Benjamin Teixeira
por
espíritos Incógnitos.

Têm algo a dizer sobre aqueles que supõem que a felicidade está no campo da liberação dos instintos, confundindo-os com expressões da alma, da intuição, etc.?

Um dos primeiros aprendizados que a criatura humana faz, em tenra infância, é o controle de seus instintos, regulando-os conforme certas conveniências da vida em sociedade. Assim, os esfíncteres, primeiramente, são treinados, para evacuar em determinadas ocasiões e locais. Em seguida, o choro e demais expressões emocionais mais desabridas recebem freio adequado, sem o que pais são imediatamente vistos como displicentes. Por fim, sede e fome são adstritos a horários determinados ou a certas circunstâncias mais propícias. Por último, surge também a necessidade de controlar o sono, impulsos à tosse, espirros, gargalhadas e liberação de gases, bem como até bocejos, todos tidos como inconveniências deselegantes, quando não redondas grosserias, em acontecendo fora de contexto ou de certas maneiras mais espalhafatosas. A discrição, a contenção, o domínio do instinto, exercido pela razão e pelo coração é o que se espera, dentro do possível, em todas as situações sociais.

Ser humano é conter instintos, educando-os para a vida civilizada. Negar isso é tão absurdo quanto dizer-se que se pode viver em sociedade fazendo o que se quer, ao bel prazer dos ímpetos mais bestiais que venham à mente, como o de assassinar sumariamente um rival, sempre que um interesse pessoal é contrariado.

Quando se trata de sexo, todavia, as pessoas sempre se atrapalham um pouco, pelo fato de os instintos sexuais só despertarem plenamente na adolescência, quando os demais instintos já foram submetidos a longo processo de repressão e canalização, o que faz com que muitos almejem desforra por toda castração em outros setores da psique, no campo sexual. Entrementes, como qualquer outra zona da alma, o sexo também pede disciplina e equilíbrio, respeito e ética, sociabilidade e espírito de bonomia e bom senso, ou a vida em sociedade far-se-ia um caos, a instituição da família ruiria fragorosamente e relacionamentos sérios, assentados nos mais sagrados compromissos do espírito, bem como realizações grandiosas para a toda a coletividade e conquistas do espírito para a eternidade sofreriam colapso definitivo. Não por acaso até mesmo o pai da liberação sexual na cultura ocidental moderna – Sigmund Freud – fez alusão ao fato de que as maiores realizações do engenho humano e da civilização procediam da sublimação da libido.

Muitas vezes, elos sacrossantos no matrimônio e projetos longamente acalentados no correr de séculos desabam estrepitamente, em função de desejos menores da carne, que se consomem como fogos-fátuos: vã ilusão de mentes primárias, atadas a impulsos hedonistas, de gratificação momentânea, esquecidas de que as grandes bases da vida estão em valores duradouros, em padrões menos sujeitos à volatilidade dos impulsos fisiológicos, por mais brilhantemente se tente ocultá-los, por detrás de racionalizações pseudo-sábias de modernismo falso.

Alguém, assim, deve ser fiel ao seu cônjuge, não apenas ou porque ele mereça, mas porque deve agir assim. Ninguém trai outra pessoa – trai a si próprio, cavando a cova em que sepultará sua consciência, e, com ela, seus sonhos de paz e felicidade. Por outro lado, enquanto muitos fazem dieta com o intuito exclusivo de se manterem elegantes ou atraentes para quem menos interessa, geralmente pessoas que não as amam ou que as exporão a perigos sérios, na fuga a deveres assumidos, imprescindíveis à sua felicidade, deveriam fazê-lo tão-somente pelo impulso de preservar a saúde do corpo e sua estética harmônica, no sentido de não ferir o equilíbrio e a longevidade da máquina orgânica. Quem assim não age, antes se separasse do consorte ou se mantivesse obeso, até resolver questões íntimas essenciais, não solucionadas.

Algo mais a ser tido sobre o assunto?

Apenas lembrar que ser humano é também ser um híbrido transitório entre a condição animal e a angelical, de modo que cabe a cada um, respeitando o estágio evolutivo personalíssimo em que se encontre, favoreça a sua face-anjo, educando todos os ímpetos primais, em função da centelha divina que habita seu mundo interior, sua verdadeira identidade.

(Diálogo travado em 21 de janeiro de 2003.)