Benjamin Teixeira
pelo
Espírito Lucas.


Olá, amigos.

Meu nome é Lucas. Sim, é isso mesmo: Lucas. Nada de nome pomposo ou mirabolante, que engendre aura de mistério e fascínio em torno de minha fala.

Vim falar sobre mediunidade.

Existem muitos que ambicionam a fortuna material, a beleza física, o poder político, o prestígio social, a celebridade. Muitos mais se esquecem de ser úteis. E nenhuma utilidade maior há do que aquela pertinente a servir de Canal, no mundo material, para os Seres do Outro Mundo, o Espiritual, que estejam interessados no progresso e confraternização universais no globo terreno.

Médiuns existem em toda parte, como há fios condutores de força, como há lâmpadas na via pública, como há tomadas espalhadas pelo prédio público. Porém, que energia canalizam? Que luz produzem? Que força propagam?

Se você percebe sensibilidade maior em si, estude Kardec semanalmente; medite em torno do Evangelho de Jesus, todos os dias; una-se a grupo sério de estudos da paranormalidade, seja aos moldes do Espiritismo brasileiro ou não; e se discipline nas práticas propostas pela assembleia de que fizer parte. Mas, sobretudo, mantenha a mente no espírito de serviço, da caridade em todos os sentidos, inclusive aos desencarnados. Esta é a sintonia – a do Amor – que o prevenirá das quedas maiores que lhe podem perder a reencarnação.

Planejei trabalhar com meu médium bem antes de sua reencarnação. Como é bem comum nestas ocasiões das últimas despedidas e promessas de fidelidade e apoio recíprocos, ele fez votos de perseverança, devotamento e muita disposição ao trabalho de estender a esperança e a paz, em todos os contatos humanos, por meio de todas as oportunidades que se lhe apresentassem. Mas, por fim, fugiu do ministério santo, à medida que os obstáculos se delineavam em sua trajetória humana.

Disse-lhe, nos primeiros momentos de seu espocar mediúnico, quando ainda estava na casa dos vintes anos, fazendo uso, um tanto afetado, da segunda pessoa de tratamento, para impressioná-lo melhor, já que conhecia a fundo seu ponto fraco:

– Coloca um pouco d’água potável, próxima a ti, em tua mesa de preces. Une as mãos, contrito, ora com fervor, fecha os olhos e espera. O Senhor te falará, pela voz da paz de consciência, que te dirá o que deves fazer. Depois, volta ao padrão normal de consciência e ingere a água obtida, como prática meditativa diária, e, mormente, faze o dever de solidariedade que se houver indicado a ti, durante aqueles momentos de profunda concentração, ainda que muito comezinhos e desprovidos de alarido público.

– Que faço depois dos primeiros exercícios? Terei que fundar “uma OBRA, não?” – perguntou-me ele, impaciente. Respondi:

– Abre unidade de reflexão em torno das Palavras do Cristo, sem grandes pretensões a tamanho ou influência social. Medita com teus amigos, ainda que muito poucos os que se disponham a estar contigo para este mister. Troca ideias com eles. Ensina, mas aprende também. E, ao final das reuniões ali realizadas, hebdomadariamente, podes, se quiseres,  impor as mãos sobre os que se sentirem necessitados, exorando as bênçãos do Alto, que afluirão, fica certo, como estímulo ao trabalho, à autorreforma e ao estudo contínuo do si-mesmo, para a constante evolução de cada integrante da ‘tenda de oração’, incluindo tu mesmo.

Franzindo o cenho, incomodado, o meu protegido redarguiu:

– Mas não trabalharei com cura espiritual ou com a psicografia de mensagens de parentes mortos, não pintarei quadros em transe de famigerados nomes das artes plásticas, ou incorporarei grandes mestres da Espiritualidade, neste ministério?

Profundamente entristecido, já antecipando o desfecho daquele diálogo divisor de águas, disse-lhe:

– Não, meu filho. Nada disso te está destinado. O teu será o trabalho do anonimato luminoso, do serviço de grande valia, mas sem qualquer artefato que provoque admiração ou interesse especial dos que te buscarem ajuda. Tens grave problema de narcisismo, que trazes d’outras vidas (que muito causou danos a ti e a muitos que sofreram tua influência), e urge que esqueças de chamar atenção em torno de tua pessoa. A fama, no campo da Espiritualidade, é desafio grande e complexo demais, para teu coraçãozinho frágil. És bom menino, mas não tens estrutura de maturidade psicológica, para enfrentar o incenso da multidão, pronta a idolatrar os santos de barro da loucura humana, que lhe sirvam aos caprichos de menor esforço.”

Ele não me ouviu, lamentavelmente. Considerou-me uma “voz das trevas”, um “obsessor” que desejaria afastá-lo de sua “grande missão na Terra”. Como, em prece, ao abrir as percepções mediúnicas, somente ouvisse esta ordem de remoque, de minha parte, resolveu-se, então, por tomar postura diversa. Ligou-se a corrente de pensamento Oriental que considera perigosos os intercâmbios mediúnicos, e, a partir de então, mergulhou numa psicosfera bizarra de esoterismo histriônico.

