(Diálogo mediúnico com Eugênia)


Benjamin Teixeira,
em diálogo com o espírito
Eugênia.

Mantive, na íntegra, o diálogo que acabei de travar com a sábia orientadora espiritual, desde seus aspectos mais abstratos e complexos aos mais íntimos e emocionais. Creio que o texto assim preservado, em sua completude humana, pode ser mais útil ao(à) prezado(a) leitor(a) e prestar melhor ao fim a que se destina: comunicar uma experiência de caráter pessoal (embora com desdobramentos e implicações transcendentes, como será percebido).

(Benjamin) – Eugênia, estou me sentindo estranho, porque a intuição e a voz de minha consciência me dizem que eu deveria manter a publicação das mensagens no nosso site, também nos dias não-úteis, e você me pediu, na madrugada passada, que a suspendesse.

(Eugênia) – O querido amigo interpretou mal minhas palavras. Afirmou-me entender que, encontrando-se sobrecarregado, “à beira do colapso nervoso”, não deveria manter este sistema, sentindo-se quase enlouquecer de estresse (lembra-se de suas palavras neste sentido, não?)… Eu tão-só concordei com sua avaliação.

(B) – Não compreendi. Se “concordou”, porque diz que eu a interpretei mal?

(E) – Concordei em que chegasse às conclusões a que chegou, naquele momento, não querendo dizer, com isso, que fosse a melhor conclusão, muito menos a melhor decisão. Foi, apenas, a sua decisão. Eu lhe respeitei, na sua condição de mente livre, o direito de não estar aberto a se sentir “violentado”. Não me perguntou se eu considerava correto suspender o sistema, e sim se você poderia chegar àquela inferência de julgar inapropriada a manutenção da publicação diária, ante a perspectiva da autoconsumpção. E eu lhe disse que você tinha o direito de tomar providências para evitar o que supunha uma conduta quase-suicida, asseverando-lhe, então, que, em se sentindo violentado, deveria realmente suspender a tal periodicidade de publicações. Seria bem diferente se, por exemplo – o que você não fez –, houvesse-me perguntado se era correta sua impressão íntima de estar sendo violentado, de estar verdadeiramente sobrecarregado; ou, em existindo de fato a sobrecarga, se a atitude mais apropriada de solução seria suspender a publicação mais copiosa das mensagens ou reduzir a carga de atividades em outros departamentos de trabalho, em sua existência.

(B) – Que vergonha… Já havia publicado, no próprio site, como uma determinação sua, a suspensão deste sistema…

(E) – Por que vergonha? Por haver interpretado mal a mestra, e poder, por conta disso, apresentar ao público esta experiência, como um exemplo da delicadeza, complexidade e subjetividade inextricavelmente relacionadas à interação com os orientadores espirituais? Creio que isso, em verdade, pode constituir um ganho para todos e não uma perda. E, diante de sua consciência, responda-me: sente mesmo vergonha?

(B) – Não… tem razão… acho que é culpa. Pelo que você revelou, fui superficial na abordagem da questão com você, na madrugada de ontem.

(E) – Você estava emocional e neurologicamente esgotado, entendendo, daquele prisma de profunda estafa, que deveria obter uma resposta urgentemente para a questão. Este tipo de confusão é comum em quem está submetido a tensão muito intensa. O mais importante não é haver errado – isso é uma “inevitabilidade prática”, como reza o princípio jurista, já que, enquanto alguém for humano, incorrerá em equívocos… o que de fato se faz relevante é você estar disposto a aprender com as próprias faltas, ressarcir-se por elas, reparando as conseqüências negativas na sua e na existência de outros, bem como demonstrar a disposição louvável de expor-se nesta experiência do cair, para que outros extraiam aprendizado de sua vivência. Deste modo, o saldo positivo é tão maior, que seu deslize acaba se fazendo quase uma bênção. Como muito bem disse Santo Agostinho, “o pecado aproxima o homem de Deus”.

(B) – Você é maravilhosa, como sempre, Eugênia…

(E) – Há mais uma questão importante a considerarmos, neste capítulo de reflexões: esta falha de avaliação e do pensar-correto, em que incorreu comigo, o ser humano médio de nosso planeta está viciado em cometê-la em todos os departamentos e níveis de sua vida, fazendo as perguntas erradas a circunstâncias, pessoas e a si mesmo, denodando-se em resolver, amiúde, longas seqüências de problemas, por exemplo, apenas para descobrir – tarde demais para um recomeço pleno, na existência presente – que estava seguindo a trilha indevida de “erros-e-soluções”, à maneira de um homem de negócios que supõe ser o sucesso profissional o fator que mais lhe garantirá a paz e felicidade domésticas. Talvez somente na maturidade, quando houver perdido a intimidade e a confiança de seus filhos, descubra que lutou a vida inteira no campo de batalha incorreto, e que, se a guerra já não estiver perdida para esta reencarnação, ao menos importantíssimas e estratégicas fases de conquista foram de todo desperdiçadas, em fragorosas derrotas. Perceber-se em pelejas inglórias, no correr de anos sucessivos, constitui uma experiência extremamente amarga, mas, lamentavelmente, muito – mas muito mesmo – comum na Terra de hoje. Alguém pode dizer, por outro lado: “Meu problema é falta de dinheiro”, esquecendo-se de questionar uma raiz mais profunda de adversidades em sua vida, como o apego excessivo a bens ou situações materiais, ou a dificuldade em estabelecer uma escala de valores, a ordem hierárquica apropriada de prioridades e objetivos. Neste caso, a indagação salvadora seria: “Realmente, preciso de mais dinheiro para ser feliz? Será que não estou desviando minha atenção dos verdadeiros problemas, para me distrair com contrariedades periféricas, que poderiam ser naturalmente solucionadas, por efeito natural da resolução de itens mais nevrálgicos?” A fala de Nosso Mestre Maior ressoa ainda em nossos ouvidos, inesquecida, embora ignorada: “Buscai primeiramente o Reino dos Céus e Sua Justiça, e o demais se vos acrescentará” (*1). Quase sempre, o problema do ser humano está na questão filosófica basilar da percepção. Fritjof Capra foi muito feliz quando abriu seu clássico “O Ponto de Mutação”, de 1980, com esta conjectura filosofal de excelente acerto.

(B) – Mais algo a dizer sobre o assunto?

(E) – Não, já está suficiente para um dia que avança para as 7h, com inúmeras atividades a serem desdobradas, inclusive o programa de TV, a se realizar ao vivo. Tente acomodar-se, para dormir, ao menos, cinco horas de sono.

(B) – Obrigado, mamãe Eugênia. E peço desculpas, mais uma vez, pelo vacilo.

(E) – Tranqüilize-se… Nada… realmente nada… acontece por acaso. Já falei sobre o resultado construtivo em termos de custo-benefício, acima. Ponha este diálogo no ar, e siga a aprestar-se ao sono.

(Diálogo travado em 3 de maio de 2008. Revisão de Delano Mothé.)

(*1) Mateus (6:33)