Benjamin Teixeira
pelo espírito Temístocles.

 

As neuroses – ou transtornos, conforme o vernáculo moderno da psicologia no plano físico – compõem sistemas complexos de manutenção e regulação do psiquismo, de acordo com necessidades próprias do indivíduo, normalmente de natureza compensatória. Por exemplo: quem foi muito atacado na autoestima, em criança, pode desenvolver um sentido de excelência pessoal, que o leve às raias da arrogância e da presunção; ou, de modo inverso, de acordo com características personalíssimas, desenvolver uma projeção de poder, em ídolo próximo ou distante, com quem se identifica, num nível pré-consciente ou inconsciente, como no caso das “mulheres-cinderela”, que esperam a chegada do “homem-deus-salvador-resolvedor-de-todos-os-problemas” ou de fãs idólatras de celebridades.

Os arquétipos psicológicos (permitam o aparente pleonasmo), entretanto, podem ser excelente e eficaz alternativa para estereótipos socioculturais (eis o porquê do pleonasmo anterior – para justificar esta adjetivação dos estereótipos, distinguindo sua origem e natureza em cotejo com os arquétipos), como o do “sujeito-arrogante” ou o da “cinderela-idiota”. Buscar elaborar os próprios problemas e carências com realizações e funções compensatórios, com serviço prestado à coletividade, é magnífico caminho de resolução das próprias pendências íntimas. Deus não permite distúrbios sem finalidades criativas. Portanto, encare cada uma de suas problemáticas interiores ou existenciais como concitações a desdobrar um ou um conjunto de atributos novos, talentos adicionais, poder e lucidez expandidos.

Neste sentido, quem se sente “muito seguro” de si e, ao mesmo tempo, já se deu conta de seu reverso de baixa autoestima inconsciente, tanto quanto o psicotipo diametralmente oposto: do complexado (do complexo de inferioridade) no nível consciente, que já se conectou ao seu sentido de sua arrogância inconsciente, podem transferir seu sentido de pouco valor pessoal para um sentido de reverência e reconhecimento do poder Divino, e projetar sua contraparte emocional de confiança excessiva em Deus, assim servindo-O, na pessoa dos semelhantes, com isto açambarcando os dois lados da moeda neurótica “inferioridade-superioridade”, um binômio psíquico, como aliás tantos há nas estruturas da mente humana. Os dois polos passam a agir em cooperação, construtivamente, e ambos no nível consciente, que é o caminho da integração psicológica buscado por todas as escolas psicoterapêuticas, porque o indivíduo admite a própria inferioridade, e, simultaneamente, vivencia o impulso compensatório da superioridade-salvadora, na imagem e na Pessoa de Deus. Já a mulher com “complexo de cinderela” pode trabalhar ardorosamente por desdobrar, em si mesma, todas as características que delineia mentalmente na figura do “príncipe encantado”, tornando-as metas para si, em vez de idealizá-las num parceiro hipotético com quem se consorciar.

Por outro lado, cuide, também, de não atacar quem já é muito frágil. Amiúde, pessoas muito imponentes não passam de balões infláveis-inflados, com muito volume e nenhum conteúdo além de ar. De inversa maneira, atente-se para a fragilidade “externalizada” de certos indivíduos: pode constituir mero simulacro comportamental, uma máscara emocional, à guisa de sedução para incautos, assim articulando meios de dominar e de possuir, por meio de intrincados complexos de culpa e de medo, criteriosamente urdidos, em teia estratégica de manipulação.

Em tudo, prime pelo esforço de estar lúcido, atento para o fato de que a mente tem natural tendência a descer para os níveis atávicos de funcionamento automático, por isso primários em seus julgamentos e reações ao mundo externo. Ore, medite, observe com acuidade. Faça terapia, consulte seu conselheiro espiritual. Leia, pesquise, informe-se por todos os meios ao seu alcance. E, por fim, duvide de tudo, principalmente de suas certezas e complexos de vítima, entregando-se a Deus e a Seus emissários, quanto à intuição do melhor a fazer, não postergando, porém, nenhuma iniciativa que se faça urgente e necessária.

Este o caminho da melhor lucidez, e do menor erro.

(Texto recebido em 14 de agosto de 2005.)