Benjamin Teixeira
pelo espírito
Anacleto.


Não alardeie méritos pessoais. Tampouco seja adepto da falsa modéstia. Aprenda a se concentrar em resultados, mais que em propaganda. Não desvie atenção para as aparências, esquecendo-se da essência. Claro que, na era do marketing, não se pode descurar do importante aspecto da imagem pessoal, inclusive para ser funcional e encontrar oportunidade de ser útil. Todavia, reza a boa propaganda que apregoar falsos valores de um produto é a pior promoção que se pode fazer dele, repelindo interessados eventuais, em vez de atraí-los, em um processo de difícil reversão. Seja coerente com seu modo de ser mais profundo e elevado, e as virtudes que portar no seu íntimo emanarão uma aura de credibilidade e respeito que cativará as pessoas e lhes inspirará admiração, ainda que não mova um dedo na direção de se promover.

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Você já ouviu falar de medo de ser feliz? Pois é: é um mal mais comum do que se poderia supor em primeiro exame. Os preconceitos quanto à felicidade, vista como contrária à virtude e à espiritualidade, em quase todas as tradições religiosas da Terra, de um lado; e, por outro, os falsos conceitos de pessimismo e descrença no ser humano, no bem e na verdade, que campeiam nas culturas materialistas do Ocidente, fazem tresandar um odor nauseabundo de cinismo e desespero entre as almas de milhões de criaturas. É possível ser realista, lutador e, concomitantemente, feliz. Pode-se mesmo ser consciente, crítico e até um ativo militante no protesto contra os desmandos da injustiça em toda parte, e ainda assim ser feliz. Felicidade não é um estado utópico de consciência, um nirvana, um narodhi. Trata-se de um estado de equilíbrio interno do indivíduo, entre forças, tendências e aptidões que lhe são próprias, em interação com os contextos sociais específicos em que está inserido. Seja crítico da crítica excessiva. Cuidado com a angústia sistemática dos revolucionários atormentados. Quem está sempre amargurado revela-se emocionalmente doente, e precisa se tratar. Ninguém pode revolucionar o mundo se primeiro não está em paz consigo mesmo, se nem mesmo conseguiu atingir o desiderato mínimo de viver num patamar elementar de bem-estar e paz.

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Demonstre sinceridade em tudo que faz. Seja, antes ainda, honesto consigo mesmo, para que conheça, cada vez mais profundamente, os motivos ocultos, mais genuínos, de cada atitude sua. A integridade não é um valor a ser ostentado: é uma conquista evolutiva do indivíduo, a bem de sua própria felicidade. Quem mente não falta com a verdade para com outrem, mas trai a própria consciência, contraindo débito com os Fluxos da Energia da Vida. É evidente que existem situações-limite em que a criatura é compelida a ocultar um fato, a fim de não se prejudicar ou causar danos a outras pessoas. Não aludimos a essas circunstâncias especiais. Fazemos referência a algo bem mais abrangente que a mitomania em si. Tratamos do indivíduo que mente para si mesmo e que, por isso, falta com a verdade para todo o mundo; da alma que desiste de seus ideais, de suas metas maiores, de seu quadro básico de princípios. Esse não é um mero falastrão: é um aleijão cósmico ambulante. Desconectado de si, do cosmo e de Deus, tateia no escuro em tudo que faz e que é, sempre inseguro, sempre angustiado, sempre infeliz, cheio de ódios, medos, mágoas ou neuroses, mas, inelutavelmente, insatisfeito.

(Texto recebido em 5 de setembro de 2000. Revisão de Delano Mothé.)