Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Ninguém morre fora de hora. Afora regimes de exceção, cada um desencarna no exato momento em que deve, com pequenas alterações de data ou de circunstância.

Antes de reencarnar, precisos roteiros de trabalho são traçados, em minudências às vezes inconcebíveis à imaginação humana vulgar. Pais, irmãos biológicos, amigos, colegas de colégio e trabalho, afetos, grandes amores, desafetos, grandes decepções. Nos mínimos detalhes em alguns casos, pessoas, lugares, recursos são previstos, em cálculos espetaculares de probabilidade, num esquema fabuloso de acontecimentos que vem a ser desdobrado, à medida que o livre-arbítrio dos envolvidos entra em jogo, no momento da concretização dos projetos existenciais. Nesse instante, mais complexas intrincações ainda surgem, favorecendo a liberdade e a criação do engenho humano, em interação tanto com o próximo, como com as situações encontradiças na vida prática.

Não tenha medo de morrer. Não perca tempo com isso. Tenha medo de não viver, de não estar vivendo, agora, tudo que pode, tudo que deve. É a morte em vida que se deve temer… a morte do ideal, da fé, da esperança, da alegria de viver.

Geralmente, os que muito temem a morte têm uma forte intuição de não estar vivendo como devem, refletindo esse temor para um espectro fantasmagórico do decesso carnal. Quem vive plenamente a vida não teme o seu término, mesmo porque intui, ainda que não esteja disso convencido, que a existência prossegue, além das fronteiras do túmulo.

Seja prudente, seja moderado, não se exponha a riscos desnecessários, cuide do corpo, morada de sua alma, mas não descure de viver com ousadia, coragem, disposição de se expor, lutar, mesmo sofrer pelo em que acredita, pelo que sente poder dar a vida. Se não encontrou algo por que oferecer a própria alma, provavelmente já a perdeu e não percebe.

Por fim, parabéns, prezado amigo, se você já agiu como louco por amor, se já se vulnerabilizou ao outro, se já se entregou sem reservas, se empenha todo o seu coração naquilo que sabe ser fundamental. Os que assim se portam agem conforme Deus quer. No Céu não há espaço para os “certinhos” demais (leia-se: presunçosos), nem para aqueles que se julgam os eleitos do paraíso (leia-se: loucos verdadeiros), mas sim para os que, à semelhança dos escolhidos de Jesus (entre a escória da prostituição e da ladroagem), sentem-se, em qualquer esfera de conduta e de experiência, sinceros, dedicados e prestativos, naquilo que podem, naquilo que são.

Seja racional, seja ponderado, seja cuidadoso, mas, acima de tudo, seja amor! Assim, meu filho, onde quer que esteja, com quem se encontre, Deus far-Se-á com você.

(Texto recebido em 3 de maio de 2002.)