tal fenômeno, que nos façamos receptivos, por nossa fé e conexão com a benevolência e idealismo que tragamos no próprio coração, materializando-os em nossa conduta, ainda que em proporções minúsculas – porque Ela, sem dúvida, fará o resto. E Ela, para o globo terreno, em consórcio místico com Seu Filho Amantíssimo Jesus, é a Fonte de Todo Poder!…

(Narrativa e psicografia de 18 de julho de 2008. Revisão de Delano Mothé.)

 

(*1) Expressões latinas a significar: “Eixo do Mundo” e “Alma do Mundo”.

(*2) Um Ser como Maria Santíssima não pode ser diretamente contactado, na atualidade do globo, por nenhum médium encarnado, pela grandeza excelsa de Seu Espírito Redimido. Quando Bernadette Soubirous, Catarina Labouré ou Lúcia dos Santos interagiram com Ela – em 1858, 1830 e 1917, respectivamente –, mesmo estando encarnadas, deveu-se isso à santidade de seus corações, sumamente avançados, na pureza de sentimentos, para os padrões da Terra, de modo que podiam ascender até uma freqüência vibratória a que a Mãe Santíssima, em contrapartida, podia abaixar as Suas, assim se estabelecendo a compatibilidade de ondas mentais, para o fenômeno de comunicação mediúnica.

(*3) Mateus, 18:20.

(*4) Simbolicamente, dores na coluna vertebral podem indicar a somatização de uma sensação de “esmagamento” do ser, por um excesso de responsabilidade, de que se sinta investido. Mais ainda se faz sintomática, no sentido desta interpretação, se levarmos em conta que tais dores me são raríssimas, no meu atual estado de saúde e idade na “matéria”.

(*5) Referência aos testes de mísseis, para transporte de ogivas nucleares à longa distância, levados a efeito, recentemente, no Irã.

(*6) Mateus, 18:14.

(*7) Jesus se dizia “amigo” dos Apóstolos. Maria repete o padrão do misericordioso nivelamento “fraterno” com a humanidade, exemplificado, há vinte séculos, por Seu Filho Sagrado.

(*8) “Participation mystique”. A term derived from anthropology and the study of primitive psychology, denoting a mystical connection, or identity, between subject and object. (Pesquisa do Médium)

(*9) Inúmeras tradições religiosas do Oriente (como o tantrismo) e do Ocidente sustentam esta tese, a começar do “Cântico dos Cânticos”, na ultra-reacionária tradição judaico-cristã, livro (componente da Bíblia) de autoria presumida do rei Salomão.

(*10) Mateus, 21:31 (*18).

(*11) Mateus, 10:16 (*18).

(*12) Mateus, 25:27 (*18).

(*13) Mateus, 9:16-17 (*18).

(*14) Levítico, 19:18; Mateus, 5:44; João, 13:34 (*18).

(*15) João, 17:21 (*18).

(*16) João, 14:12.

(*17) Mateus, 5:48.

(*18) Atenção: os excertos bíblicos foram sugeridos pela Autora Semi-Divina em sua essência, e não na literalidade encontrada nos escritos sagrados.

 

(Notas do Médium)