Benjamin Teixeira
pelo espírito
Temístocles.

Recentemente, toquei, “en passant”, na temática abordada na mensagem de hoje – quando da publicação, neste site, do artigo “Fraternidade Universal e Física Quântica” –, fazendo referência, inclusive, aos dois autores que abrem a comunicação que se segue. Em nossa reunião mediúnica fechada desta terça-feira 18 de dezembro, o espírito Temístocles, logo ao início das tarefas de intercâmbio propriamente (existem as de estudo que lhes antecedem), tomou da palavra e ditou o texto abaixo transcrito (a partir de gravação digital), que sofreu algumas interpolações psicográficas posteriores, inspiradas pelo próprio autor espiritual. Um pouco distanciado do didatismo e do espírito analítico que lhe são peculiares, o orientador desencarnado apresentou uma certa abstrusidade, mostrando-se pouco acessível neste estudo (o que não me ficou muito perceptível quando em transe, no momento da recepção), particularidade esta que, entretanto, achamos por bem respeitar, reproduzindo a fala do mentor espiritual tal qual nos foi transmitida.

As mentes coletivas se interpenetram, entendendo-se aqui por “mente coletiva” o que Carl Gustav Jung denominou “inconsciente coletivo”, assim como Rupert Sheldrake chamou de campos mórficos ou morfogenéticos.

Estes entes grupais ou almas de grupo têm funções e efeitos práticos, propriedades, características tão claras, analisáveis e administráveis, quanto indivíduos e personalidades, espíritos, almas vivas, psiques (no sentido de consciências), espíritos eternos em processo de evolução infinita. A diferença é que, no que concerne a estas almas de grupo, psiques coletivas, não existindo uma consciência em processo gradativo de aperfeiçoamento intelecto-moral, estaremos trabalhando com estruturas automáticas – utilizando aqui o termo “automáticas”, não na conotação do mecanicismo clássico, do embotamento, do primarismo das reações e reflexos elementares, mas sim, na acepção de feixes imbricados de processos cognitivos e conceituais, embora não vivos; de pensamentos, embora não de sentimentos; de processamento de dados, embora não de valores; de intelecção e cálculos, embora não de estesia, intuição e vivência espiritual, graça, conexão com Deus, êxtase, sentido do eu, percepção da própria existência!…

Indispensável, entretanto, sempre lembrarmos desta matriz conceitual, desta idéia, a fim de que possamos entender uma série de complexas ocorrências que se dão na existência humana, como a afecção psicológica que algumas pessoas sofrem ao se ligarem a determinados segmentos ou grupos sociais. Não é raro que indivíduos percebam em si uma diferença psicológica sensível (além do que seria razoável esperar), quando estão ou não conectados ao seu clã familiar, ao seu grupelho profissional, ou – para aqueles que possuem esta afiliação – no momento em que se jungem à assembléia de desporto, religião ou política de que façam parte.

Destarte, ao detectarmos, estudarmos e criarmos balizas de conduta em torno do quesito da influência de tais psicosferas, e da nossa relação com grandes corpos mentais, nítida e poderosamente atuantes (d’onde surgiu o estudo de “psicologia das massas”, desdobrado, em particular, por pesquisadores franceses), poderemos fazer melhor gerência de nossas vidas, selecionando os ambientes ou as circunstâncias mais apropriados para desempenho desta ou d’aquel’outra atividade ou função que nos constituam responsabilidade pessoal.

O evento provocador dos estudos originais de psicologia de massa – os horrores da aparente hipnose coletiva que Hitler conseguiu manter, no correr de anos, sobre uma população com profunda e rica tradição cultural, sobremaneira no campo da filosofia, levando-a a agir de forma arbitrária, irracional e genocida – já revelava, quase de modo óbvio, tratar-se de algo mais que uma mera hipnose, o que Jung descreveu bem em seus escritos da época.

É deste campo de conjecturas que provém, por exemplo, o princípio kardecista de metodologia mediúnica que recomenda se realizem tarefas de intercâmbio psíquico somente quando os partícipes da sagrada e delicada atividade conformam-se em grupos coesos, homogêneos, harmônicos; compostos, assim, por pessoas com os mesmos ideais e valores, com o mesmo espírito de serviço e auto-reforma, de autotransformação. Idêntico critério se deve adotar, na condução de si próprio, em relação a todos os demais âmbitos da existência. A mediunidade e os fenômenos psíquicos, por sua natureza mais flexível e plástica, apenas demonstram, de maneira cristalina, o que ocorre em todos os setores da vida humana.

Percebe-se, com facilidade, como certa “química psicológica” não funciona num relacionamento conjugal, numa parceria profissional ou numa sociedade empresarial. Somos peças vivas, a engendrarem, involuntária e automaticamente, por sua mera inter-relação, estruturas espectrais, semelhantes a psiquismos, que não só influenciamos (como a seus componentes), com nossas escolhas, mas também lhes sofremos, bem mais do que gostaríamos de admitir, influência, no sentido de fazer escolhas, agir, pensar e sentir de determinado modo. Quem não já se percebeu reproduzindo a cultura familiar, quando imerso no clã biológico, em ocasiões festivas? Quem já não se sentiu mais agressivo ou emocionalmente escorregadio em determinados ambientes sociais? Nem sempre raciocínios clássicos de etiologia psicológica explicam a gênese e os meandros de tais fenômenos. Em casos extremos, quase uma possessão mitológica ocorre em alguns indivíduos, indicando que algo mais profundo e sério acontece. Cabe a cada um aprofundar suas reflexões, estudos e deliberações a respeito. Ou, quem sabe, apenas ignorar semelhantes proposições, na empáfia presunçosa e pseudo-sábia dos que se julgam muito senhores de si mesmos, ignorantes do próprio turbilhão que lhes vai no íntimo e acima de suas cabeças – sumamente perigosa em seus efeitos, entrementes –, rotulando de “tolices místicas” tais realidades dramaticamente atuantes e influentes no cotidiano das relações e das vivências humanas.

(Texto recebido psicofonicamente, em 18 de dezembro de 2007. Revisão de Delano Mothé.)