Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Mantenha-se em estado de contínuo aprendizado. A busca de conhecimentos deve ser uma constante. Permita-me tocar nessa obviedade ululante – todavia, por mais que isso soe estranho (e é por este motivo que abordamos a temática), muitos se acomodam a seus parâmetros de observação da vida, supondo desnecessário reformulá-los, ou ao menos reavaliá-los, volta e meia. Admitem até que devam estar sempre se informando, mas não questionam a base de percepção dos novos dados, os paradigmas de mundividência, que lhes constituem as lentes e os instrumentais de sondagem, por onde captam a realidade externa e mesmo o cosmo íntimo. E, com isso, não notam que podem estar perigosamente enveredando pela obsolescência.

Questione tudo. Conserve um alicerce de princípios e convicções essenciais – por serem demasiadamente axiomáticos para que se possa contraditá-los, sem que se abdique da razão –, mas, mesmo nessa esfera do fundamental, questione suas formas de manifestação. Por exemplo, a fé em Deus é um elemento de bom senso. Duvidar da origem transcendente do imanente denota falta de inteligência, de isenção, ou mesmo uma tendenciosidade mal-disfarçada, de cunho ideológico. Mas a concepção de Deus, a idéia que se faz do Criador, essa sim, deve ser reconsiderada constantemente, já que veremos n’Ele apenas o que nossa estrutura cognitiva e arcabouço moral permitam-nos enxergar. E, como estamos a todo momento evoluindo, nossas impressões sobre a Fonte de Tudo sempre estarão ou deverão estar sofrendo alterações.

Não se deixe, portanto, abalar por nada. Se você se antecipa a rever continuamente suas crenças e presunções de verdade, não dá espaço para que os oportunistas do desespero cheguem e façam vir por terra seu castelo de concepções… e ilusões… Não autorize ninguém a destruir seu universo interior. Para isso, deverá estar, a todo instante, reconstruindo-o, renovando-o, atualizando-o. Em suma, se você faz o dever de casa, não precisará ser punido por negligência. E as Forças da Vida, de fato, nos cobram alto tributo de dor, em forma de crises existenciais e terríveis decepções, quando não mantemos uma rigorosa atividade de reflexão em torno das questões de alta envergadura filosófica, o que, de modo inverso ao que erroneamente se supõe, não constitui atribuição da alçada de pensadores profissionais, mas de todo ser senciente. Por que estamos onde estamos, com quem convivemos e com as intuições, necessidades íntimas e aspirações que portamos, e qual o propósito de tudo isso? De onde viemos e para onde iremos? Ninguém pode transferir a responsabilidade de meditar sobre tais questões capitais. Omitir-se a refletir nesse âmbito do essencial equivaleria a renunciar à razão e à condição de ser humano.

Evidentemente que se deve ler acerca do assunto, consultando-se peritos e estudiosos da área; contudo, após a pesquisa e estudo criteriosos, é necessário sempre fazer uma análise pessoal para se chegar às próprias conclusões sobre o melhor para si, já que ninguém, absolutamente ninguém, por mais abalizado ou lúcido que seja, poderá fazer pelo indivíduo o que só a ele compete: ouvir sua consciência e dirigir sua vida.

Por fim, não se esqueça de que, após terminar uma laboriosa jornada de conjecturas profundas, cogitações complexas, experimentações complicadas e altas elucubrações, não pode se dar por satisfeito: a tarefa é infinita, dado que cada criatura consciente deverá assimilar e processar todo o conteúdo da eternidade, por esforço próprio. Isso posto, compreende-se que a atitude ansiosa de se querer chegar imediatamente a resultados finais, a certezas cabais, a produtos intelectivos prontos, é sinal de grande estultícia. A satisfação, na elaboração intrincada desses temas subidos, deverá estar, justamente, no dedicar-se a trabalhar sobre eles “ad aeternum”, dilatando, gradativamente, a compreensão e domínio dos assuntos enfocados, apreendendo, paulatinamente, maior controle sobre si e o próprio destino. Isso sim – viver sempre em aberto – é a melhor e mais segura, duradoura e genuína forma de felicidade: se tudo muda incessantemente e apenas a presença permanente da mudança é inalterável no concerto das coisas, somente quem a ela se adapta poderá viver em paz e satisfeito.

(Texto recebido em 21 de setembro de 2000. Revisão de Delano Mothé.)