Se alguém não consegue relevar suas faltas – quer você de fato tenha incorrido num deslize ou apenas agido num nível de cognição e propósito inacessível a quem não porte inteligência, experiência ou maturidade psicológica bastantes para compreendê-lo(a) –, essa pessoa não lhe quer bem, em profundidade, e está revelando animosidade em relação a você, por detrás de um jogo de conveniências superficiais ou mesmo de uma grotesca encenação de afeto.

Recorde-se, em tempo oportuno, de como o expediente de rejeição e condenação, de fundo moralista, compõe os processos de manipulação exercidos por caracteres dissimulados e calculistas, lamentavelmente encontrados amiúde no círculo mais íntimo de seus entes queridos, biológicos ou não.

Assim, buscando não se preocupar nem se magoar, empenhe-se, sobremaneira, por aceitar a inevitabilidade de o laço relacional que você entretece com essa criatura precisar ser esgarçado e, de acordo com as circunstâncias, eventualmente rompido – ainda que você perdoe, à distância, e não deseje mal àquele(a) que não foi capaz de desculpá-lo(a), ou tão só não lhe entendeu a diferença no modo de ser, ou, ironicamente, não lhe percebeu a superioridade de intelecto e valores.

Todos os corações que amam perdoam – trata-se de um corolário indissociável do amor genuíno.

É evidente, porém, que cada indivíduo tem seus limites, não só para tolerar uma característica infeliz em outrem, mas também para, no sentido diametralmente oposto, não resvalar na indevida complacência com certos traços de caráter inadmissíveis, por princípio – porque realmente imorais.

Em certas situações, a melhor expressão do amor exige afastamento, a fim de que os vínculos afetivos não se convertam em repulsa e hostilidade crescentes. A despeito disso, é impossível nutrir sentimentos genuínos por alguém, quando não há a aptidão para perdoar os erros alheios.

A propósito, vejam-se os exemplos de pais e mães conscienciosos(as), de cônjuges maduros, de gente reta e lúcida, em quaisquer circunstâncias – todos(as) apreendem perfeitamente a fronteira cinza de ambiguidades entre o bem e o mal que, em algum grau, existe em cada ser humano.

Decerto que essa assertiva não constitui uma apologia ao cinismo e ao relativismo moral que tudo justificam. Todavia, numa perspectiva realista, é irrefutável que, se uma personalidade não tem capacidade para reconhecer a falibilidade da condição humana, jamais poderá ser empática, nem sequer pragmática, correndo o risco de descambar para o moralismo hipócrita e fanático do dogmatismo inflexível que perturba toda cultura e época, dentro ou fora das religiões formalmente organizadas.

Benjamin Teixeira de Aguiar (médium) e
Eugênia-Aspásia (Espírito)
em Nome de Maria Cristo
Bethel, CT, região metropolitana de Nova York, EUA
18 de dezembro de 2020