Atualmente, veste roupas chamativas, apresenta longa barba. Fala empostado e monocórdio, como quem reverberasse vozes do infinito… e tem hábito de olhar fundo nos olhos de quem o procura, sem piscar, para causar impacto. Impressionar é seu objetivo, e tem verdadeiras vertigens de prazer, quando o tratam como ser de luz encarnado, curvando-se ante sua pessoa, como se fosse um deus no corpo, e não um homem com uma semente divina adormecida.

Afirma-se casto, diz-se haver superado a saudável energia da agressividade, não ri alto, mantém-se magro e vegetariano, articula, com mestria, olhar melancólico e lânguido. Em tudo, há nele uma paródia da santidade que longe está de conquistar, mas, pior que tudo: nada disso faz ele de modo completamente consciente. Como seria insuportável para ele – que é, apesar de tudo, homem honesto – ver-se como um charlatão, coloca-se, ante si próprio, como alma pura e abnegada, amansando o tom de voz, gestos lentos e suaves, qual se estivesse sempre deslizando no chão, mais ainda causando espécie, em quem o observa, acidentalmente. Em outras palavras: enlouqueceu parcialmente, por não admitir que sua vaidade religiosa era tão autocrática e dominante em seu psiquismo, que jamais toleraria não encontrar satisfação.

E, como há sofredores e desesperados de toda ordem no mundo, naturalmente encontrou um grupo de pessoas que acredita seja ele um enviado especial do Céu. Curvam-se diante dele, beijam-lhe as mãos. Queimam incensos na sua presença, cantam hinos de louvor mântrico, tratam-no de “mestre” e de “homem santo”, como se estivessem perante um avatar (encarnação divina), à moda hindu. Quando perguntado sobre o que pensa de si, gira os olhos para cima, suspira fundo, em caricatura de modéstia profunda e contrita, e, como se arrancasse um desabafo genuíno e doloroso de uma alma delicada e humilde, meneia a cabeça negativamente e fala, quase inaudível, pausadamente:

– Oh… quem sou eu?… Quem sou eu?… senão o menor dos servidores de Deus?…

A esta altura, percebe ele, de soslaio, para maior vertigem de seu prazer mórbido de histeria fanática, que uma ou outra criatura menos perceptiva ou madura enxuga lágrimas nos cantos dos olhos, julgando acabar de receber mais uma prova cabal da pureza impoluta do homem extraordinário e “iluminado”.

Repito o que parece inverossímil para quem de fora o veja, ou para os que leiam ou ouçam este meu relato macabro: ele é sincero. Não está representando. Assemelha-se ao louco que acreditou no delírio que o possuiu, e há, evidentemente, um conjunto de fanáticos que o circundam, corresponsáveis por este desmazelo moral, alimentando-lhe o disparate. Estão infelizes, castrados, não acompanham a modernidade, abominam a ciência. Tudo que possa despertá-los de seu transe hipnótico, como o estímulo à crítica e à autocrítica, o questionamento genuíno, o comportamento natural e humano, a vida sexual digna, é afastado daquele seio de angustiados perdidos autorreferenciados.

Sobre a castidade pretensa do “homem santo”, há um particular a se destrinchar, apesar do chocante de que se reveste: ele não aceitou a vida sexual salutar e natural, porque, sendo homossexual, seria achincalhado pelo mundo homofóbico de hoje, o que ele jamais toleraria: ser olhado com desprezo por parte expressiva da população. Prefere, assim, a masturbação escondida, que lhe preserva a aura de alma pura, que superou o sexo, a apresentar-se humano, saudável e maduro – a Espiritualidade não está no sexo e sim nos sentimentos elevados, com ou sem sexo. Assim, nutre-se das ilusões, da ignorância e do comportamento e crenças reacionários dos que o cercam, caminhando e levando consigo todos ao barranco, conforme alertou Nosso Senhor Jesus: “Cegos que são, condutores de outros cegos, cairão todos no barranco”.

Ele tinha grande obra a realizar, não de envergadura nacional, como ambicionava, invejando Chico Xavier, intimamente, mas no seu próprio Estado, em caráter de profundidade e valor, no toque de fé em milhares de corações, nas sementes de esperança e transformação espiritual que disseminaria entre milhares, no correr de sua atual vida no domínio físico de existência. Mas eu não lhe podia insinuar, há quase trinta anos passados, no início de seu “desenvolvimento mediúnico”, que seria uma tarefa importante, porque só lograria vulto em seus esforços quando ele houvesse superado o domínio absoluto do ego sobre seu centro de consciência superior.

