Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Você questiona a imortalidade, porque é muita carga psicológica aceitar todas as implicações de não morrer jamais. Nenhum atitude, dentro dessa perspectiva, pode ser em vão. Tudo repercute para sempre e o próprio indivíduo terá que colher ou ao menos assistir aos desdobramentos de seus atos. A pessoa se vê impedida de ser medíocre, de ter propósitos superficiais, meramente egóicos ou imediatos. As ponderações tomam um peso de infinitude em todos os sentidos. Nada mais pode ser visto como fruto do acaso, porque tudo pode ser resolvido ou degringolado no correr do tempo sem fim que se tem pela frente.

Os animais não têm consciência desse peso imensurável de responsabilidade que também lhes onera os ombros dalma. Um dia, porém, chegarão também à humanidade, a adultidade do espírito e, da mesma forma, tecerão os mesmos mecanismos de defesa: a negação, o cepticismo, o medo, a preguiça de pensar e sentir em largas medidas.

Assim, quando você vir muita gente inteligente rebatendo a tese imortalista, a ponto de regatear as evidências mais claras, não se permita quedar perplexo. É fenômeno natural da imaturidade psicológica que ainda é típica à condição humana na Terra, que, todavia, será sanada com o tempo, à medida que as partes infantis da psique humana se desenvolverem.

Suporte, amigo, o ônus de ser imortal. Permita-se assombrar. A princípio, doerá. Depois, o maravilhamento conduzi-lo-á a um estado de graça, já que será forçosamente levado a refletir na Divindade e seu interfluxo constante com Ela, e em como tudo só pode, por isso mesmo, ser para o seu bem, e em como tudo já está bem, e em como você já é feliz, infinitamente feliz, ainda que, em algumas circunstâncias, as forças do momento pareçam estar contra você e seus sonhos de felicidade.

Não tenha medo do preço a pagar, por se saber herdeiro da eternidade, porque se perderá ilusões, amealhará, em compensação, grandes conquistas do espírito, entre elas a sabedoria, a paz e a plenitude, em medidas que por ora nem sequer vislumbra.

Suas resistências internas à convicção em sua imortalidade, analisando-se em profundidade, notará, têm muito mais de hábito, uma barreira conceitual e psíquica que antepôs entre você e a realidade que lhe impeliria à mudança que não deseja em seu lado primitivo de ser. Eis por que tão difícil, amiúde, abrir-se à verdadeira espiritualidade. Tão magnífico ser imortal, mas poucos, do fundo da alma, desejam tal tesouro. E eis por que, da mesma forma, inconscientemente, elaboram todos os artifícios de dúvida, de negação sistemática, de deboche e de ojeriza ao assunto que deveria ser a base para qualquer reflexão séria que fizessem, pela total mudança que implicaria de paradigmas, de parâmetros de avaliação, de escolha e de interpretação da realidade.

Para você, todavia, que está na fase intermediária, em que a dúvida se aloja em sua alma, nele se asilando juntamente a uma série de perturbações afligentes, como a dúvida em relação à assistência divina, relaxe. Por mais que duvide, podemos lhe apresentar essa certeza: você e aqueles que ama, jamais morrerão verdadeiramente. Não é por acaso que todas as tradições da Humanidade cultuaram a morte como um processo de passagem. Não é por outra razão que tão raras criaturas em todas as épocas da humanidade, inclusive a atual, descreram de modo absoluto da sobrevivência ao decesso carnal. É por isso que a esperança de subsistir à morte do corpo lhe é tão forte e insopitável.

Siga os alvitres de sua alma, que lhe diz imortal, herdeiro da eternidade, e assuma a sua herança de glória e esplendor, sem mais se perder no inferno da angústia de somente disputar as conquistas efêmeras do plano material de vida.

Deslinde-se, definitivamente, amigo, do medo de ser feliz, do medo de morrer, do medo de enfrentar a magnitude imensurável de sua grandeza eterna! Você é herdeiro do infinito e de todas as conquistas que lhe condizem. Por isso surgem as degenerescências do ego, que quer tudo conquistar no plano da finitude, que tem sede de infinito no que é perecível. Somente voltando sua sede para a fonte inestancável donde tudo promana, poderá saciar sua sede dalma e ser, realmente, feliz e pleno.

Evidências científicas há suficientes para não se sentir enganado com a convicção na vida além da morte. Basta que se tenha interesse sincero no assunto e se pesquise de coração o tema, e descobrir-se-á imenso material. A negação é que carece de comprovações cabais, mesmo porque isso nunca será possível, já que, pela própria natureza filosófica da prova, nunca se pode provar a não existência de alguma coisa, mas manter a crença em suspenso, já que, a qualquer momento, a prova da existência daquilo que se nega pode surgir.

Não se deixe mais envolver pelos tentáculos satânicos da dúvida que o arrasta para longe da dignidade de herdeiro da vida eterna, e, assim, em vez de corromper o coração acatando as sugestões da negação, permeabilize-se às ousadas afirmações de imortalidade que Deus lhe apresenta como chamamento à Vida.


(Texto recebido em 9 de setembro de 2001.)