Benjamin Teixeira pelo espírito Eugênia.

Reconstrua o seu futuro com mais esperança. Disseram-lhe que a vida seria toldada de maus augúrios, cercada de terríveis possibilidades para um amanhã soturno, temível.

Grandes diretores de cinema têm imaginado os evos que se seguirão com tintas tão cinzas, que nem fazem idéia do ridículo em que cairão quando os tempos que profetizam chegarem. Nada dos andróides assassinos e muito menos das federações intergalácticas de modos feudais, senão tribais, com ímpetos imperialistas. O futuro aponta para o avanço do sentido humanitário, transcendente do ser humano, e não para um retorno à barbárie, como alguns conjecturam. As melhores produções cinematográficas dessa ordem serão consideradas gibis de mau gosto para crianças de tempos passados, diferentemente de alguns clássicos da cinematografia que serão sempre admirados, pelo seu conteúdo intemporal, assim como obras pictográficas, musicais esculturais ou arquitetônicas de qualidade, que desafiam os séculos.

Quando olhar para a frente, não fite a velhice e a doença. Cuide-se, é claro, para que tenha uma terceira-idade o mais saudável possível, mas em vez de enfocar a mente na decadência inexorável das formas, do vigor e da vitalidade, polarize a atenção em tudo que poderá ganhar, como sabedoria, experiência e visão mais amplas, profundas e fidedignas, que o tempo bem vivido favorece.

Seja como o carvalho, que, quanto mais velho, mais portentoso, mais oferecendo sombra e frutos aos passantes. E não como a grama, cheia de verdor, mas que não dura mais que alguns dias. Há homens e mulheres-carvalhos, assim como homens e mulheres-gramíneas. Fixe-se no lado duradouro da vida, nos seus aspectos verdadeiros, em tudo que é imorredouro, por ter valor permanente para a humanidade. Preste atenção mais às questões do espírito e menos às expressões da matéria, e será feliz, cada vez mais feliz, quanto mais velho ficar. Concentre-se na busca do saber, na lapidação do sentimento, na consolidação do caráter. Concentre-se no bem que pode fazer, na vivência de amor que pode experimentar, na família, na filantropia, na edificação de uma obra de benefício público ou na participação em uma que já exista. Fazendo isso, você estará se aproximando da natureza do carvalho e se distanciando da natureza-gramínea.

Seu futuro será tão mais feliz quanto mais maduro você for. A senectude é para um maior bem-estar. Assim como a fruta que, verdosa, não tem sabor apurado nem é adequada ao consumo humano, da mesma sorte a mente humana foi constituída para atingir a excelência nos anos avançados do corpo, quando, inclusive, o império dos instintos é menos acentuado, e se pode gravitar mais livremente em direção às grandes concepções e abstrações da alma.

Obviamente que, ao falarmos de senectude, não aludimos à senilidade, à decrepitude, e todas as doenças e degenerescências concernentes às disfunções da idade provecta. Pode-se ser velho sem se ser doente e demente. É a isso que fazemos referência. A plenitude da velhice está bem retratada na imagem arquetípica do ancião ou da anciã sábia, como alguém de idade avançada, mas inteiramente lúcido e saudável.

Seja, assim, você, aquele que se candidata ao melhor. Somente quem está fixado no pior do que caracteriza o ser humano pode supor que a juventude, com seus conflitos, indefinições, incertezas e angústias, seja melhor que a meia e terceira idades. Não demonstre, assim, tamanha ignorância e imaturidade, falta de inteligência e evolução. Somente quem está para ser objeto de desejos vãos e agente de aventuras físicas é que pode aspirar a ser jovem eternamente. Existem desejos muito mais satisfatórios a serem atendidos que os meramente estão correlacionados às funções fisiológicas do corpo físico. Há aventuras muito mais instigantes, empolgantes e ardentes que as que o mundo material pode propiciar. As experiências da cultura, da arte, da realização pessoal e profissional, do amor, da criação em todos os âmbitos, do serviço humanitário são muito mais gratificantes que as que tangem ao corpo. E, mais que tudo: enquanto as vivências do prazer físico simplesmente passam, deixando o vazio e o cansaço empós, os conteúdos das vivências do espírito (incluindo aqui as do intelecto) são indestrutíveis, fazem-se cumulativas e, com isso, cada vez mais satisfatórias e enriquecedoras.

Quem envelhece e fica ranzinza, amargo e pessimista apenas demonstra que foi um jovem fútil, e, pior: que permanece ainda escravo dessa futilidade, vendo o mundo de uma ótica ingênua, simplista, dicotomizada em bem versus mal, juventude versus velhice, sem entender que a velhice é o término de um processo, um continuum juventude-velhice, que, se bem vivido, teria conduzido a uma terceira idade feliz.

Mas, agora, esteja você em que idade esteja, porque os jovens sábios de hoje são aqueles já foram velhos sábios outrora, prepare seu futuro, dessa vida e da próxima, para um maior nível de lucidez, de bom senso, e entenda que, no verdor dos primeiros anos ou no outono dos últimos, a sabedoria é quem define a qualidade de vida que se tem, já que existem primaveras de juventude convertidas em verdadeiros infernos de aflições desnecessárias, quanto há outonos de velhice serenos e deliciosos como jardins-antecâmaras do paraíso.

Escolha seu futuro, pela definição do seu presente. Escolha, sempre, a sabedoria, a opção pelo melhor.

(Texto recebido em 25 de janeiro de 2001.)