Meu “ex-tutelado”, destarte, preferiu uma mentira megalomaníaca a uma verdade honesta, pouco doirada. Quando completou 50 anos de idade, recebi autorização de Nossas Autoridades do Domínio Excelso, para me afastar dele, pois que se sabia, àquela altura, que todos os ensejos de despertar para a verdade, na existência que ele ora ainda desfruta, se haviam esgotado. Dois irmãos espirituais de outras vidas permanecem com ele, e tentam contornar, quanto lhes é viável, os desatinos a que se confia, amenizando os estragos emocionais que acarreta, os desvios de rota que provoca, em muitos que lhe dão ouvidos, eis que é dado a inventar, imaginoso, estultícias para mais seduzir adeptos, supondo tratar-se de intuições muito altas, provenientes do Plano Sublime de Vida, sempre ditas em tom retumbante de caráter “profético”, para causarem arrepios e calafrios nos mais sugestionáveis. Desliguei-me dele e recebi autorização a ingressar neste Grupo (que recebe um lindo nome de tom científico), para desdobrar, quanto seja exequível, o que não pude realizar por intermédio dele. Curioso, porque, aqui, encontro exatamente o anverso do que descobri por lá e que tanto me bloqueou a ação salvadora da Luz Espiritual.

O médium que me recebe agora se surpreende, inclusive, por me notar falando, muito tranquilamente, de tão inqualificável tragédia. Mas quero lembrar que nem sempre pupilos e mestres são enlaçados por elos familiares de outras vidas, conforme alerta “O Livro dos Espíritos”, e que, ademais, o apego a pessoas específicas, no carreiro evolucional, revela uma deficiência que deve ser superada, o que luto por fazer em meu espírito, igualmente carente de progresso espiritual e transcendência de propósitos. Por fim, vale lembrar que, após um quarto de século tentando demovê-lo da rota da desgraça, observando-o arruinar-se moralmente, em aconselhamento inadequado, sucessivas vezes (bem como destruindo vidas férteis, postas a serviço de seu ego hipertrofiado, e não da felicidade dos próprios corações por ele atendidos), sentindo-me de todo impotente para reverter a situação, constitui-me, pessoalmente, quase um alívio poder me afastar de lá, vindo trabalhar num ambiente onde possa contribuir para o crescimento e o amadurecimento das pessoas, não para sua viciação progressiva em perigosos fascínios de poder e pretensão de pureza absoluta que jamais poderiam ser buscados, por meio da religião praticada honestamente. O Livro dos Espíritos também esclarece que, quando um protegido não ouve seu “anjo de guarda”, este acaba por se afastar.

Assim, vim laborar em parceria com este médium, e espero ter autorização para voltar sempre, o que não é garantido ainda: primeiro, porque depende do livre-arbítrio dele o me receber; segundo, porque, apesar de já haver obtido chancela de seu “controller”, a mestra de origem grega Eugênia, posso ter esta oportunidade cassada, a qualquer momento, em função de necessidades do programa de realizações vinculadas mais diretamente à reencarnação do intermediário. Ou seja: é um “plus” de crédito espiritual ele me canalizar, visto que não tem o porta-voz qualquer obrigação neste sentido. E tive autorização de vir psicografar, por uma brecha deixada por ele mesmo, uma curiosa conta (pendência) cármica que pesa sobre seu empenho de psicógrafo: várias peças romanceadas suspensas, por iniciativa dele próprio, por alguns leitores estarem-no associando a personagens luminosas de suas páginas, motivo que muito me diverte, por consistir exatamente no contrário do que encontrei no outro agrupamento.

Sim, eu sei, ele é humano – respondo-lhe –, mas, graças a Deus, lúcido(!), ou, pelo menos, mais ajuizado um pouco que meu anterior tutelado. E isso é para comemorar, num meio em que os médiuns ou querem ser adorados, ou julgam que não precisam estudar, ou almejam receber os créditos pelas obras dos Autores Espirituais que escrevem por seu intermédio, ou estão por demais preocupados em ser aceitos por seus segmentos religiosos, como muito ocorre no seio do Movimento Espírita – a despeito de nos merecer todo o respeito e reverência, por seus grandes trunfos do passado e mesmo do presente. O problema é que muitos preferem cercear seus ímpetos vocacionais, e afastarem-se de seus guias espirituais, a serem alcunhados de “médiuns vaidosos”, sem se aperceberem da patética ironia de que isso o fazem por pura e crua… vaidade!… A pior de todas: a que afasta o indivíduo dos deveres apontados por sua consciência.

Esta data é importante para o medianeiro (*) e para os condiscípulos e amigos da Mestra Santa Eugênia, e por isso vim aqui, em forma de “presente”, sendo eu, em contrapartida, presenteado, com esta magnífica oportunidade de serviço.

A todos os médiuns, então, fique meu alerta: se quiserem palco ou prestígio, existem os galarins da vida artística e a esfera da política, para que exerçam, por lá, suas idiossincrasias egoicas, com menos prejuízo a si e a seus irmãos em humanidade. Mas evitem, seja no meio espírita, seja no religioso tradicional, como o católico ou o pentecostal, buscar, na condição de representantes do Alto, compensação para suas frustrações de ordem diversa, como a de autoafirmação social e de influência sobre terceiros.

Amigo e irmão em Cristo,

Tão-só  Lucas.

(Texto recebido na madrugada de 7 de outubro de 2009.)

(*) Comemoração da primeira “Hora dos Fantasmas”, realizada em 2005. Para mais detalhes, clique aqui.
Nota da Equipe.


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