Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Recebe, com civilidade e paciência, o credor impenitente que te bate à porta, desassisado. É ele aviso de teu pretérito menos digno, em que te desvairaste nos excessos contumazes, a ponto de lograres desespero extremo, arrastando contigo magotes de companheiros outros, entre estes, quiçá, o próprio cobrador insistente que te azucrina o juízo.

Observa, com carinho redobrado, o filho ingrato, atendendo-lhe as solicitações exageradas. Muito provavelmente foste tu mesmo quem o precipitaste no abismo da degenerescência, d’onde agora se levanta, cambaleante e inseguro, irascível e desconfiado.

Toma para ti, sem remoques ou queixumes, a crítica acerba que ouviste bailar no ar, como acusação “sem endereço certo”, ao culpado pelo desequilíbrio de teu grupo familiar ou profissional. Se estás à frente, em termos intelecto-morais, e por isso te sentes com credenciais a te julgares injustiçado com quaisquer insinuações de culpa, é possível que sejas, exatamente por esta razão, o verdadeiro responsável pelo desatino geral, pois que, em séculos passados, tu podes ter estado na liderança da decadência do mesmo grupo, justificando-se, agora, o ônus de teres que reconduzir todos ao bom caminho (ou não serias o mais velho evolutivamente que a maioria dos com quem convives).

Em suma, não te deixes jamais enredar, nas teias insidiosas e sinistras do complexo de vítima. Age com eficácia a teu e a bem geral, toma prumo da iniciativa no melhor a fazer, põe-te na dianteira da administração das providências urgentes, importantes ou essenciais na tua e nas existências dos teus camaradas de destino.

Ao ser humano, é sempre cômodo sentir-se injustiçado, o que quase sempre se revela sofismático, enganoso, e constitui, inelutavelmente, um processo de racionalização, por meio do qual o mecanismo de autojustificação casa preguiça à covardia, orgulho à hipocrisia, a fim de que se fuja à responsabilidade pelo que ocorre consigo próprio ou em torno de si.

Seja qual for tua circunstância, soergue-te sobre teus pés, e fita, altaneiro, o porvir ridente que Deus sempre reserva, Infinito Amor e Misericórdia que é, às Suas criaturas, na convicção de que, se hoje pareces estar padecendo injustiça, podes demonstrar, por este preciso motivo, um padrão de justiça transcendente, ofertando mais, sem seres cobrado a isso, servindo sem retribuição, refletindo e orando serenamente em meio ao turbilhão.

Faze isso, e não só vencerás: já estarás, neste instante, em paz, prenunciando a derrota do mal e promovendo a germinação, no imo de ti próprio, da semente do Bem Imorredouro da conexão com Deus, imperturbável e progressivamente mais ampla, profunda e sólida, com o que, então, far-te-ás imune a todos os males e em plena rota de todo bem possível, a usufruir dentro ou fora do corpo material, em ti ou na vida dos entes queridos e dos que estejam sob teu raio de influência ou preocupação.

(Texto recebido em 21 de novembro de 2008. Revisão de Delano Mothé.)