No final dos anos 1960, recebemos um senhor de meia-idade recém-desencarnado, dotado de inteligência e saber expressivos para o ambiente em que vivia. Enfrentava sérios problemas de adaptação à realidade espiritual, porque não mais poderia manipular as pessoas à sua volta, com sua capacidade de persuasão e argumentos fundamentados nos “bons costumes” e na “boa moral cristã”. Não se tratava, porém – para pasmo de muitos dos leitores encarnados –, de um homem propriamente mau-caráter, a despeito de bem próximo dessa condição.

Explico-me: as manobras de controle que os indivíduos exercem uns sobre os outros, no domínio físico de existência da Terra da atualidade, são tão habituais, embora (em sua maior parte) pré-conscientes ou inconscientes, que se tornam generalizadas formas sutis de exercício indevido de poder sobre o próximo – entenda-se: “indevido” por haver ingerência sobre a liberdade de ser, pensar, sentir e agir dos semelhantes. E isso se dá desde as relações mais íntimas, com os ditos entes queridos (será que são amados realmente, dentro desses termos de relacionamento interpessoal?), até as menos próximas, com colegas, conhecidos ou estranhos, na vida profissional, social etc.

Não obstante esse quadro lamentável e bem perceptível (para observadores mais atentos), o que se costuma compreender como “manipulação” restringe-se a processos malevolentes bem mais graves, que implicam a intenção deliberada de prejudicar terceiros e ludibriá-los em benefício próprio, amiúde envolvendo condutas ilícitas ou vizinhas a comportamentos criminosos, segundo os cânones da limitada e míope justiça terrena.

Um problema preocupante da expressiva maioria das pessoas mais inteligentes e/ou instruídas que a média planetária, quando encarnadas, é que elas conseguem mais facilmente ocultar suas intenções e obter dos outros o que desejam. Tais expedientes, todavia, mais atinentes ao campo da habilidade emocional e relacional do que propriamente das falhas de caráter, perdem sua força e validade, assim que, fora do corpo de matéria densa, o espírito adentra uma faixa de consciência em que o bem e a verdade prevaleçam.

Dessarte, esses “espertos do bem”, digamos assim (pois os perversos nem sequer têm acesso aos planos de existência intermediários entre o “Céu” e o “Inferno”), enfrentam um momento crítico de decisão profunda e dramática, ingente crise de consciência e choque de realidade: ou eles se reconhecem como de fato são e suspendem todos os artifícios empregados para se imporem sobre a vontade dos outros, passando a agir de modo genuinamente fraterno e respeitoso com seus irmãos e irmãs em humanidade, ou são precipitados, pela não aceitação desse princípio obrigatório, em despenhadeiros espirituais onde poderão dar continuidade a seu padrão pejado de perigosas ilusões sobre si e sua interação com o próximo, estando, em contrapartida, sujeitos a agentes manipuladores muito mais inteligentes e poderosos que eles mesmos, nos meios de controle mental sobre terceiros, e, principalmente, muito mais frios, egocêntricos e cruéis.

Palavras não ditas… tons dramáticos ou reticentes de fala… jogos de sedução – inclusive e sobremaneira os não eróticos, bem mais perigosos que os sexuais, porque menos visíveis… A prática do engodo se estende muito mais largamente do que se imagina, na cultura ocidental de hoje: não se adstringe a políticos corruptos, advogados maquiavélicos ou vendedores falaciosos. Há corrupção, maquiavelismo e falácia em todas as profissões e funções humanas, como há decência, em graus variados de manifestação, ainda que não majoritária, em todas as atividades existentes.

Ao término de desgastante diálogo de aconselhamento e recepção, quanto possível, acolhedora, precisei me levantar de meu birô e dar dois passos em direção ao “ilustre” senhor desencarnado, que teimava em preservar toda a pompa e circunstância de “homem de bem”, ferido em seus brios. E lhe disse, então, de modo mais direto e incisivo:

– “Deseja que eu fale sobre as práticas de sadismo e desumanidade que o senhor perpetrou durante a sua condecorada participação na Segunda Guerra Mundial? Ou que toque no assunto da opressão sobre suas filhas, induzindo-as a se afastarem de homens com quem o senhor não simpatizava, para contraírem núpcias com aqueles que se assemelhavam a filhos que gostaria de ter ou, noutras palavras: humildes vassalos de suas ideias e vontades? Devo tangenciar o quesito do lucro exorbitante que o senhor sabia estabelecer em suas trocas comerciais, prejudicando fornecedores e explorando clientes, sem contar toda sorte de subterfúgio legal a que apelou para sonegar impostos? Seria oportuno também ventilar o aspecto de sua hipócrita moral cristã, comparecendo todos os domingos à igreja, mas totalmente absorto dos temas espirituais apresentados nas missas, enquanto fixava a mente em suas questões financeiras, ou tecia torpes pensamentos a respeito da moralidade do sacerdote, ou ainda se distraía a observar os atributos sexuais das damas no recinto? E o que dizer das jovens e devotadas funcionárias de seu estabelecimento comercial que o senhor deflorou (numa época e cultura em que a virgindade perdida desgraçava a vida de uma mulher), desfrutando-lhes da juventude por algum tempo, em troca de promessas mentirosas, até que se entediasse e partisse para nova aventura? E como aquilatar sua atitude autoritária, opressiva e quase sempre grosseira, com a mulher pré-santa que lhe foi esposa e mãe de suas filhas, que o serviu como escrava do lar, sem esperar compensações afetivas ou mesmo uma atenção respeitosa durante todo o período em que conviveram, de mais de três decênios de matrimônio, até que sua morte a libertou do tormento de sua presença tirânica?…

É de surpreender, senhor, que ainda seja recebido neste plano espiritual, apenas porque cumpria, num piso mínimo, seus deveres profissionais e paternais, mesmo considerando o contexto da sociedade provinciana em que se achava inserido. E lhe revelo o motivo maior por que está sendo hoje agraciado com o ensejo de se submeter a esta avaliação, para uma eventual permissão a permanecer em nossa Comunidade de pessoas realmente devotadas à prática do bem: a intercessão caridosa de sua avó materna e de seu nobre pai desencarnados, que mobilizaram todas as influências e créditos que detinham, a fim de evitar-lhe uma queda espiritual maior, que poderia vinculá-lo a seres das sombras com quem seria compelido automaticamente a conviver, se apenas as afinidades vibratórias definissem o seu atual paradeiro depois da morte física…”

Meu interlocutor perdeu a máscara. À proporção que avançava em meu discurso, sob a inspiração de Amigos de Mais Alto que me conduziam naquele crucial e sagrado instante, ele se curvava sobre si, em posição fetal, na poltrona em que se aboletava, cobrindo, envergonhado, o rosto com as mãos, anuviado pelas expressões de pavor que lhe toldavam as feições, ante a hora da verdade revelada sem meias-palavras e debaixo das poderosas energias de Autoridades Celestes que à distância nos regiam os esforços benemerentes.

O caso teve um final feliz. O indivíduo sob nossa atenção aqui está, atualmente, preparando-se para retornar aos proscênios carnais, nos primeiros anos do século XXII, e trabalha, com afinco, em regiões de sofrimento, na condição de um muito humilde assistente carregador de macas, em campanhas de socorro, sistematicamente levadas a cabo pelas Organizações de nossa dimensão. A avozinha materna, que interveio em seu favor, reencarnará na década de 2070, para, sob a graça de Deus, recebê-lo como rebento do coração, sendo-lhe mãe amorosa e disciplinadora. O pai continuará em nossa esfera de libertos do casulo fisiológico, como seu protetor espiritual.

Mas a alma em processo intensivo de depuração precisará renascer em estado de extrema indigência (num país que ainda não terá resolvido o problema da fome e da escassez de outros recursos materiais básicos), além de envergar corpo feminino destituído de beleza, portando ainda cérebro limitado. Tudo para favorecer a valorização do sentimento e do respeito ao próximo, por meio de uma experiência-limite, porquanto descerá à ribalta física no seio de uma das poucas nações remanescentes do planeta em que a mulher ainda estará sendo tratada como cidadã de segunda classe, conjuntura esta que a forçará a um matrimônio fora de suas afinidades psicológicas e, pior, contrariando sua orientação sexual, já que continuará ostentando suas tão arraigadas predileções masculinas. A vida sexual, para ela (ele, em organismo feminil), será como uma sequência de estupros no correr dos anos, torturada constantemente no ambiente doméstico, sem direito a decidir nada acerca de sua própria existência. Alguns dos comparsas de suas aventuras infelizes lhe serão filhas biológicas, em situação equivalente: mulheres, feias e pobres, numa sociedade machista e opressiva. Uma grande e preciosíssima oportunidade, visto que, dentro de poucos decênios, apenas o degredo para um mundo primitivo poderia resolver suas questões cármicas ou evolutivas de aprendizado urgente.

Que os amigos e amigas que me leem aproveitem, na medida máxima quanto esteja ao seu alcance, a história que lhes trago, evitando rotas de infelicidade amargas para si mesmos(as). A verdade é um poder-motriz do Inteligente Universo de Deus. Cedo ou tarde, retorna à criatura, de um modo ou de outro, se não suavemente, decerto com a força inapelável das circunstâncias inarredáveis…

Espírito Gustavo Henrique
Médium: Benjamin Teixeira de Aguiar
Aracaju, 5 de maio de 2016

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